Bernie Sanders ainda pode vencer

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Luiz Eça
03/06/2016

 

 

 

 

Na última média das principais pesquisas feita pelo Real Poll Posters, Donald Trump superou Hillary Clinton por 2%.

 

Enquanto isso, o outsider democrata Bernie Sanders vencia o bilionário republicano por margem folgada: 10,8%.

 

E Bernie não conta com recursos iguais aos da madame Clinton, nem com o apoio da maioria dos senadores, representantes, vereadores e burocratas do Partido Democrata em todos os EUA, que são por ela.

 

Ele se sai bem em outra pesquisa (Washington Post/ABC) que pesa muito na avaliação das preferências dos norte-americanos. Indica a diferença entre os que são a favor e os que são contra cada candidato.

 

Trump tem um resultado negativo de 17%; H. Clinton, negativo de 16%; e Sanders destoa: a diferença entre os que o apoiam e os que rejeitam é de 8% a favor do candidato socialista.

 

Por fim, foi ainda apurado que 65% dos estadunidenses não gostam de Trump, 56% sentem o mesmo por H. Clinton e apenas 36% não gostam de Bernie Sanders (provavelmente republicanos).

 

Os 700 superdelegados democratas tendentes a consagrar madame Clinton como candidata do partido em novembro deveriam refletir sobre essas pesquisas.

 

Lembrar que eles existem exatamente para garantir que o Partido Democrata tenha um candidato competitivo.

 

As pesquisas mostram que Bernie Sanders tem amplas chances de derrotar o bufão republicano.

 

Já Hillary ainda terá de vencer a relutância de 25% a 30% dos eleitores de Sanders que, conforme pesquisas, garantem que não votarão nela nem que seu candidato a apoie.

 

Dentre esses rebeldes, talvez o perigo maior esteja em Nova York, onde 40% dos adeptos do candidato socialista também juram que, mesmo que ele suplique, Hillary Clinton jamais.

 

Persistindo esse quadro, a vitória da candidata democrata corre perigo no estado de New York, que conta com muitos votos eleitorais, afastando-a da Casa Branca.

 

Aos maus números atuais, acresce o fato de que sua posição diante de Trump vem caindo mês a mês.

 

O HuffPolls Poster mostra que na pesquisa de 24 de junho de 2015 a democrata vencia o republicano por cerca de 20 pontos. Na pesquisa de 15 de abril deste ano, caíra para cerca de 10 pontos. Na primeira quinzena de maio, já era de apenas 1,6 ponto. Por fim, em 22 deste mês, Trump passou na frente, deixando-a 2 pontos atrás.

 

Madame Clinton parece ser um autêntico “cavalo paraguaio” (sem ofensa), ou seja, alguém que sai na frente e vai diminuindo a vantagem até ficar na rabeira.

 

Ela passou grande parte de seu tempo defendendo-se de acusações quanto à origem dos fundos de sua campanha (parte teria vindo da Arábia Saudita), suas ligações com Wall Street, seu entusiasmo por guerras, as aventuras sexuais do marido e, finalmente, a mais grave, que pode lhe render um processo criminal: o FBI está terminando suas investigações relativas ao uso do seu computador particular para troca de e-mails sobre questões do governo, quando ela era secretária de Estado.

 

Isso durante três meses, sem a proteção adequada, o que permitiria a hackers invadir à vontade para conhecer segredos de Estado que obviamente não devem cair nas mãos desses cidadãos pouco confiáveis.

 

Evidentemente, banco dos réus não é uma posição muito vantajosa para um candidato a presidente dos EUA.

 

Apesar de Sanders ser a opção mais forte, é um tanto difícil os caciques do Partido Democrata optarem por ele.

 

Em primeiro lugar, porque Sanders não é da turma, não fará a maioria das nomeações, concessões e recuos pedidos pelos dirigentes dos diretórios e parlamentares.

 

Um obstáculo sério são as posições de Bernie. Muito avançadas para um partido cada vez mais igual ao Partido Republicano em tudo e por tudo.

 

Finalmente, a sra. Clinton está mais de acordo com o perfil ideal do presidente desejado pelo partido: bem relacionada em Wall Street e com os grandes grupos empresariais, como os setores armamentistas, combustíveis e químico-farmacêutico, doadores de sua campanha.

 

Mesmo na eventualidade de ser rejeitado pela convenção democrática, Sanders não deve voltar para seu pequeno Vermont para se dedicar à pesca de salmão.

 

Acredita-se que ele apoiará madame Clinton, mas não se deve apostar tanto nisso. O que dirão os milhões de norte-americanos a quem ele deu esperanças de se criar um novo EUA justo e não dominado pelas grandes corporações?

 

Como irá pedir votos a sua colega de partido a quem atacou pela vocação belicosa, que votou a favor da invasão e ocupação do Iraque? Que foi uma das pessoas que convenceram Obama a entrar na fria da Líbia? Que junto ao então secretário da Defesa, Leon Panetta, defendeu o bombardeio de Damasco antes da comissão da ONU descobrir quem fora o culpado pelo lançamento de bombas químicas? Que declarou apoio incondicional a Israel e criticou Trump por se declarar imparcial num problema entre os dois países? Que recebeu tortuosos fees pagos pelo Goldman Sachs e outros grandes bancos?

 

Não será esquecido o deboche de H. Clinton aos planos de Sanders de universidades gratuitas e de assistência médica universal, inclusive aos imigrantes ilegais, hoje fora do Obamacare.

 

E como seus adeptos irão aceitar a candidata preferida pelos irmãos Koch, sinistra dupla, o maior conglomerado de empresas de propriedade familiar dos EUA? Mais danosos aos EUA do que outros famosos irmãos, Jesse e Frank James (assaltantes no faroeste), não só apoiando com muito dinheiro as causas mais reacionárias como também organizando reuniões periódicas com políticos e outros grandes tubarões para planejar novas formas de beneficiar seus iguais e atormentar os 99%?

 

Porque esses homens resolveram colocar fundos na campanha de Hillary Clinton?

 

Se Sanders a apoiar, vai ser difícil responder tais perguntas. Corre grandes riscos de os milhões de norte-americanos que veem nele uma esperança de mudança no establishment desanimarem.

 

E lá se vai mais uma “revolução política”... Há quem diga que Sanders planeja deter esse provável êxodo, mesmo apoiando madame Clinton.

 

Ele tentaria mudar a plataforma democrata na Convenção de Filadélfia. Até já parece ter começado, pois exigiu e conseguiu que cinco dos 15 organizadores da Convenção fossem do seu grupo.

 

Além disso, declarou que exigirá mudanças, como tornar prioridade democrata defender os direitos dos palestinos e dobrar o salário-mínimo atual.

 

Espera-se que ele consiga que a convenção democrata de Filadélfia aprove muitas das novas ideias de sua campanha que entusiasmaram seus seguidores.

 

Suas vitórias em muitas das prévias eleitorais e os resultados das pesquisas garantem influência necessária para impor a maioria de suas convicções.

 

Os números não mentem. Se, de acordo com as pesquisas, mesmo com seu apoio a vitória de Hillary será problemática, sem ele as chances democratas se reduzirão ainda mais.

 

Uma possível rejeição das ideias de Sanders pela Convenção democrata será o pior cenário para a sra. Clinton.

 

O candidato socialista se verá obrigado a sair da campanha e poderá até mesmo candidatar-se pelo Partido Verde.

 

A provável candidata a presidente dos verdes, a dra. Jill Stein, e Kawana Sawant, o popular prefeito socialista de Seattle, enviaram cartas a Sanders propondo sua candidatura pelo Partido Verde.

 

Ele respondeu que não quer fazer como o defensor dos consumidores, Ralph Nader, cuja candidatura a presidente roubou votos que iriam para o democrata Al Gore, dando a vitória a George W. Bush. Na verdade, não foi bem assim.


Al Gore teria vencido se a Suprema Corte, por 5 x4, não interrompesse a contagem de votos na Florida, o que deu a vitória nacional a Bush.

 

A apuração vinha dando vantagem crescente a Al Gore. Se ela fosse até o fim da apuração, incluindo os votos ilegalmente anulados, Gore venceria. Ganhando os votos eleitorais da Florida, seria o presidente dos EUA.

 

É possível que os conselheiros de Bernie o convençam a candidatar-se pelos verdes, apesar da resistência dele.

 

Seria uma candidatura bem viável, baseada nos resultados altamente favoráveis das pesquisas.

 

É verdade que Sanders não tem a organização eficiente em cada estado que os candidatos atuais têm. E seus fundos de campanha seriam bem mais escassos.

 

Apesar desses aspectos negativos, não estaria de modo algum fora do páreo.

 

O povo está cansado de viver em guerras desde 2001, de ter sua democracia corrompida pela hegemonia do poder econômico sobre a política nacional, dos descontroles financeiros que causaram a grande crise recente e das políticas ineficazes dos dois partidos que dominam o cenário há muitos anos.

 

Anseiam por um presidente que tire os EUA das guerras que matam seus filhos e custam bilhões, até mesmo trilhões. Só a do Afeganistão já chegou a quase um trilhão.

 

Que acabe com a influência desmedida dos lobbies das grandes das corporações sobre as decisões da Casa Branca.

 

Que privilegie os interesses dos 99% mais pobres, não mais dos 1% mais ricos.

 

Que se sintam, por fim, representados no Congresso e na Casa Branca.

 

Bernie Sanders pode ser quem atenderá a seus anseios. É a chance dos norte-americanos que ainda acreditam que o governo do povo é possível.

 

 

Luiz Eça é jornalista.

Website: Olhar o Mundo.

 

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