Apesar das críticas, mais drones no ar

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Luiz Eça
17/01/2013

Cresce nos EUA a oposição aos drones (aviões sem piloto), que, lançados contra suspeitos de terrorismo no Paquistão (principalmente), Afeganistão, Iêmen e Somália, matam também muitos civis que têm o azar de estar por perto.

 

Além dos progressistas, pacifistas, esquerdistas e defensores dos direitos humanos, em geral, diversas personalidades que trabalharam com Obama querem o fim dos voos da morte.

 

Michael Boyle, assessor de contra-terrorismo do grupo que redigiu o plano de governo do presidente na campanha de 2008, publicou um estudo sobre o assunto no Chatam House journal International Affairs.

 

Ele afirma que Obama, em questões de segurança, “...tem sido tão impiedoso e indiferente ao domínio da lei quanto seu antecessor... Enquanto o presidente Bush chamou (o país) às armas para defender a civilização contra a ameaça do terrorismo, o presidente Obama tem confundido as estatísticas de mortes de civis”, considerando como terroristas todos os homens adultos mortos pelos drones em zonas arbitrariamente definidas como “de combate”.

 

De fato, em entrevista à imprensa americana, Obama informou isso mesmo: para ele, paquistanês adulto morto em zona de combate é terrorista, a não ser que haja provas explícitas do contrário. O que é uma inversão do ônus da prova, já que as leis de qualquer país democrático dizem o contrário: todo homem é inocente a não ser que haja provas explícitas de sua culpa.

 

Em consequência do estranho princípio jurídico perfilhado por Obama, as mortes reais de civis por drones devem ser em número muito maior do que o anunciado.

 

É o que afirma o general Stanley McCrystal.

 

Trata-se de um personagem muito importante. Foi comandante do exército americano no Afeganistão, demitido por Obama depois de criticar e ridicularizar o governo em conversa com um jornalista.

 

Detalhe: suas observações não foram off the records, ele declarou não se incomodar se fossem divulgadas. McChrystal era (talvez ainda seja) muito valorizado pelo Pentágono.

 

Sobre a questão dos efeitos colaterais dos drones, que é como os militares chamam as mortes de civis, ele declarou: “Matamos um grande número de pessoas no Afeganistão, mas pelo que eu sei nenhuma jamais demonstrou ser uma ameaça”.

 

O general também quer que os drones não levantem mais voo. E tem lá suas razões. “O que me preocupa nos ataques de drones é como eles são avaliados em todo o mundo”.

 

De fato, pesquisa Pew em alguns países do Oriente Médio mostra que os drones são rejeitados por 69% das pessoas no Líbano, 85% na Jordânia, 79% na Tunísia, 85% no Egito e 81% na Turquia.

 

McCrystal falou mais a respeito deles. “O ressentimento criado pelo uso dos ataques de aviões sem piloto... Eles são odiados de modo visceral mesmo por pessoas que nunca viram os seus efeitos”.

 

Parece que é o que acontece. Muito por causa deles, o povo do Paquistão, principal alvo dos ataques dos aviões sem piloto, considera os EUA a principal ameaça contra o país, de acordo com pesquisa Gallup.

 

Nada menos de 69% dos habitantes do país pensam assim. Com a experiência do tempo em que comandou as forças estadunidenses no Afeganistão, McChrystal fez ainda uma duríssima crítica à alegada eficácia dos drones: “Para cada pessoa inocente que você mata, você cria dez novos inimigos”.

 

Por fim, vou citar as principais conclusões de uma pesquisa realizada no Paquistão pelas faculdades de Direito das Universidades de Stamford e de Nova Iorque.

 

Os pesquisadores realizaram mais de 130 entrevistas, durante nove meses. Descobriram que nos 345 ataques de drones, apenas 2% das vítimas eram comprovadamente milicianos talibãs de “alto nível”.

 

Outra conclusão importante: os ataques de drones não apenas matam inclusive civis inocentes como também traumatizam o povo.

 

De medo dos mísseis que caem do céu, as mães não deixam seus filhos saírem de casa para irem à escola, as pessoas não conversam em grupos.

 

Eles são talvez a grande causa do aumento do número de jovens que se alistam nos movimentos terroristas.

 

Estas e outras críticas que vêm de gente das mais variadas tendências não sensibilizam o presidente Obama.

 

Pelo contrário: 2013 está começando com uma revoada recorde das mortíferas armas aladas.

 

Somente nos primeiros dez dias do ano, foram lançados sete ataques no Waziristão, província paquistanesa onde os talibãs costumam refugiar-se.

 

Das 40 vítimas mortais, apenas uma foi identificada. Ou seja: entre as 39 restantes, talvez haja alguns ou até muitos inocentes.

 

Para os EUA não importa. Afinal, guerra é guerra, embora o Paquistão seja aliado e os camponeses da região atacada nada tenham de terroristas.

 

Autoridades estadunidenses têm confidenciado a repórteres que a multiplicação dos ataques de drones tem muito a ver com a retirada gradual dos exércitos da OTAN, que se completará em 2014.

 

Sabe-se que o governo Obama pretende deixar apenas uma pequena força para treinar e auxiliar o exército afegão a enfrentar o inimigo.

 

A ideia é matar o maior número possível de talibãs, especialmente combatentes graduados, para compensar o enfraquecimento das forças que defendem o governo central.

 

Por isso, em 2013 e 2014 devem ser incrementados ao máximo os ataques de drones contra talibãs, nos seus refúgios no Waziristão.

 

Claro, mais camponeses da região serão fatalmente abatidos, crescerá o antiamericanismo no Paquistão e as adesões à Al Qaeda e similares.

 

Como 2013 será ano de eleições paquistanesas, tudo isso irá pesar na balança. Atacar os EUA vai certamente render muitos votos a candidatos inconvenientes à política externa estadunidense.

 

Não se sabe se Obama achará que vale a pena continuar com esse sinistro plano que vai aterrorizar ainda mais os camponeses do Waziristão.

 

Luiz Eça é jornalista.

Website: Olhar o Mundo.

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