Mais do mesmo no Rio

0
0
0
s2sdefault
Léo Lince
23/10/2008

 

O segundo turno da eleição no Rio de Janeiro será decidido no olho mecânico. E o patamar de empate entre os candidatos em disputa não se limita aos números da pesquisa. Vai além. Os programas, ancorados nas tecnicalidades de praxe, também são, não por acaso, similares. Resultam de uma alma comum que habita o cerne das duas campanhas: os candidatos, cada qual com seu estilo, são entusiastas do consenso conservador que nos domina.

 

Eduardo Paes é conservador de nascença. Foi projetado para a política nas provetas do PFL, na máquina municipal do César Maia. Cresceu ninado na máquina estadual tucana, com Marcelo Alencar. Na eleição anterior, foi candidato a governador pelo PSDB e ocupava lugar de destaque na direção nacional do partido até saltar, para ser candidato a prefeito, para o trampolim da máquina do PMDB do Cabral. Muda de partido como quem muda de camisa. Nunca operou a partir da sociedade e dos seus movimentos, pois entende a política como emanação das máquinas governamentais. Ambicioso, sempre se postou como marionete sorridente no jogo dos tutores do poder. Embora jovem, já é um quadro escolado nas regras dominantes.

 

Fernando Gabeira é um convertido. A partir de uma forte militância individual no plano da cultura, ele se lançou na disputa institucional, onde já foi candidato a governador e a presidente da República. Sempre portando bandeiras inovadoras - ecologia, reforma da legislação sobre drogas, livre manifestação das diferenças sexuais –, entre outras atitudes não conservadoras. Até o quarto mandato, foi um deputado temático e de pouco voto. Depois do panfleto luxuoso da revista Veja, que o apresentava como o líder moderno de uma esquerda que não contesta o sistema, mas faz propostas positivas para o seu aperfeiçoamento, ele migrou para outra sina. Mergulhou com armas e bagagens no pragmatismo da geléia geral dominante. Ex-guerrilheiro, ex-esquerda, ex-libertário, ele renega seu passado com a ousadia do cristão novo. Foi dele, entre todos os candidatos da disputa, o discurso mais abertamente conservador. Embora idoso, ele conserva o faro para a última moda e a disposição própria do surfista de ondas gigantes.

 

Como pólos de uma disputa no interior do consenso conservador, os dois candidatos são prisioneiros da essência comum que alimenta o cerne de suas campanhas. Daí a similitude nos programas, que se espraia para os demais quesitos da disputa. O diminuto e poderoso grupo de financiadores privados de campanha - banqueiros, empreiteiras de obras públicas, barões da privatização, especuladores imobiliários – distribuiu seus ovinhos nas duas cestas. A política da truculência (o fisiologismo que privatiza o público nos famosos "centros sociais", a malha de cumplicidade das máquinas eleitorais com as atividades ilícitas, milicianos e varejo da droga) marca sua presença na base das duas coligações em disputa. Pode até haver uma diferença de número e grau, mas prevalece nas duas campanhas, como imperativo categórico, a aceitação tácita do gênero.

 

O carioca vai votar no domingo e resolver o patamar de empate generalizado entre os pólos em disputa. A diferença mais visível entre os dois candidatos, segundo o que se propaga nos meios de comunicação, é o estilo. Enrustido ou assumido, o entusiasmo pelo consenso conservador é a marca essencial das duas candidaturas. Ainda não se sabe, ao certo, o que vai dar. Mas está assegurado de antemão que, com tal ou qual estilo, teremos mais do mesmo.

 

Léo Lince é sociólogo.

 

{moscomment}

0
0
0
s2sdefault