Correio da Cidadania

2012 será um ano mais quente?

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Pelo andar da carruagem política, econômica e social do final de 2011, tanto em âmbito internacional quanto no regional e nacional, há sinais indicativos de que teremos um novo ano muito mais complicado.

 

Em escala mundial assistimos a uma Europa economicamente unificada desfazer-se, apesar de sua idade ainda jovem. Assemelha-se a casamentos feitos por encomenda e por interesses econômicos dos filmes que invadiram nossos lares no século XX. O sonho de se construir um império regional que viesse a competir com o império norte-americano, ou pelo menos sair de sua esfera de dominação econômica, “está dando com os burros n’água”, por conta do antagonismo entre os interesses populares e os interesses dos grandes grupos econômicos, notadamente dos grupos financeiros.

 

Aliás, o sistema financeiro internacional vem tendo uma prática canibal e autofágica, devorando tudo o que tem pela frente e a própria carne, com grupos devorando outros grupos, na ânsia de serem cada vez mais fortes e únicos em dominar e explorar. Só que a História mostra que não existem impérios e dominadores eternos. Daí que alguns deles agonizam.

 

As tentativas de evitar o caos total e irreversível da economia européia estão permitindo que dois dos países economicamente mais fortes busquem reconstruir a unidade cadente por meios que não vêm agradando outros países, muito menos seus povos, que não vêm sendo consultados sobre os caminhos a seguir. Assim, se 2011 foi marcado por inúmeros movimentos populares de contestação em vários países, as medidas tomadas autoritariamente estão fermentando a ira e a revolta que poderão tornar ainda mais quente politicamente o ano de 2012.

 

Segundo analistas credenciados, apesar dos esforços dos dirigentes europeus, será muito difícil a Europa continuar unida e salvar sua moeda. O Euro, por sinal, foi o instrumento da elevação do custo de vida para quase todos os países, principalmente para os países retardatários em seu desenvolvimento industrial. Os povos da Grécia, Portugal, Espanha e Itália, por exemplo, foram os que mais sentiram o peso da unificação monetária. Como estão tendo que pagar pelos desmandos do capital, poderão ser protagonistas das reações das massas, quem sabe “incendiando” politicamente o Velho Continente. Para agravar a situação, o mercado financeiro não confia nem um pouquinho nas boas intenções dos governos europeus, retira dinheiro da circulação, desviando-o para outras fontes de renda, o que poderá gerar mais desemprego e mais insatisfação popular.

 

Os Estados Unidos, até agora a mais poderosa economia do planeta, passam por maus momentos. A crise financeira desencadeada em 2008 - que atingiu bancos, empresas da construção civil e até a toda poderosa GM, forçando o governo Obama a desviar dinheiro do orçamento para financiar empresas particulares - está longe de ser superada. Segundo estudiosos estadunidenses, será muito difícil resolver os problemas financeiros e econômicos da terra do “Tio Sam”. Sua dívida pública ultrapassou os 14 trilhões de dólares. O Congresso, embora tenha ampliado a margem de endividamento do país, não confia nas soluções tradicionais e não enxerga luz pela frente. Para agravar o quadro da crise, a balança comercial já não lhe é mais favorável. Por outro lado, a pobreza atinge milhões de pessoas e o desemprego está sem controle governamental. Lá também o movimento social deverá sofrer um bom aquecimento, como já vinha ocorrendo em 2011.

 

No Brasil, apesar dos constantes pronunciamentos dos altos escalões do governo afirmando que o país não seria atingido pela crise mundial, está ocorrendo o contrário e muitos tiveram que “morder a língua”, dando a entender que estamos sendo arrastados para o mesmo abismo que as nações economicamente mais poderosas. Quando o ministro da Fazenda, Guido Mantega, diz que o “fundo do poço” da economia nacional já passou (em 17/12/2011) é porque sabe muito bem que essa crise está apenas se esboçando. Mas, por dever de ofício, se vê forçado a engambelar mais uma vez para não afetar a credibilidade do governo Dilma.

 

Porém, todas as vezes em que negou crises anunciadas, elas vieram em seguida. E nem poderia ser diferente, se nossos governantes não são capazes (ou não querem) de se desvencilhar do modelo capitalista, do qual somos dependentes e ao qual permanecemos subservientes. E de saber que o Brasil é um dos poucos países que pode se desvencilhar dessa dependência, porque tem enorme potencial a ser desenvolvido com forças próprias!

 

Mas continuamos a nos sentir e a proceder como colônia. Haja vista a submissão às vontades dos corruptos dirigentes da FIFA, concedendo, inclusive, licença para a venda de bebidas alcoólicas durante a Copa, com criação de regras próprias que venham a defender seus interesses financeiros, concessão que contraria a própria Constituição nacional. Incrível que até o circo do futebol internacional tenha mais eficácia sobre as leis do país do que nossos obtusos governantes.

 

Além desses, muitos outros fatores poderão motivar o crescimento da insatisfação popular. A presidente afirmou no final do ano que “não é hora de conceder reajuste ao funcionalismo”, embora os serviços públicos sejam reajustados a cada momento, o pagamento dos serviços da Dívida Pública (agiotagem) seja mantido rigorosamente e os incentivos às grandes negociações entre empresas sejam também mantidos, quando não ampliados. É bem provável que tenhamos mais problemas com o desemprego (após as festas de fim de ano), porque as previsões oficiais (PIB previsto pelo Banco Central) apontam para mais retração da economia, ao mesmo tempo em que a crise vem provocando a elevação dos juros para as pequenas empresas, exatamente aquelas que mantêm o maior número de empregados no país. Se tal quadro não for revertido, provocará o crescimento da insatisfação, o que poderá aquecer o movimento social, gerando manifestações e protestos.

 

Por algum tempo, a construção civil estará na dianteira da atividade produtiva, devido às obras para a Copa e Olimpíadas. Mas é exatamente esse setor que poderá puxar o movimento grevista por conta da incrível e elevada exploração do trabalho nas grandes obras. Se esses operários continuarem no ritmo das paralisações de 2011, estarão estimulando a que outros setores da sociedade intensifiquem suas manifestações de descontentamento.

 

Outro setor que poderá intensificar ações de protestos e exigências de mudanças é o da Educação, que por sinal, em 2011, não titubeou e enfrentou governos de vários estados e municípios. As razões desse enfrentamento são mais que evidentes: salários aviltantes, péssimas condições de trabalho, baixíssimo nível educacional, que coloca o país entre os últimos em termos de qualidade. Por esta última razão, nas universidades, poderá ocorrer a adesão dos estudantes às ações dos seus professores.

 

Um fator que poderá contribuir para que cidadãos deixem sua apatia de lado e entrem na briga exigindo mudanças profundas nas políticas públicas será a Campanha da Fraternidade 2012, que tem como tema “A Fraternidade e a Saúde Pública”. Se os agentes eclesiais perceberem a importância dessa campanha para a vida do povo, sobretudo as famílias de trabalhadores, poderão dar uma enorme contribuição para que muita gente passe a exercer o seu protagonismo transformador da sociedade, como orientam os principais documentos eclesiais dos últimos tempos. Mas, para que isto venha a ocorrer, é necessário estarem mais preocupados com a vida de milhões de seres humanos do que com as atividades intra-eclesiais. E o valoroso e incansável Movimento Popular de Saúde poderá, enfim, receber novos adeptos e novo ânimo em sua luta em defesa da vida, tema permanente nas campanhas das Igrejas.

 

Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.

Comentários   

0 #1 Quanto Mais Quente Melhor!Raymundo Araujo Filh 17-01-2012 10:56
Lendo este artigo que aponta para uma Esperança por melhores dias, mas condicionada à ação das pessoas e não como algo "que chegará de qualquer forma", como uma quimera sobrenatural, lembrei-me de uma grande comédia de 1959, Quanto Mais Quente Melhor (Some Like it Hot)dirigido por Billy Wilder, com Jack Lemmon, Tony Curtis e Marilyn Monroe (sem desmerecer os outros artistas)em atuações magistrais.

É a história de dois mulherengos inverterados que resolvem passarem-se por mulheres, só para poder fazer parte em uma excursão de uma banda de música, da qual participava a luminosa M. Monroe.

Com a maior parte do filme ser passando dentro de um trem, com toda a troupe metida em deliciosa "comédia de erros", quem não viu que procure ver, para se divertir um pouco.

Mas, a lembrança do fio por motivos não muito engraçados.

É que para conseguirmos elevar a temperatura desta tragicomédia brasileira que é o atual momento político-social que nos encontramos, precisaremos identificar quem está na banda para tocar algum instrumento daqueles que só entraram para usufruírem de suas segundas intenções não declaradas.
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