Sugestões gratuitas

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Gabriel Perissé
24/01/2008

 

Não vou cobrar por essas sugestões. Talvez sejam menos originais do que eu gostaria que fossem. Mas, como não custam nada...

Uma editora poderia criar uma coleção intitulada “Filmes para ver”. Nessa coleção, livros como “Filmes para professor ver”, “Filmes para escritor ver”, “Filmes para médico ver”, “Filmes para político ver” etc.

No possível livro “Filmes para professor ver”, eu incluo Miss Potter (2006). A criação transborda os limites do papel. Os personagens existem demais. É uma história de amor/dor. O final feliz é a terrível possibilidade... A eucatástrofe, como dizia Tolkien. De certo modo, ela, a autora retratada no filme, é a avó de Harry Potter. Nada é gratuito. Recomendo.

Outra sugestão que dou de bandeja. Que as livrarias tivessem, não apenas atendentes, mas consultores de leitura. Que o leitor chegasse, se sentasse diante do consultor. E contasse o que tem lido. Uma anamnese. Como se fosse uma consulta médica.

O consultor de leitura escreve a “receita”. Com letra legível. No balcão, o leitor recebe o “remédio”. Cem anos de solidão uma vez por dia. Sidarta antes de dormir. Uma dose reforçada de poesia toda segunda-feira. O leitor voltará daqui a 15 dias. Para ver como está o batimento cardíaco, ver se a pressão subiu ou não, se o humor esquentou ou esfriou, ver o funcionamento das idéias, o nível de sensibilidade, verificar a flexibilidade, a agudeza, o senso crítico, a lucidez.

Mais sugestões, de graça. São centenas de sugestões que eu dou antes de morrer.

O livro-dinheiro. Uma economia baseada no livro. Posso comprar coisas usando livros. Livros não valem ouro? Ou até mais? Criar um bairro residencial, com comércio próprio, atividades etc., em que o dinheiro circulante são livros. Com um livro de poemas de Adélia Prado posso pagar o almoço. O restaurante compra com este livro a carne do açougue. O dono do açougue paga o funcionário com este livro. Com este mesmíssimo livro o funcionário do açougue vai e compra uma camisa nova.

As livrarias tornam-se bancos. A casa dessa moeda é a editora. Todo mundo pode produzir dinheiro, se escrever um bom livro. Os mais ricos serão os que tiverem as bibliotecas mais repletas. Em lugar de colocar o rosto de escritores nas notas de dinheiro... os livros mesmos nos dão poder de compra. E um dinheiro que até pode ser lido!

 

Gabriel Perissé é doutor em Educação pela USP e escritor.

 

Web Site: www.perisse.com.br

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