Entenda o ajuste fiscal

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Frei Betto
14/04/2015

 

 

O Brasil vai mal das finanças. O governo Dilma admitiu os equívocos de sua política econômica e, agora, buscou na oposição a “salvação da pátria”: o economista Joaquim Levy, da direção do Bradesco. Chamou a raposa para tomar conta do galinheiro...

 

A meta deste ano é engordar o caixa do governo com mais R$ 66 bilhões (ou 1,2% do PIB previsto).

 

É preciso garantir o superávit primário. Que bicho é este? É o que o governo economiza para evitar que suas contas entrem no vermelho e, assim, garantir o pagamento de suas dívidas e atrair a confiança dos investidores.

 

Do seu, do meu e do bolso de todos os brasileiros o governo pretende arrancar R$ 38 bilhões (se o Congresso aprovar). Do aumento de impostos como PIS/Cofins e a volta do Cide (que aumentará o litro da gasolina em 22 centavos, e o óleo diesel em 15), serão arrecadas R$ 12,2 bilhões.

 

Isso significa que, para o consumidor, ficará mais caro tudo que, no Brasil, é transportado por veículos automotores, como alimentos.

 

Do fim das mesadas do governo ao setor elétrico virão R$ 7,5 bilhões. Com reflexo no nosso bolso: conta de luz mais cara.

 

O imposto sobre operações financeiras aumentará de 1,5% para 3%. Isso dará ao governo R$ 7,4 bilhões. Para nós, encarecerão empréstimos, cheque especial e compra de moedas estrangeiras.

 

Com o fim do desconto na compra de carro e o aumento dos impostos dos produtos industrializados, em especial cosméticos e bebidas, serão arrecadados mais R$ 7 bilhões.

 

Das mudanças nas regras do benefício a trabalhadores demitidos, o governo embolsará mais R$ 3 bilhões. E do aumento do imposto de importação, de 9,25% para 11,75%, entrarão no bolso do governo mais R$ 694 milhões. Tudo que contém substância importada, como cevada e malte de cerveja, subirá de preço.

 

O governo espera ainda obter R$ 18 bilhões com as mudanças nos direitos trabalhistas – como o seguro-desemprego, a desoneração da folha de pagamento e a pensão por viuvez. Talvez o Congresso não aprove. Assim, nesse quesito o governo deve arrecadar apenas R$ 3 bilhões.

 

Embora não seja economista, tenho a solução para o governo obter, imediatamente, todo o valor que pretende ganhar com as reduções nos direitos trabalhistas. E ainda ficar com o saldo de R$ 1 bilhão: basta cobrar das grandes empresas que sonegam o fisco. Veja aqui a lista: http://www.brasilpost.com.br/2015/03/28/operacao-zelotes-rbs_n_6962358.html

 

Quem paga imposto pode cair na malha fina. Neste caso, vai à Receita Federal e acerta as contas. Porém, se se trata de uma grande empresa, como as investigadas pela Operação Zelotes, cai na malha grossa, bastando ir ao Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais).

 

Assim, grandes devedores ficam livres do fisco e sonegam bilhões, desde que deixem R$ 500 mil no bolso de alguns conselheiros.

 

A devassa no Carf calcula que as fraudes podem chegar a R$ 19 bilhões! Portanto, se o governo cobrar o que grandes empresas devem de impostos, lesando o povo brasileiro, metade dos R$ 38 bilhões almejados por Joaquim Levy chegará logo aos cofres do Tesouro Nacional.

 

 

Frei Betto é escritor, autor do romance “Minas do Ouro” (Rocco), entre outros livros. Website: http://www.freibetto.org/ - Twitter: @freibetto.

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