Correio da Cidadania

A multiplicação dos celulares

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Telefone celular deixou de ser novidade. Deixou de ser luxo. Deixou de ser sonho. Virou objeto corriqueiro, que vive de boca em boca, de orelha em orelha. Tornou-se artigo de primeira necessidade, instrumento de trabalho imprescindível e barato, espaço social concentrado na palma da mão.

 

Normal (talvez apenas comum...) ver todo tipo de gente andando pelas ruas e falando com o além... Ou com alguém. Todos recebendo informações e tomando decisões e trocando idéias e falando, falando. Ou marcando encontros. Ou discutindo seriamente os destinos da nação. Tecnômades do século XXI. Gente pobre e gente rica. Celulares pululando Brasil afora, mundo afora.

 

Mas não se fica por aí, como quem tivesse um relógio de pulso e o fato de saber as horas o satisfizesse. Comunicação é outra história. Há pessoas com dois celulares. Um para os contatos profissionais, outro para falar com a família e os amigos. Conheço chefe de empresa que dá de presente ao funcionário de confiança um celular para contato exclusivo. E o celular, linha direta com o dever, pode tocar música animada em pleno domingo à tarde.

 

E há os que carregam três celulares, pessoas importantíssimas, o dia inteiro procuradas por todos. Um ilustre comentador de TV declarou, faz alguns meses, sem nenhum pudor, que possui três! Três oportunidades de ouvir e ser ouvido. Conversas nacionais, internacionais e siderais.

 

Haverá alguém com quatro celulares? Não duvido. Um celular para falar com os de sempre. Outro para falar com os novos. Outro para falar com os estranhos. Outro para falar com pouquíssimos seletos, seres privilegiados...

 

E cinco? Cinco celulares, um para cada dia da semana laboral. O celular da segunda, para marcar reuniões. O da terça, para cancelá-las. O da quarta, para discussões. O da quinta, para reconciliações. O da sexta, para planejar a semana que vem.

 

Quem dá mais?! No meio da multidão, um homem levanta os braços, grita, alega ter seis celulares. Com um deles, o mais sofisticado, mantém longas conversas com o próprio Deus, ligação caríssima, mas vale a pena. Para que lançar mão da oração gratuita se é possível ter certeza de que o Interlocutor está realmente nos ouvindo e respondendo?

 

Tenho um celular só, modelo simples, instrumento necessário na Idade Mídia. Mas se alguém quiser me dar de presente um segundo bichinho desses... Obrigado, um já é demais.

 

Gabriel Perissé é doutor em Educação pela USP e escritor.

 

Web Site: http://www.perisse.com.br/

 

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