Blitz israelense contra a paz de Obama

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Luiz Eça
14/08/2009

 

Barack Obama passou sete meses defendendo a idéia de uma Palestina independente. Destacou sempre a necessidade de Israel congelar a expansão dos assentamentos como primeiro passo para iniciar negociações com os árabes. Por fim, acabou propondo um congelamento parcial de um ano - ou até de seis meses - sendo que, em troca, países árabes instalariam escritórios comerciais em Telaviv e permitiriam vôos da El Al sobre seus territórios nos trajetos para o Extremo Oriente.

 

Seria um acordo extremamente vantajoso para o governo de Telaviv. A instalação dos escritórios representaria um autêntico estabelecimento de relações comerciais com países árabes, que abriria um grande mercado para os produtos industrializados de Israel. Já os árabes ganhariam muito menos: além do petróleo, pouco têm a oferecer ao pequeno mercado israelense.

 

Podendo voar no espaço aéreo do mundo árabe, os aviões da El Al economizariam centenas – mesmo milhares – de quilômetros de distâncias a percorrer, reduzindo consideravelmente seus gastos com combustível.

 

A parte de Israel nesse acordo verdadeiramente leonino seria limitar-se a parar de praticar atos ilegais, condenados pela ONU – ou seja a fundação de novas colônias na Cisjordânia.

 

E assim mesmo por prazo limitado (6 meses ou 1 ano). Convém lembrar ainda que a interrupção destas expansões ilegais era ponto pacífico nas gestões de governos anteriores ao de Netanyahu (embora essa diretiva fosse freqüentemente violada).

 

Apesar de a proposta americana beneficiar claramente Israel, seus dirigentes reagiram negativamente. Para eles, era pouco.

 

Comentando os planos de expansão do assentamento E-1 , na Margem Oeste, o ministro do Interior Eli Yishai declarou que os Estados Unidos não poderiam impedir as obras pois "não há saída, para nossa segurança é crucial continuar a construção." Esse assentamento, se concluído, virá separar Jerusalém Oriental (preponderantemente árabe) da Cisjordânia, impossibilitando a existência de um futuro Estado palestino com terras contínuas.

 

Por sua vez, o Ministro das Relações Exteriores, Avigdor Lieberman, rejeitou as pretensões de independência dos palestinos. Quer negociações sim, mas com objetivos bastante limitados: "Nós precisamos preservar um diálogo com os palestinos sobre como melhorar sua segurança e sua situação econômica, mas isto é o máximo que pode se conseguir num futuro próximo."

 

Netanyahu, como primeiro-ministro, deu a palavra final, garantindo que jamais Israel se retiraria de um único assentamento. Justificou-se assim: "A retirada da Faixa de Gaza não nos trouxe nem paz, nem segurança." Um falso argumento, que a extrema-direita vem usando (com sucesso diante do público interno), pois na verdade quem começou o conflito foi o exército israelense, ao bloquear Gaza como retaliação à vitória eleitoral do Hamas.

 

A "blitz" completou-se com uma ação nos próprios Estados Unidos. Setemta senadores dos dois partidos enviaram uma carta a Obama cobrando ações pró Israel."Esperamos que o senhor continue a pressionar os líderes árabes a considerarem gestos dramáticos em relação a Israel semelhantes àqueles efetuados por corajosos líderes como o rei Hussein da Jordânia e Anuar Sadat, do Egito (eles estabeleceram relações diplomáticas com Telaviv)."

 

A carta dos senadores americanos também apela aos líderes árabes para que acabem com o boicote a Israel, desenvolvam relações econômicas com esse país, forneçam vistos aos cidadãos israelenses e convidem-nos a participar de eventos acadêmicos, profissionais e esportivos. Vão muito além do que Obama está propondo.

 

Aos líderes israelenses, os senadores americanos não pedem nenhuma concessão. Sequer tocam na questão da expansão dos assentamentos.

 

De toda a barragem contra a independência da Palestina, os tiros mais poderosos partiram dos senadores dos EUA. A explicação é simples.

 

No momento Obama encontra-se fragilizado. O povo americano mantinha grandes esperanças de que ele conseguisse rapidamente melhorar a situação econômica, o que não aconteceu. Frustrado, está abandonando o presidente, cuja popularidade cai mês a mês.

 

É fato que o apoio a Israel também está declinando. Pesquisa da Greenberg, Quinlan, Rosner Research mostra que, enquanto em setembro de 2008, 71% das pessoas achavam que os EUA deveriam apoiar Israel sempre, em junho deste ano eram apenas 44%.

 

No entanto, é duvidoso que a opinião pública venha a somar ao lado de um enfraquecido Obama contra as forças dos congressistas e dos poderosos "lobbies" pró-Israel , que tudo farão para impedir o presidente de assumir uma atitude mais agressiva diante do governo Netanyahu.

 

Enquanto Obama encontra obstáculos em seu país de difícil superação, o chefe do governo de Telaviv está fortalecido internamente. Um sintoma claro foi o resultado de recente pesquisa onde 66% dos judeus israelenses declararam-se favoráveis aos planos de expansão dos assentamentos em Jerusalém Oriental. O povo israelense, que antes admitia a tese dos dois Estados na Palestina, hoje é contra, convencido pela extrema-direita de que concessões aos árabes não trazem paz, mas somente novos atentados.

 

De tudo isso se conclui que a paz no Oriente Médio nunca esteve tão longe. Apesar das boas intenções do presidente americano, ele dispõe de poucos recursos para enfrentar adversários cada vez mais irredutíveis. É verdade que quase todos os países do mundo apóiam seus esforços para se encontrar uma solução justa para o problema da Palestina. Mas isso conta pouco em termos de política interna americana.

 

A Obama resta apenas a contemporização. Continuar sua pregação contra os assentamentos e pela Palestina independente, polemizando com os líderes israelenses, de olho nos públicos americano e judaico. Procurar convencer os movimentos árabes a esperar que suas medidas econômicas comecem a apresentar bons resultados. E que ele venha a recuperar o prestígio que está perdendo e a força necessária para poder agir com decisão.

 

É uma aposta contra o tempo. Até quando os líderes do Hamas e do Fatah conseguirão segurar seus exaltados e impedir novos ataques que só fortalecerão a extrema direita em Israel? Até quando o Mossad e o exército israelense esperarão para realizar mais um "assassínio seletivo" de alguém dito terrorista e assim provocar retaliações que porão tudo a perder?

 

Luiz Eça é jornalista.

 

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