Correio da Cidadania

Copa da África desmente promessas de desenvolvimento e escancara apartheid intacto

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Começou na última sexta-feira a 19º. Copa do Mundo, a primeira realizada na África, no país tido como o mais desenvolvido do continente, a África do Sul. Oportunidade única para levar o melhor do esporte mais popular de todos a localidades carentes de grandes torneios em seus cenários nacionais, como é o caso da sede de 2010.

 

Porém, em um país que ainda se encontra longe de dirimir as diferenças do passado, a Copa acabou se transformando em uma excelente oportunidade de mostrar ao mundo como seguem latentes as tensões entre ricos e pobres, que ainda devem ser lidas como entre brancos e negros.

 

Para os brasileiros, é uma ocasião ainda mais importante para que possamos observar o que está por vir com a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016. A forma como os preparativos foram feitos por lá em muito se assemelha com as tendências que vemos se desenhar cá.

 

Qualquer semelhança não será mera coincidência...

 

"Os despejos se multiplicaram nos últimos anos, em parte pelo aumento do preço da terra e em parte porque a prefeitura da Cidade do Cabo não nos quer tão perto do centro, onde os turistas podem nos ver", conta Gayika Tshawe, dirigente comunitário do Joe Slovo, terreno que une alguns dos milhares de excluídos da festa da nação arco-íris, em matéria de Joan Canela i Barrull, no catalão El Periodico.

 

Com a organização do Mundial tendo custado cerca de 8 bilhões de reais, integralmente bancados pelo governo, já ficava claro antes do apito inicial que as promessas de melhorias de vida para a população eram cortina de fumaça. Sem esse argumento, é impossível convencer um povo repleto de carências a apoiar tal empreitada.

 

No período de obras, atrasadas por diversos motivos estruturais, incontáveis greves dos operários que labutavam pela Copa (e por suas famílias, claro) foram registradas, a mais famosa dela a dos que construíam o palco principal. Mesmo trabalhando para um evento bilionário, a reclamação era sobretudo a respeito dos baixos salários. E muitas outras paralisações ficaram só na ameaça por terem sido contornadas pelo Comitê Organizador e governo.

 

A Copa chegou e nada mudou. Dezenas de milhares de pessoas foram desalojadas para áreas muito mais distantes dos centros. Em Johanesburgo, para a construção do Soccer City, o maior estádio do Mundial, toda uma comunidade foi expulsa de seu terreno e realocada para cerca de 35 quilômetros dali, para uma precaríssima favela com barracos de zinco. Isso porque a capital do país já possuía dois outros estádios de grande porte.

 

"A Copa do Mundo fez a vida dos pobres ainda mais difícil. Muitas pessoas foram desalojadas para a construção de novos estádios. As pessoas não foram tiradas dos barracos para serem levadas a uma casa. Levaram-nas para outros barracos, sem luz, água, nada", revela Therbani Ngonfoma, do Abahlali baseMjondolo (AbM), movimento que reúne cidadãos prejudicados pela Copa fundado em Durban, em 2005.

 

A FIFA que poucos conhecem

 

E se os africanos esperavam ao menos desfrutar a parte lúdica do evento, também se decepcionaram fortemente. A poucos meses da abertura, a FIFA anunciou que havia um encalhe de cerca de 800 mil ingressos, reclamando abertamente da falta de adesão do povo local ao Mundial. No entanto, ao analisarmos os fatos, veremos que foi a própria senhora do futebol quem propiciou este revés.

 

Primeiramente, ignorou-se a realidade econômica do país sede, com os ingressos sendo postos à venda somente por internet, com cartão de crédito e a preços similares aos da Alemanha-2006, fatores de exclusão imediata de uma infinidade de fãs. De quebra, para os estrangeiros, já atemorizados com as inúmeras notícias da violência das cidades sul-africanas, a intermediação das vendas era obrigatoriamente feita pela Match, agência oficial da FIFA, que tem como sócio Philip Blatter, sobrinho do ilustríssimo Joseph, presidente da entidade e sucessor de João Havelange, unanimemente considerado o homem que injetou o futebol-negócio em nossas veias.

 

E a incompetência (e avareza) da empresa apadrinhada por tio Blatter contribuiu de forma magnífica para que as previsões de 500 mil turistas no país caíssem pela metade. Por conta das imposições que a FIFA faz a toda sede, 80% dos quartos dos hotéis mais estrelados ficam reservados, e não tem conversa, para a Match. Sabendo-se dona do pedaço, a agência cobrou ágios de até 30% na hospedagem dentro dos pacotes de viagem. Assim, muitos torcedores resolveram assistir aos jogos de casa. E a rede hoteleira sul-africana ficou na mão.

 

Mas como toda boa famiglia, os laços sangüíneos tornam as relações inabaláveis. Philipinho Blatter também é dono da empresa que detém a prerrogativa de negociar os direitos de transmissão da Copa em nome da FIFA. Fora que sua consultoria para ajudar na organização de perfumarias da entidade lhe rendeu US$ 7 milhões em honorários.

 

Cabe perguntar por que as emissoras de TV interessadas em transmitir a Copa não podem ir à sede da federação em Zurique e sentar pra negociar diretamente com sua diretoria e departamentos comercial e jurídico. Cabe também questionar por que a intermediadora tem sede no mesmo local (Zug, na Suíça) da ISL, a antiga representante comercial da FIFA, cuja falência a justiça suíça comprovou ser uma fraude após seis sócios confessarem desvios de 96 milhões de dólares. Tais indagações podem ser feitas por qualquer um que leia ‘As contas erradas da FIFA’, no Le Monde brasileiro deste mês de junho.

 

Estádios revelam as contradições

 

Com o fiasco à vista, a entidade máxima do futebol anunciou que uma vasta quantidade de entradas seria vendida com preços especiais, isto é, acessíveis, exclusivamente para os cidadãos sul-africanos. Porém, a baderna imperou nas bilheterias e muita gente ficou sem conseguir seu bilhete. Além do mais, para a imensa comunidade nigeriana no país, a idéia não serviu para que pudessem prestigiar sua seleção na estréia contra os argentinos, que, mesmo vindo do outro lado do terceiro mundo, tinham mais apoiadores no estádio.

 

Quando enfim chegou o esperado 11 de junho, as contradições do país voltaram à tona. Enquanto a seleção da casa entrava em campo com seus atletas entoando a Shosholoza, histórico canto dos mineiros negros da época da segregação, uma platéia predominantemente branca tomava conta dos 88 mil assentos do novíssimo Soccer City. Era inacreditável, pois além de serem ampla maioria da população, o mundo inteiro sabe que, no país de Mandela, os brancos gostam de rugby e críquete, heranças coloniais, ao passo que os negros dedicam seu amor esportivo ao futebol de forma unânime.

 

Na seqüência das partidas, nós, telespectadores, continuamos a nos surpreender. A grande maioria dos jogos tinha um vazio que variava de 20% a 30% da capacidade das modernas e festejadas arenas. E que fique claro que, mesmo com as injustiças gritantes do país, os fãs locais do esporte bretão apreciam a Copa por lá. Na antevéspera da estréia dos Bafana Bafana, cerca de 200 mil pessoas entupiram o nobilíssimo bairro de Sandton, reduto da alva elite sul-africana, com apartamentos avaliados em 5 milhões de dólares. Com a estátua de Mandela ao centro da multidão, foi uma das poucas vezes que o distrito se tingiu com as cores da casa.

 

Uma Copa do Apartheid

 

Muitos sul-africanos não escondem a decepção com a vida pós-apartheid, especialmente a desilusão com o Congresso Nacional Africano, partido que representava os negros nas negociações pelo fim do regime racista e que repetiu um processo de encantamento e encastelamento no poder que conhecemos perfeitamente por aqui. "O CNA não cumpriu suas promessas, fazendo agora um apartheid entre ricos e pobres", sentencia Therbani, em entrevista a Gloria Ramírez, da revista eletrônica Desinformémonos.

 

A cruel e definitiva prova de que a Copa do Mundo não foi feita para o povo africano está sendo dada no andamento da competição. Em Durban, dia 13, centenas de pessoas que se alistaram como prestadoras de serviço na Copa ficaram sem receber o valor combinado pelas mais de 12 horas trabalhadas no jogo Alemanha e Austrália. Foram reprimidas violentamente pela polícia e, mais de uma dezena, presas. "Temos família e trabalhamos o dia todo. Você acha isso justo?!", indignou-se uma revoltada trabalhadora da Copa diante de meio mundo de câmeras.

 

No Internacional Broadcasting Center (IBC), QG da mídia no torneio e localizado na capital, todos os prestadores de serviço abandonaram seus postos neste dia 16 por verem a cor de somente metade dos 50 dólares diários combinados. Por ora, sabe-se lá até quando, é a própria polícia quem cuida da circulação de pessoas e demais tarefas que cabiam àqueles que ajudavam a organizar a Copa.

 

De volta para o futuro

 

Diante de todas as mazelas provocadas e/ou mantidas com o mundial sul-africano, podemos preparar melhor nossos anticorpos para os grandes eventos que se realizarão no Brasil. Desapropriações forçadas já estão sendo tentadas em áreas pobres e potencialmente rentáveis e a truculência do conluio governos/iniciativa privada já se faz sentir em diversas frentes.

 

Além das incontáveis licitações que serão esquecidas ‘em nome da urgência’, projetos como o de revitalização da zona portuária do Rio de Janeiro estão ameaçados pelo senso de oportunidade de Eike Baptista, aquele que triplicou sua fortuna sem triplicar a produção de seus empreendimentos em mágicos 12 meses. Fora que já está sendo articulado o assalto aos aeroportos (rentáveis) pelos privatistas.

 

"Parte da crise da Grécia é explicada pelos gastos extraordinários provocados pelas Olimpíadas de Atenas, em 2004. Em sociedades com frágil institucionalidade, megaprojetos são fértil campo de práticas de corrupção e da incompetência. Há alta probabilidade de que o Brasil cometa os mesmos erros dos gregos (endividamento interno e, principalmente, externo) que quebrarão as finanças públicas e o sistema financeiro brasileiro no pós 2014-16", disse o economista Reinaldo Gonçalves em entrevista ao Portal IHU Online, em maio.   

 

Aliás, quem acompanha a renhida briga de bastidores sobre o estádio paulista da Copa de 2014 pode compreender a motivação da exclusão do Morumbi em favor de uma nova arena na cidade, no bairro de Pirituba, e fazer o paralelo com a Copa 2010. Por R$ 460 milhões, o governo sul-africano queria levantar o Athlone Stadium, na parte mais pobre da Cidade do Cabo. Poderosa, a FIFA conseguiu impor o Green Point, na já abastada, estruturada e turística orla local. Como informou a Folha de S. Paulo, o capricho adicionou R$ 540 milhões na conta do governo Jacob Zuma. Já o Soccer City cairá no colo da iniciativa privada pelos próximos 10 anos, depois de o governo local ter gasto 800 milhões de reais para erguê-lo - outra fortíssima tradição brasileira.

 

De acordo com o professor de Economia da Universidade de Kwa Zulu Natal, Patrick Bond, os projetos dos eventos esportivos que mais mobilizam a humanidade aproveitam-se do relaxamento e desinformação de seus majoritariamente humildes apreciadores para reproduzir um modelo de vida que provou não ser frutífero, quanto menos provido de alguma justiça. "O problema é que se hipotecou grande parte do orçamento público em infra-estruturas que reforçam o modelo de desenvolvimento neoliberal, em vez de se concentrarem em uma aposta social e sustentável", declarou a Joan Barrul.

 

Os engravatados que se encarregam de organizar a festa mais assistida do mundo sabem perfeitamente disso. E, apesar de nunca terem chutado uma bola, já são os maiores ganhadores do Mundial. Só falta bordarem uma estrela no peito.

 

Gabriel Brito é jornalista.

 

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Comentários   

0 #5 Um Olhar Políitico Sobre a Copa do MundoRaymundo Araujo Filho 28-06-2010 14:49
A Geopolítica do Espetáculo de Apresentação da Copa da África do Sul

Não me furto de acompanhar os meios de comunicação e mídia, como um cidadão qualquer em busca de algum entreterimento e informações, com as devidas leituras de subtexto, é lógico, ou então mera diversão acrítica.

Assim, lá estava eu, em frente à TV, para assistir o espetáculo de abertura da Copa do Mundo de Futebol de 2010, a Copa da África do Sul, como ela é anunciada, mas desconfiando eu, que não é exatamente “da África ou da África do Sul”, esta Copa, mas de países mais ao Norte, acima da linha do Equador, ao menos nos resultados políticos e econômicos a serem obtidos.

Uma coisa já me intrigava sobre as atrações internacionais anunciadas para o show (em relação à África do Sul) sendo a principal, uma cantora colombiana de grande sucesso, a Shakira que , em um rasgo de criatividade “desinteressada”, compôs uma música para a Copa do Mundo, que “comoveu” o presidente da Fifa, Joseph Blater, que a promoveu a atração principal da Abertura da Copa.Tudo pelas fortes emoções! Mas ainda assim, achava pouco esta escolha de uma colombiana, para tal representatividade artística no evento de magnitude mundial.

Mas, ao ver na íntegra a apresentação da Abertura da Copa, logo fui surpreendido por outra atração de grande destaque no espetáculo, um outro cantor e músico......... colombiano, com certa projeção no negócio do entreterimento artístico. Mas, embora portador de boa projeção no cenário musical internacional, para meu gosto, foi bem chato (o que muitos acham da Shakira também...) de assistir. Mas também reservou outra surpresa, ao chamar ao palco um cantor......... mexicano, também com projeção o mercado de música chamada latino americana mas, para meu gosto, também muito chato.

Além destes três artistas egressos de países de colonização espanhola, um com grande ocorrência de escravos negros em sua história(Colômbia), e outro em que os negros não tiveram grande relevância (México), houve a apresentação de um excelente grupo de Tuaregues de Bali, cujo pai do líder do grupo, foi um Revolucionário anti colonialista, assassinado na guerra de libertação do país, em clara mensagem contra a Política Colonial Européia “oficial”, no continente africano, até os idos do sec. XX.

Mas, continuava o enigma das escolhas, dentre tantas opções, privilegiando dois artistas colombianos e um mexicano, além dos sul africanos e uma estadunidense, de origem latina, esta, aliás, embora não seja muito boa cantora, mas excelente pianista, cantou uma música de exaltação à Nova Iorque (muito bonita, por sinal), mas também apresentou um excelente grupo sul africano de música moderna experimental, mas com visível raiz rítmica da África, o conjunto Black Jack (escrevem-se, de forma “sui generis”, Blck Jck).

Mas, persistia o enigma dos dois colombianos e do mexicano, como representantes do universo musical mundial, através de transmissão para pouco menos de metade da humanidade, ligada na Copa do Mundo, segundo as estatísticas

Aí veio o discurso do Prêmio Nobel da Paz, o Bispo Desmond Tutu. Este homem é considerado a segunda personalidade em importância para o fim da odiosa política de Segregação Racial, que vitimou a maioria negra da África do Sul, iniciada pelos europeus nas escaladas coloniais, e silenciada durante décadas da era moderna (sec. XX), por estes mesmos europeus, já quase totalmente, ou totalmente expulsos como colonizadores e donos “oficiais”, da África Negra, a Mama África, além dos EUA (entre outros) que também se omitiram e eram racistas “oficiais” até pouco mais que a metade do século passado.

De repente, ouço as seguintes palavras, da boca do Bispo Desmond Tutu, após uma série de palavras de gáudio e entusiasmo, pela realização do evento em seu país e uma emocionada e ovacionada saudação ao grande líder nacional, artífice da luta contra a Segregação Racial, Nelson Mandela : “Obrigado mundo por fazerem nos transformar de bichos horrorosos, nestas borboletas que somos hoje...”. Fiquei estupefato!

Ora! Estas palavras não correspondem exatamente ao que ocorreu, em relação ao fim do “Apartheid”, cuja luta ceifou muitas vidas, alijou, segregou, humilhou, desfez famílias e relações pessoais, mergulhou a maioria negra na mais completa indigência cultural, social e econômica. Não foi exatamente “o mundo” que fez com que os sul africanos superassem a minoria branca, ao menos contra a segregação, afinal perniciosa ao capital internacional, ávido contumaz por novos consumidores, afinal representantes culturais e econômicos dos países, ainda colonialistas, mas não “oficialmente”, do Hemisfério Norte Ocidental, fronteiriços com o Oceano Atlântico. Exatamente: A Europa e os EUA.

Ou então, Desmond Tutu também aposta que a África do Sul só terá salvação através de eventos “off shore” (de origem externa), organizados pela fina flor dos oligopólios esportivos (e outros) internacionais. Penso que já é mais do que hora da África Negra parar de ouvir como verdades, as mentiras que os brancos lhes contam...

Então, “como num flash” (bordão engraçado de personagem de novela de TV), resolveu-se o enigma sobre ser da Colômbia (2), do México (1) e dos EUA (1), os únicos países não africanos a terem representantes musicais no espetáculo de abertura da Copa do Mundo.

Sei bem que em uma empreitada desta magnitude, nada é ao acaso, muito menos a escolha das apresentações musicais, parte mais visível e passível de mensagens subliminares.

Primeiro uma cantora sul africana muito, legal, parecida com tantas cantoras negras brasileiras e populares. O segundo número foi o do colombiano chato, com o mexicano mais chato ainda, mas do gosto da população que os aplaudiram muito. Depois a apresentação daquele que é considerado o Bob Dylan sul africano, com seu violão e suas músicas de protesto contra a segregação racial. Em seguida, o grupo de Tuaregues de Bali, com a referência anti colonial, ao menos a “oficial”. Em seguida a estadunidense latina, a competente Alicia Key, cantando a tal ode à Nova Iorque, dando um “show” no piano (mais do que na voz) e apresentando o tal grupo sul africano moderno, o Blck Jck com um excelente baterista totalmente branquelo, em em meio a um grupo de maioria negra e de ritmo idem.

E aí veio o “gran finale” com a bela e louríssima Shakira (os maldosos dizem que é a “genérica” da Madonna), vestida com uma malha com motivos Zulus, e uma saia de palha por cima, que também representa a maior e dominante tribo sul africana. Nos anos 50, em Hollywood, os figurinos Zulus dos filmes de Tarzan e dos Lanceiros de Bengala, entre outros, eram parecidos...

Peguei um “mapa mundi” que guardo dentro de minha cachola, a esta altura muito satisfeito com o resultado musical dos competentes artistas (exceto o tal cantor colombiano e o mexicano) e tracei uma linha que começou no Norte da África (Bali), a meu ver, atração usada ali como a “confirmação” que foi extinta a colonização do continente negros. Será que acabou mesmo?

Esta linha desce direto para a África do Sul, sede da Copa do Mundo, com a apresentação de artistas do país, reafirmando a negritude local, de forma plural em estilos, colaborando para uma constituição cosmopolita e não paroquial ou provinciana (no mau sentido), o que é muito bom, desde que não seja apenas uma fachada para a continuidade da “abertura dos portos” com a sangria, não mais da dos negros enviados como escravos, mas usados como tais, em seu próprios países para a extração de riquezas naturais, vendidas a preço de banana podre, para o Hemisfério Norte que, além de outras explorações, em um país onde 25% da força de trabalho não tem ocupação geradora de renda, ou emprego. Como vemos, o Hemisfério Norte Ocidental continua ”por cima” da Mamma África, e a afirmação econômica dos negros por lá, parece-me ainda muito longe de acontecer.

Daí pulamos para as apresentações internacionais, propriamente ditas: A dos chatos colombiano e mexicano e a competente e sedutora Shakira (Joseph Blater que o diga...e eu também...), além da americana de origem latina, cantando uma ode a Nova Iorque, Alicia Key.

Ora! Quais são os dois países que foram inseridos, de forma mais dócil pelas elites e a custa de muito sangue, suor e lágrimas das classes populares, como países periféricos, fornecedores de matérias primas, de cérebros, de apoio geomilitar e político, além de manter o tráfico de drogas dentro de máfias permitidas pelo “stabilihsment” estadunidense, como é o que acoberta o presidente Álvaro Uribe, seu esquema político e a sua família? Esta é a Colômbia escolhida para estrelar o show de abertura.

O outro país em destaque foi o México, com o seu chato cantor pop cucaracha, mas que representou a Latinoamérica, com a qual a África do Sul vai se relacionar política e comercialmente, mais intensamente de agora em diante. Este país, cujas elites traem a memória de Emiliano Zapata e outros combatentes contra o império estadunidense, foi o primeiro dos latinos americanos a ser enquadrado na Ordem Neoliberal, no período do Salinas, ex presidente da Coca Cola e depois, do próprio México.

O que se sucedeu no México neste período recente foi algo muito grave, notadamente no ataque à agricultura familiar e pequenas propriedades garantidas ao Povo, constitucionalmente, e também pela total exoneração do seu Petróleo, TOTALMENTE entregue aos estrangeiros, sendo hoje, o México, comprador do óleo, já tendo sido um dos maiores produtores.

Não foi outro o motivo da escolha desses dois países periféricos e subservientes ao capital, para representarem “o mundo amigo da África do Sul” e representantes culturais do mundo (sem que eu deixe de registrar a bandeira do Brasil, tremulando no palco, no número final, (coletivo), no espetaculoso espetáculo de abertura da Copa.

Ao fundo, a cantora estadunidense de origem latina a cantar odes à Nova Iorque e o Bispo Desmond Tutu a agradecer para os algozes e omissos internacionais à segregação racial ainda não totalmente extinta (vide os vários locais e comunidades na África do Sul, onde negros não são permitidos), a realização de algo que foi obra de valorosos negros e uma minoria internacional não negra e progressista, que arregaçaram as mangas, suplantaram o medo e se atiraram contra a Segregação Racial, mas ainda não conseguiram um mínimo de Justiça Social e Econômica para o Povo Africano.

Durma-se com um barulho destas vuvuzelas trombeteando estas leituras do subtexto de um simples espetáculo de abertura de uma Copa do Mundo de Futebol!

Artigos sobre a Copa do Mundo, a seguir:

1) Venezuela e África do Sul – Uma comparação negada; 2) Copa do Mundo: Quem é a estrela? 3) O Futebol não foi à África do Sul, ......disponíveis pelo endereço:

Raymundo Araujo Filho é médico veterinário e adora futebol, o bom futebol.
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0 #4 E a nossa copa?Luve Brum 24-06-2010 20:03
Bem não creio que vamos quebrar,mas tenho duvidas em relação ao que for construido,vejamos como exemplo as obras do Pan,o Engenhão ja esta com problemas estruturais, vila Olimpica não esta totalmente terminada ainda as outras praças de esportes estão abandonadas,foi gasto muito mais que o planejado,certamente muita gente enriqueceu com estas obras então sem duvida imaginem com obras da Copa e Olimpiada,ou seja não acredito que va melhorar muita coisa a não ser o saldo bancario de muita gente envolvida nas obras.
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0 #3 Henrique 23-06-2010 14:13
Uma vez que nenhum dos argumentos de autoridades indignadas com toda essa imoralidade, qual seria remédio para a surdez dessa gente? É por isso que não querem a bomba em poder do Irã?
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0 #2 Rafa Gonzalez 23-06-2010 14:00
Dizer que a copa de 2014 trará melhorias na infra-estrutura das nossas cidades é cair no conto do vigário. Esse é o argumento utilizado para avalizar toda a falcatrua política e o oportunismo empresarial iminentes. Transporte público de qualidade, entre outras supostas bem-feitorias são obrigações do Estado e direito do povo brasileiro, independentemente da realização da Copa.
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0 #1 E a nossa Copa?Francisco de Assis N. de Castr 21-06-2010 15:14
è evidente que num país capitalista estremamente desigual como o Brasil a força dos interesses dos poderosos irá contribuir para que os maiores beneficiados com a dinheirama que será gasta para a realização da Copa 2014 no Brasil sejam os de sempre. Mas não podemos esquecer que outros setores da sociedade podem se mobilizar para que os investimentos públicos também melhorem a vida da população, melhorando o trânsito e a infraestrutura urbana de saneamento básico. E acho um exagero afirmar que vamos quebrar como a Grécia. Afinal, temos uma economia bem mais sólida e um setor público pujante.
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