Correio da Cidadania

Neste 1º de maio de 2015, o que iremos celebrar?

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Depois de longos anos de lutas da classe trabalhadora e de muitas conquistas, o capital deu a volta por cima, no mundo inteiro, e vem surrupiando esses direitos de forma inapelável. Ou seja, em épocas de assenso da classe trabalhadora, principalmente dos operários fabris, o capital, para não perder seus fabulosos lucros, se viu forçado a ceder diante da pressão organizada da classe operária. Porém, os grandes empresários que dispõem de muita gente especializada em questões da luta de classes não param de elaborar previsões e preparar seus contra-ataques aos operários.

 

Assim, passados os anos da superprodução industrial, que abarrotou o comércio e foi deixando as prateleiras sem mais espaços, os homens que dominam e planejam as atividades capitalistas lucrativas passaram a por em prática sua estratégia de dominação sobre os trabalhadores em geral e de subordinação das direções sindicais mais combativas. E o fazem com muita eficácia.

 

Isto vem ocorrendo em todos os países em que o capitalismo fabril se instalou nesses últimos 250 anos da produção industrial, especialmente durante o século XX, após a 2ª guerra. Na década de 1960, passou a organizar a redistribuição do capitalismo industrial. Trabalhadores da Europa, América Latina e Ásia - países que se desenvolveram rapidamente nas últimas cinco décadas - vêm sendo vítimas da volúpia desenfreada por lucros das grandes empresas internacionais, comandadas pelo capital estadunidense, responsável por 50% de toda a produção mundial e líder absoluto na produção de armas com forte poder de destruição. A seu favor, os Estados Unidos contam também com uma poderosa cadeia e diversidade de instrumentos de difusão da sua ideologia de supremacia mundial, que penetra em todos os países com força avassaladora, atingindo em cheio a classe trabalhadora.

 

Tal estratégia de dominação atua em vários campos simultaneamente. Dois merecem destaque para este artigo: a eliminação das conquistas obtidas pelos operários com muita luta, boa organização e consciência de sua força coletiva e a cooptação das direções sindicais mais combativas.

 

Para o capital, a cooptação das direções sindicais se tornou fundamental para que a exploração do trabalhador fosse perpetuada e a produção das suas riquezas mantida incólume, o que lhe proporciona lucros sempre crescentes. Assim vem acontecendo nos Estados Unidos, nos países europeus, expandindo-se para a América Latina, Ásia, África, Oceania e Oriente Médio. Através de pesquisa bem elaborada e sutil, os capachos do capital sondam durante anos as direções sindicais, procurando conhecer seu caráter e fraquezas, para depois fazer a investida, oferecendo favores, “poder” e muita grana.

 

Se considerarmos que a maioria dos dirigentes sindicais mundiais ascendeu aos seus cargos representativos marcados pela ideologia do “tomem nossos dedos, mas nos deem alguns bons anéis”, facilmente chegaremos à conclusão da facilidade com que essa cooptação vem sendo desenvolvida com êxito. É a este modelo sindical de toma lá dá cá que apelidamos de “sindicalismo pelego”, porque é assim que as direções sindicais agem geralmente (as exceções são raras no mundo inteiro, infelizmente).

 

No Brasil, país marcado pela “cultura” do “rouba, mas faz”, entre outras da mesma natureza, esse trabalho de carrear sindicalistas para o lado do capital foi tarefa fácil demais, até porque os anos de ditadura foram de transferência de todo o real poder para as multinacionais, sob comando dos Estados Unidos. E os anos de ditadura civil/militar deixaram a marca da corrupção e da subserviência tupiniquim, que se propagam como praga na lavoura, atingindo todos os presidentes da República, atingindo em cheio os Três Poderes, perpassando todos os setores da nossa pobre nação, com destaque para parcela significativa da chamada classe média, chegando a muitos dos mais humildes da cadeia produtiva.

 

O que nos diferencia dos demais países é que as centrais sindicais brasileiras, criadas depois de 1983, ou foram crias do próprio capital, exemplo típico da Força Sindical - bancada por Collor de Mello (presidente cassado pelo povo), pela FIESP e empresas norte-americanas, que não hesitaram em derramar alguns milhões de dólares nas mãos dos seus criadores (Medeiros e Cia.), conforme denúncia pública de antigo assessor da central. Outras “centrais” seguiram caminho semelhante. A exceção fica por conta da CUT, que nasceu das lutas operárias e populares, mas que também sucumbiu ao canto da sereia do capital, sucumbiu à promessa de “poder político”, ”STATUS SOCIAL” e vantagens financeiras para seus dirigentes que se ufanavam do “Sindicalismo que deu certo”.

 

O preço dessa cooptação vem sendo extremamente caro para o conjunto dos trabalhadores brasileiros. Até, e principalmente, sob o governo do Partido dos Trabalhadores (que se tornou Partido do Capital), os trabalhadores vêm vendo seus direitos serem suprimidos, um a um, como são amarrados os gomos da linguiça, desembocando no mais grave assalto às conquistas trabalhistas: a terceirização do trabalho em todos os níveis. O PL 4330 (Projeto de Lei) em tramitação no Congresso – já aprovado na Câmara de Deputados – é infelizmente apoiado na surdina pelas grandes centrais sindicais, em troca da garantia do acesso ao Imposto Sindical e à grana que sai das chamadas “contribuições assistenciais ou sindicais, mentindo para os trabalhadores com falsas mobilizações populares, fazendo de conta que estão contra.

 

Além da desestruturação total da organização sindical, que já vem enfraquecendo a luta dos trabalhadores, no Brasil, se aprovado o PL 4330, teremos o desencadear da mais violenta e cruel rotatividade do emprego de todos os tempos, em todos os setores do trabalho, com a consequente progressiva e criminosa redução da padrão de vida dos trabalhadores. Será o império total da barbárie.

 

Enquanto isto, embora com um mentiroso discurso de resistências, a Força “Farsa” Sindical promove mais uma “comemoração” do DIA DOS TRABALHADORES com grandioso show e com sorteio de 19 carros Hyundai, tudo bancado pelas mesmas empresas que nos exploram. Infelizmente, outras centrais promovem também seu “Dia do Trabalhador”, com discursos de “luta” em defesa dos nossos direitos, enquanto se negam a organizar a única forma de resistência que o capital respeita: a Greve Geral até a revogação dessas leis e a devolução dos nossos direitos.

 

Felizmente, em várias cidades do Brasil, ainda restam sindicatos e sindicalistas que não aceitam o roubo e não se venderam aos interesses dos exploradores. Estes sindicalistas, somando força com as Pastorais Sociais da Igreja Católica, organizam a celebração do 1º DE MAIO independente e de verdadeira resistência ao assalto do capital, com destaque para a celebração em São Paulo, na Praça da Sé.

 

Não vamos celebrar mais uma derrota. Nossa luta no momento é organizar e reforçar a resistência.

 

Encerramos este artigo com as palavras do papa Francisco:

Nenhuma Família sem casa;

Nenhum Camponês sem terras;

Nenhum trabalhador sem direitos.

 

Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.

Comentários   

0 #1 Obrigado pelo artigoZe Antonio 01-05-2015 09:50
Ah se tivessemos alguns milhares de trabalhadores coerentes como o Sr. que não se vendesse por picuinhas, especialistas em gestionar o nosso fracasso como povo. Que bom seria . Obrigado pelo alento.
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