Correio da Cidadania

Segunda derrota de Sanders

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A primeira derrota foi uma verdadeira vitória. Qualificado como candidato inexpressivo, Sanders correu o país divulgando sua revolução política e condenando o poder das grandes corporações de influenciar o governo.

 

Multidões de norte-americanos fartos dos políticos tradicionais vibraram com seus discursos. Foi assim que conseguiu 45% dos votos eleitorais democratas e ameaçou a liderança da favorita Hillary Clinton.

 

Contra a opinião de uma boa parte dos seus adeptos, Sanders topou apoiar Hillary, a quem apontava como candidata do establishment.

 

Ele procurou acalmar os protestos garantindo que faria da plataforma da candidata um marco para levar sua revolução política ao Partido Democrata.

 

“Penso”, ele declarou, “que conseguiremos ter a mais progressista plataforma democrata da história, mas o que é mais importante é garantirmos que essa plataforma será implementada”.

 

No fim dos debates, Warren Gunels, principal assessor de Sanders, aparentemente animado, afirmou à CNN: “teremos 80% do que queríamos na plataforma”.

 

Pode ser, mas a verdade é que Sanders perdeu mais do que ganhou. De fato, estarão na plataforma, depois de duras disputas, posições como o aumento do salário mínimo para 15 dólares por hora, defesa do meio ambiente e expansão da saúde pública.

 

No entanto, pontos vitais do programa de Sanders foram rejeitados pelos seguidores de Hillary, em maioria na comissão de plataforma.

 

Um apelo pelo fim da ocupação da Palestina e dos assentamentos ilegais, teses consagradas pela ONU, não passou.

 

Alegou-se que inflamaria tensões e deixaria de mãos atadas a capacidade diplomática dos EUA para liderar futuras negociações de paz.

 

De nada adiantou aos adeptos de Sanders lembrarem que se tratava de posições adotadas pela senhora Clinton no passado. Mas eram tempos em que ela não se subordinava à política de Israel, tinham perdido validade.

 

Ninguém disse, mas pesou muito na postura dos seguidores de Clinton o afã em não irritar o governo de Israel e seus representantes nos EUA: a AIPAC e congêneres.

 

Houve disputas amargas entre os seguidores de Sanders e os de Clinton em outros temas delicados. O Tratado de Parceria Trans-Pacífico (TPP), que segundo muitos ignora leis dos 12 países-membros para beneficiar grandes corporações em caso de disputas, não passou.

 

A condenação do fracionamento hidráulico – processo para produzir petróleo a partir do xisto betuminoso, que causa terríveis danos ao meio ambiente e à saúde das pessoas da região onde é aplicado – seguiu o mesmo caminho. Como também a proposta de reduzir as emissões de carbono com a cobrança de impostos.

 

Analisando tudo, verifica-se que Sanders de fato venceu no quesito “quantidade” – 80% das suas propostas aprovadas.

 

No entanto, a maioria do que ele apresentou de mais importante em sua campanha foi derrotado pelo rolo compressor dos clintonianos.

 

Seja como for, depois que ele anunciou formalmente sua integração na campanha da senhora Clinton, as redes sociais foram inundadas por centenas de protestos. Muitos chamando o candidato socialista de traidor.

 

A primeira pesquisa mostra que eles representam não mais de 15% dos entusiastas da campanha Sanders. Os outros 85% declaram que aceitarão seu apelo pelo voto em Hillary Clinton. O que mostra que ela é uma hábil política.

 

Deu pouca chance às ideias mais corajosas do candidato socialista e mesmo assim conseguiu seu apoio e o da grande maioria dos que confiam nele. Até quando, não se sabe.

 

No decorrer da campanha eleitoral, Trump não deixará de usar as críticas que Sanders fez a ela nas prévias partidárias.

 

Fosse este colunista um norte-americano, não gostaria de votar numa candidata 100% ao lado de Netanyahu contra os palestinos. Mas Trump é dose.

 

 

Luiz Eça é jornalista.

Website: Olhar o Mundo.

 

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