Formação e manipulação de expectativas econômicas e políticas na atualidade

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Guilherme C. Delgado
10/06/2014

 

 

Estado de confiança e as expectativas em relação ao futuro imediato ou de longo prazo são conceitos essenciais à compreensão do movimento do mundo dos negócios. Ciclos de expansão e contração longos da atividade econômica, assim como movimentos conjunturais de euforia ou pessimismo do mundo empresarial em relação à dinâmica dos mercados, provocam, na prática, mudanças importantes na produção e no emprego, de sentidos opostos.

 

Esses conceitos, trazidos ao centro da teoria econômica pela “Teoria Geral” de Keynes, são construções teóricas de raiz teológico-filosófica, ligados à crença e à esperança, que a economia moderna adotou sem maiores indagações de significado e sentido, deixando um certo ar de mistério. Isto porque não é propósito da “Teoria Geral” explicar como se produzem os “estados de confiança” conectados a um dado movimento de expectativas em relação ao futuro dos fluxos econômicos, ambiente em torno do qual o “espírito animal” dos empresários se sente animado ou desanimado para expandir ou contrair a atividade econômica e o emprego. Mas é tão importante a crença do empresário sobre o rumo futuro da economia, vencida a incerteza, que é a partir dela que tomará decisões de agir (investir), na expectativa de obter resultados favoráveis, sempre no estrito sentido utilitário, que é a “ética” compulsória do mundo dos negócios.

 

Por outro lado, a manipulação das expectativas empresariais, seja com campanhas muito bem orquestradas de “marketing” para vender a ideia-força do “boom” econômico, ou o seu inverso, operações ao estilo “banda de música” midiática, para criar ambiente de pessimismo econômico, tendo em vista destruir determinados arranjos de política econômica, não são eficazes, no primeiro caso, para criar um estado de confiança favorável, e tampouco o são no segundo para autonomamente deprimir o sistema econômico. Mas a engenharia da “banda de música” do pessimismo, se não é eficaz para criar uma dura incerteza econômica no mundo dos negócios, o é para acentuar tendências niilistas no ambiente social e político, que fatalmente contaminam o ambiente econômico.

 

Aparentemente, a “banda de música” midiática, orquestrada em sucessivas matérias de cadernos econômicos dos jornais e revistas de circulação nacional, repercutidas nas principais redes de TV e rádio, teria, depois de mais de um ano de campanha, derrubado a estratégia de crescimento brasileiro, desenhada para expandir o Produto Interno Bruto em patamar nunca inferior aos 3% no ano da Copa do Mundo e da eleição presidencial. Conquanto a tendência do crescimento fraco deste ano esteja se configurando pelos dados do primeiro semestre, não me parece que a causa eficaz seja a das campanhas de mídia.

 

Há evidente perda de fôlego do desenvolvimentismo, puxado pelos setores primário-exportadores, com certa distribuição de renda propiciada pela política social, forjada nos dois mandatos de Lula e continuada na gestão Dilma. Mas, ao mesmo tempo, o sistema político reage fortemente a quaisquer veleidades de continuação do experimento distributivo. E por sua vez o setor externo não está mais aberto à continuidade da expansão das “commodities”, como esteve na primeira década.

 

Diante desse quadro de certa reversão cíclica, o sistema de economia política dominante, pela voz das três candidaturas à eleição presidencial – Dilma, Aécio e Eduardo Campos –, muito pouco se diferencia relativamente às estratégias de futuro. Reformas estruturais, ao estilo reforma agrária, tributária e urbana, estão interditadas nas agendas desses candidatos e ao mesmo tempo não há espaço para repetir o percurso da década anterior.

 

A tentação de manipular sistematicamente, seja pela oposição midiática (verdadeiro partido político), seja pelo campo oficial, agora com seu “participacionismo social de fachada”, tende a elevar o grau de incerteza geral e de certa irresponsabilidade social. E este caldo de cultura precisa ser revertido, porque não é bom parteiro da história.

 

 

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Guilherme Costa Delgado é doutor em economia pela UNICAMP e consultor da Comissão Brasileira de Justiça e Paz.

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