Os ilusionistas

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Fernando Silva
10/08/2007

 

 

O cenário político nacional deste semestre começou a ser marcado por fatos que merecem a busca de uma apreciação sob um ponto de vista de esquerda e socialista.

 

A incompetência do governo Lula em tratar a crise aérea durante dez meses e que resultou em nova e absurda tragédia provocou uma justa indignação e perplexidade em todo o país. Some-se a isso o descalabro permanente da corrupção em um das cortes da república, também conhecida como Senado Federal.

 

Não menos importante de ser avaliado é a beligerância contra os direitos da classe trabalhadora, começando pelo direito de greve. Ofensiva que evidencia a verdadeira unidade entre o grande Capital, o governo Lula e os governos tucanos. Vejamos apenas um exemplo na relação da política do governo federal e a do principal governo tucano do país, o do estado de São Paulo.

 

O governo federal perseguiu e avalizou a prisão de controladores de vôo, o governo Serra persegue e demite lideranças grevistas dos metroviários. O governo Lula anuncia uma lei de regulamentação de greve para enquadrar o setor público, estatal e de transportes; o governo Serra ataca com brutalidade sem igual os metroviários e seus sindicato.

 

Assistimos, então, estarrecidos ao aprofundamento de um desmonte da infra-estrutura do país. Talvez estejamos em um auge do desmonte com conseqüências desastrosas para a maioria da população, manifestada tanto na completa precariedade de serviços sociais - basta ver o caos na saúde pública - como no colapso da infra-estrutura, que nos condena a viver no país dos buracos do Metrô, das tragédias aéreas, agora anuais.

 

O mais inacreditável é que a solução “macro” que nos apresentam para este colapso é a repetição da cartilha neoliberal das privatizações, “apimentada” agora por uma decisão unânime destes governos em arrebentar com o direito de organização e greve. Tal investida foi tentada seriamente pela primeira vez no governo FHC, quando da greve dos petroleiros em 1995, mas é retomada agora de forma mais ampla nesse sinistro convênio lulo-petista-tucano.

 

Não podemos nos deixar enganar a respeito de quem são os verdadeiros alvos. O caos aéreo, por exemplo, é ilustrativo a esse respeito: no momento anterior os vilões ou “sabotadores” escolhidos pelo governo e a grande mídia foram os controladores de vôo. No momento atual, marcado pelo trágico acidente do Airbus da TAM, está sobrando para os pilotos. Mais uma vez vão escapar pelo trilho da impunidade as companhias aéreas e sua sede assassina de lucros, os agentes do Estado que não fizeram outra coisa nesses anos a não ser responder aos interesses destas companhias, especialmente a ANAC e Infraero, para não falar diretamente do governo federal, patrocinador do colapso dos investimentos necessários em infra-estrutura.

 

Mas também não devemos nos deixar enganar por manifestações que são produto desta crise e que podem gerar operações ilusionistas sobre o povo, como de um lado o movimento Cansei, organizado por “ilustres” setores da classe dominante, e de outro, pela cínica defesa dos direitos do povo e dos trabalhadores feita pelo PT e a CUT, que em resposta ao Cansei acoberta as responsabilidades do governo Lula nesse descalabro e “esquecem” de denunciar a agenda de reformas e ataques aos direitos dos trabalhadores oriundos do próprio Planalto.

 

É preciso reconhecer que não é nada fácil nesse cenário furar esse cerco e esse novo arsenal de operações ilusionistas para recolocar uma agenda e uma saída do ponto de vista da classe trabalhadora e, portanto, socialista.

 

Isso começará a ser possível se os movimentos sociais dos explorados, atingidos por essas catástrofes sociais, conseguirem empreender um forte movimento unitário para denunciar essa podridão sistêmica, colocando no topo da agenda e da sua ação a defesa dos seus direitos e demandas populares.

 

 

Fernando Silva é jornalista, membro do Diretório Nacional do PSOL e do conselho editorial da revista Debate Socialista.

 

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