Lula locuta, causa soluta

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Léo Lince
29/07/2009

 

O senador Aluízio Mercadante, coitado, expõe em público feições marcadas por dores de dificultoso dilaceramento. Na condição de líder formal da bancada petista no Senado, se viu obrigado pelas circunstâncias – o crescimento em bola de neve do escândalo Sarney - a assinar uma nota onde se faz suaves restrições ao comportamento do aliado e, ato contínuo, foi desautorizado de maneira categórica pelo palácio do Planalto.

 

O porta-voz oficial do governo, o ministro José Múcio, insinuou tratar-se de uma fraude, opinião de um ou outro senador. O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini, e o líder do partido na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza, criticaram duramente a nota. Tratado como moleque, o senador ainda não renunciou ao cargo de líder nem reafirmou os termos da nota coletiva. Habituado a transitar entre o "petismo" e o "lulismo", ele sabe reconhecer a voz do dono, mesmo quando veiculada por interpostas figuras. Por isso mesmo, tudo indica, vai botar o galho dentro. Interpelado sobre o assunto, Mercadante fará, como tem feito, cara de paisagem e ouvidos de mercador.

 

Pragmático do poder e empirista radical, o presidente Lula não perdoa. Não por acaso chamado de "pai patrão" pelos que analisam sua relação com o PT, ele tende a ser cada vez mais cruel com os que lhe prestam serviços no "petismo". O "petismo" e o "lulismo" brotaram juntos e, até um determinado ponto da história política recente, cresceram entrelaçados. Hoje, principalmente depois da chegada do partido ao governo central, o florescimento do "lulismo" se faz à custa da morte lenta, gradual, porém segura, da saga do Partido dos Trabalhadores na política brasileira.

 

Para desgosto do saudoso Carlito Maia, autor de súmulas geniais da fase heróica de afirmação do petismo, o partido se tornou mais um "grandalhão indolente". Nitidez programática, base militante inserida nos movimentos da sociedade, direções colegiadas e bancadas combativas, entre tantas outras virtudes, são coisas que não existem mais. Acabou, é página virada, retrato na parede. Agora vige o "lulismo" com sua pragmática eleitoral, que patrocina o peleguismo social e opera bancadas que se mobilizam para salvar oligarcas de quatro costados.

 

Entre os crimes do "lulismo" contra o "petismo", os mais graves se articulam como verso e reverso de uma mesma moeda: a desmobilização dos movimentos da mudança e a revitalização das oligarquias regionais. O caso em pauta, com a espantosa exposição dos tentáculos do esquema Sarney, é prova provada do descalabro a que chegamos. Ao funcionar como principal bastião de defesa do oligarca desnudo, o PT reafirma a sua nova natureza e exibe as feições de uma portentosa ruína. Direções, bancadas, estatutos, programas, sob a primazia absoluta do "lulismo", operam na lógica não escrita do jogo pesado: "Lula locuta, causa soluta".

 

Léo Lince é sociólogo.

 

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