Correio da Cidadania

O algoritmo do facebook numa perspectiva qualitativa indiciária

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Recentemente, fiz um experimento no site de rede social facebook ao pedir que as pessoas que estivessem visualizando a postagem curtissem a mesma. Muito se faz de forma quantitativa na análise de redes sócias com gráficos coloridos, mas muito pouca análise qualitativa vem sendo produzida. O experimento que fiz pode ser tido como intuitivo, mas traz alguma luz para os usuários comuns da plataforma em questão. O que pode ser observado:

 

1. O algoritmo é restritivo em relação às postagens. Isso não é novidade. Mas qual o grau da restrição? Minha rede na plataforma facebook é relativamente grande: eram 2933 amizades e foram 681 curtidas após nove horas do experimento, ou seja, aproximadamente 23% das amizades. Evidentemente, não é tão simples quanto parece, tendo em vista que nem todo mundo atendeu ao pedido. Logo, as visualizações devem estar acima deste patamar de 23%, o que vai contra os dados que divulgam 10% de alcance de cada postagem não patrocinada.

 

2. O alcance das publicações não depende apenas da programação prévia do dito algoritmo. Isso também não é novidade. As interações entre perfis influenciam bastante na visualização da postagem, como bem salientou o perfil de Flávio Sereno Cardoso em um comentário da postagem.

 

3. A regra é que cada curtida e cada comentário efetuado aumentam a visualização dos posts. Novamente, não há qualquer novidade, pois quando eu comento um comentário a postagem “sobe” na timeline, aumentando a visualização e a possibilidade de mais curtidas e comentários.

 

4. Existem duas maneiras extremas de desempenhar performances no ambiente configurado pelo site de rede social facebook: de um lado, o stalker, aquele que só observa ou usa muito pouco, ou seja, desempenha interação baixa ou nula; de outro lado, overflow: uma inundação de postagens sequenciais. Esses dois extremos conseguem burlar o algoritmo (o primeiro, stalker; o segundo, aparentemente compulsivo).

 

Neste sentido, os comportamentos intermediários atendem ao propósito do programador do site de rede social, o estadunidense Mark Zuckerberg: vender publicidade automatizada para empresas e interessados em promover seus produtos e serviços para públicos altamente segmentados, o que é o caso de páginas e não de perfis pessoais, confirmando a tese pós-moderna de Hardt & Negri no visionário livro “O império”, lançado no ano de 2000. No entanto, para quem quer apenas visibilidade, postar de forma mais equilibrada, algo como comer a cada três horas, é o mais indicado.

 

5. Outra coisa: quem publica postagens com privacidade, ou seja, "para amigos" visualizarem, tem uma restrição maior do que quem publica "para público", mas parece que isso depende da composição da rede de cada um: a suspeita é que quanto mais interações na rede "para amigos", mais visíveis ficam as postagens. Outro fator é o tema relacionado com o contexto do momento.

 

Enfim, são inúmeros fatores que compõem a programação do algoritmo que nos controla e nos restringe a autonomia na plataforma facebook. Este é um artigo indiciário, ou seja, baseado em indícios, pistas e sinais, como salienta o historiador Carlo Ginzburg, que inspira visões que partem dos fragmentos para entender um determinado contexto em que se desempenham práticas. Trata-se de mera especulação intuitiva que pode ou não ser confirmado por pesquisas quantitativas sobre perfis pessoais, já que não investiguei páginas.

 

 

Marcelo Castañeda é sociólogo e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFRJ.

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