Cartilha eleitoral

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Frei Betto
29/08/2014

 

 

A CNBB lançou este mês o documento “Seu voto tem consequências: um novo mundo, uma nova sociedade”, no intuito de orientar os católicos nas próximas eleições.

 

Trata-se de um documento apartidário, porém, à luz da doutrina social da Igreja e dos documentos papais e episcopais. “As eleições deste ano de 2014 são importantes, não só porque presidente, deputados, senadores e governadores têm uma incidência muito grande na vida da população, mas porque está em jogo também o projeto político, social e econômico para o Brasil”, diz o texto.

 

Será que a Igreja Católica, ao emitir o documento, estaria “se metendo em política”, como alardeiam os ingênuos?

 

Primeiro, nós, cristãos, somos todos discípulos de um prisioneiro político. Jesus não morreu doente na cama. Foi preso, torturado e condenado à pena de morte dos romanos (a cruz) por dois poderes políticos!

 

Segundo, em política ninguém é neutro, seja por omissão, seja por participação.

 

Terceiro, historicamente, a Igreja sempre tendeu a fazer a política dos nobres, dos opressores, dos escravocratas e dos poderosos.

 

A CNBB elenca as conquistas significativas dos governos do PT: “os dados mostram que, nos últimos dez anos, cerca de 28 milhões de brasileiros deixaram a extrema miséria e a pobreza e passaram a ter uma renda melhor. Este foi um salto significativo na nossa realidade social. Um dos fatores importantes para este resultado foi o aumento real do salário-mínimo – acima da inflação. Outra contribuição veio do programa de transferência de renda para famílias extremamente pobres, o Bolsa-Família. A taxa de desemprego vem caindo regularmente desde 2003 e ficou em 5,4% em 2013. O Brasil foi um dos países onde se registrou maior redução da pobreza nesse período”.

 

Quanto aos aspectos negativos, diz o documento: “como apontaram as manifestações, os recursos para a saúde e para a educação - as principais políticas sociais de um país - são bastante limitados e vêm aumentando muito lentamente”.

 

Quanto aos gastos com a dívida pública: “se quisermos saber para quem um governo trabalha, temos de examinar para onde estão indo os recursos. Atualmente, eles são destinados, em primeiro lugar, para o pagamento da dívida pública e de seus juros. Em 2013, quase metade do orçamento público (40%) foi destinado para os juros, amortização e rolagem da dívida, enquanto menos de 5% foi para a saúde e menos de 4% para a educação. Este ‘sistema da dívida’ é o grande devorador dos recursos públicos. É o maior gasto do governo, e faz com que faltem recursos para o transporte, a saúde, a educação, o saneamento básico e outras políticas sociais”.

 

O documento critica ainda a violação dos direitos indígenas e dos quilombolas; a lentidão da reforma agrária; as privatizações; os megaprojetos que afetam as populações mais pobres. E reforça o apoio ao Projeto de Lei de Iniciativa Popular, que recolhe assinaturas em prol da reforma política, e conclama a participação no plebiscito por uma Constituinte exclusiva pela reforma política, que ocorrerá na Semana da Pátria, entre 1 e 7 de setembro.

 

 

Frei Betto é escritor, autor de “Calendário do Poder” (Rocco), entre outros livros.


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