Correio da Cidadania

FIESP pressiona por redução de jornada e salários

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No artigo publicado pelo Correio em 05/01/09, escrevi prevendo um ano de muitas dificuldades para a classe trabalhadora brasileira. Abordei também as dificuldades que suas organizações terão para enfrentar a crise com uma firme postura de resistência aos ataques do voraz capital sobre seus direitos. Embora tivesse prevenido aos leitores que os dados citados poderiam ser modificados, o que estamos presenciando vem simplesmente confirmar tão amargas perspectivas.

 

As pesquisas oficiais confirmam que os dados sobre o desemprego nos meses finais do ano de 2008 foram mais elevados que os previstos. E o crescimento do desemprego revela, simultaneamente, que houve achatamento salarial. Enquanto a fala do ministro do trabalho prevê mais demissões em janeiro e fevereiro – que estão acontecendo em ritmo veloz - com retomada dos empregos a partir de março. Apenas uma ressalva à previsão ministerial: não há um dado sequer que possa sugerir que em março haverá crescimento da oferta de vagas. Muito pelo contrário, as empresas forçam para que as centrais sindicais e os sindicatos negociem perda de direitos dos trabalhadores sem nenhuma garantia de emprego em contrapartida. Os representantes oficiais do empresariado, através da imprensa, vêm alertando que a tal crise terá "fôlego de sete gatos".

 

A FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) não se faz de rogada e cinicamente pressiona sindicatos e governo para que os direitos trabalhistas sejam reduzidos, principalmente a jornada de trabalho, com a respectiva redução dos salários.

 

São os abutres sobre a carniça social, como já tenho escrito. São verdadeiras hienas sobre os restos mortais das vítimas que o próprio capital vem gerando nessa época neoliberal. E fazem o que sabem muito bem fazer: chantageiam as frágeis direções sindicais – muitas delas corrompidas e vendidas ao capital - com a ameaça e até mesmo com a execução de demissões em larga escala. Fazem chantagem propondo, além da redução da jornada e dos salários, a implantação generalizada dos famigerados "bancos de horas", uma forma de manter altos seus rendimentos, jogando sempre os "prejuízos" para as costas dos trabalhadores; propõe de forma sacana a suspensão temporária do contrato de trabalho (por cinco meses), tempo em que o trabalhador receberia uma "bolsa-qualificação"- modalidade de seguro-desemprego - bancada com dinheiro público, e tempo em que o mesmo será obrigado a fazer uma "qualificação profissional". Seu retorno, após cinco meses, lhe garantiria "longos três meses de emprego". Em outros termos, as empresas estarão garantindo o direito da demissão, ainda que tenham obtido todas as concessões nas negociações com as direções sindicais.

 

O mais grave nessa história está em que, enquanto o patronato se organiza para surrupiar de forma coletiva o conjunto da classe trabalhadora, as direções das centrais sindicais - apelegadas, bem instaladas e muito bem remuneradas - ficam a discutir isoladamente como ceder às pressões empresariais, tentando minimizar as perdas que vêm sendo impostas aos seus representados. Não há um único indicativo sério de que essas "direções" venham se esforçando para elaborar sequer um minúsculo plano de lutas coletivas capazes de fazer frente a tantos disparates. Salvo raras exceções, os trabalhadores brasileiros estão sem direção política para suas lutas de resistência. E os sindicatos que ainda conseguem a mobilização de suas bases, numa tentativa hercúlea de resistência, se sentem isolados e traídos pelo conjunto do movimento sindical.

 

É mais triste ainda ver o presidente da nação brasileira brincar com a opinião pública dando "sapatadas" na crise. Age como se nada grave, de fato, estivesse acontecendo com o seu povo, como se tudo isso pudesse ser motivo para chacotas irresponsáveis, enquanto vai autorizando aos seus ministros e assessores a atenderem às pressões do empresariado. Só falta mesmo fazer como fez uma sua ex-ministra, ante a crise da aviação civil brasileira: "Relaxa e..."

 

Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.

 

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