Correio da Cidadania

Abutres sobrevoam restos mortais

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A falta de capacidade da esquerda em se unir e propor projetos e estruturas alternativas ao capital neoliberal propicia a que a burguesia tome a iniciativa e proponha mudanças no verniz para que nada mude nas estruturas.

 

Depois de toda onda em cima da "crise do sistema", em que se condenou e se condena os abusos cometidos pela livre iniciativa de mercado sem nenhum controle do Estado, algumas pistas de como o capital é capaz de se reciclar começam a aparecer. Claro, depois que os Estados (com o sagrado dinheiro dos povos) assumiram o ônus dos abusos neoliberais, transferindo os prejuízos - provocados pela ganância desenfreada das mega-empresas - para as nossas costas já calejadas de tanta exploração.

 

Uma das iniciativas nos vem dos participantes da Semana do Empreendedorismo que acontece em São Paulo, simultaneamente com outras 1.548 atividades espalhadas pelo Brasil e em mais 74 países.

 

No encontro de São Paulo, obviamente reservado a empresários, foi apresentada proposta para se concretizarem duas reformas à Constituição, a Reforma Trabalhista e a Tributária: "A crise é uma ótima oportunidade para as mudanças necessárias", palavra do professor direitista Ives Gandra, com o apoio explícito do ex-secretário da Receita Federal Everardo Maciel e do professor José Pastore, todos tradicionais defensores do atual modelo econômico.

 

Quando falam de Reforma Trabalhista, os três têm em mira a promessa do presidente Lula de um projeto que vise "flexibilizar" todos os direitos. Não esqueçamos, direitos conquistados pela classe trabalhadora brasileira ao longo de dezenas de anos de muita luta e muito sangue derramado. "Flexibilizar" direitos é aumentar a exploração sobre quem trabalha, propiciando o aumento dos lucros de quem explora. Da mesma forma, ao propor novas mudanças na legislação tributária, os três evidentemente não estão pensando na redução dos impostos que recaem sobre os consumidores, nem mesmo na redução das alíquotas do Imposto de Renda sobre os salários dos que produzem as riquezas com seu trabalho suado. Estão pensando em mais redução dos encargos que beneficiem o empresariado. Não fosse isso não haveria razão para afirmar que "a crise é uma ótima oportunidade para fazer as mudanças necessárias". Necessárias para quem?

 

A segunda, e muito mais importante, iniciativa nos vem do encontro do G20 (com a participação dos 22 países mais importantes para a economia mundial. Lula, Cristina Kirchner e Hu Jintao – China - presentes). Vejam a pérola que de lá saiu: "Nosso trabalho será guiado por uma crença compartilhada de que os princípios do mercado, abertura comercial e de regime de investimentos e mercados financeiros eficazmente regulados estimulam o dinamismo, a inovação e o espírito empreendedor, essenciais para o crescimento econômico, o emprego e a redução da pobreza". E, diz a imprensa, Lula saiu de lá entusiasmado! Aí estão duas iniciativas concatenadas nos revelando que o capital "não dorme de botinas".

 

Enquanto os chefetes dos governos se animam em salvar o capital corrupto, corruptor, predador da natureza, espoliador, gerador de miséria e toda sorte de violência, os movimentos sociais competem entre si e parte deles se vende ao capital, traindo seus povos.

 

Pela sua incapacidade em se unir, em deixar de lado os anseios egoístas de hegemonia de cada grupo, a esquerda perde excelente oportunidade. Mesmo sabendo que a crise é histórica, e que este seria talvez o melhor momento para, unificadamente, e tendo em vista a vida do povo, a justiça e solidariedade de classe, propor e lutar por uma profunda revolução política, econômica, social e cultural, ainda assim não consegue se unir. Como é incapaz, o capital, que nada tem de bobo, toma a iniciativa e dá passos importantes para se reciclar, sem nada mudar nas estruturas de dominação e exploração. São os abutres sobrevoando os esqueletos dos famintos

 

Cá pra nós, brasileiros: ainda tem gente que acredita que o governo atual é de esquerda!

 

Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.

 

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Comentários   

0 #3 Sõbre os abutresHamilton Alem 21-11-2008 09:28
Brilhante seu artigo recente. Você é um dos poucos que a cada dia melhora um bocadinho a mais. Complementando eu diria que esse nosso governo segue a risca o que todos outros (com raras exceções) cantarolam diariamente com a grande mídia a mesma ladainha: Nada vai mudar. Vamos salvar é o mercado que tudo é consumismo mesmo. Sonhar com uma uñião das erquerdas já era. Tá na hora é de mudar é tudo . Apro-veitar essa chance. Salvar não a economia, mas a vida, as pessoas, o planeta num todo. Acabar com o sistemão bancario. Ir fechando as industrias automobilisticas, investir muito em transporte público, gratuito e de qualidade, em saúde e educação de todos os povos. Criar um mundo para as crianças e natureza protegida da ganância dos lucros das múmias do poder atual. Os poderosos não poderão mais matar nenhuma flor. Vamos começar boicotando tudo que é porcaria nesse circo começando com a gasolina e qualquer compra a crédito. um abraço Hamilton
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0 #2 Nelson Breanza 19-11-2008 15:47
Seu texto é impecável Waldemar, subscrevo-o literalmente, se assim me permite e mantenha sim essa "pureza" e firmeza ideológica, marca registrada de toda sua militância !!!
Sds.
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0 #1 lucio 19-11-2008 14:00
Seu texto mostra q esta preso a um

ideal de pureza q o proprio Lenin

desprezava . E outra , os

movimentos sociais so existem pq

sao financiados pelo capital seja

este publico ou privado .Suas li

deranças sao pessoas com elevado

poder aquisitivo e grandes ambi

çoes politicas .
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