Correio da Cidadania

Oposição só nos extremos

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O protesto do diretor deste Correio, Plínio de Arruda Sampaio, sobre a omissão dos jornais paulistas da manifestação do Conlutas no Dia do Trabalho chama atenção não apenas pelo aspecto da manipulação do noticiário da grande imprensa – bem conhecida pelos leitores desta coluna –, mas para o fato de atualmente só haver oposição de verdade ao governo Lula nos dois extremos do espectro político.

 

O presidente da República de fato conseguiu uma proeza neste início de segundo mandato: ampliou ainda mais o arco de apoio ao seu governo, incluindo o PMDB inteiro, o PDT e iniciando conversas com o PSDB e uma parcela do DEM, senador Antonio Carlos Magahães (BA) à frente. Hoje, o governo é formalmente apoiado por 11 partidos políticos, integrantes do Conselho Político (PT, PSB, PCdoB, PP, PTB, PR, PRB, PMDB, PDT, PV e PSC). De relevante, sobram na oposição o DEM, PSDB, PPS, PSOL e PSTU (que não tem representação no Congresso). Lideranças importantes do PSDB, como os governadores José Serra e Aécio Neves, já sinalizaram que não farão oposição sistemática a Lula, pelo menos nesta fase do segundo mandato. É bem verdade que Fernando Henrique Cardoso gostaria de ver seu partido com uma tonalidade mais oposicionista, até para tentar sustentar a sua biografia, mas a cada dia que passa o ex-presidente é menos ouvido na agremiação tucana.

 

Assim, sobram na oposição ao governo federal os liberais do DEM, os ex-comunistas do PPS e a esquerda radical, abrigada no PSOL, PSTU e PCO. No DEM, há uma dissidência tímida, capitaneada por Antonio Carlos Magalhães, que precisa sobreviver politicamente na Bahia e está ansioso para fechar logo um acordo com Lula que lhe permita algum raio de manobra no governo estadual de Jaques Wagner (PT). O PPS de Roberto Freire parece fazer oposição apenas por veleidade pessoal de seu líder maior, que adoraria ser o que Lula é e, frustrado por não ter obtido sucesso em sua empreitada – e diga-se de passagem que a conversão de Freire ao “lado de lá” foi muito mais completa do que a de Lula –, usa um discurso udenista contra o presidente e seu governo.

 

Por fim, há a esquerda. Tanto PSOL como PSTU fazem uma oposição bastante contundente ao governo federal, mas a forma por eles adotada para o embate político lembra muito a do PT de anos atrás. Em linhas gerais, os dois partidos apontam o que reprovam no governo, isto é, o que eles não fariam se estivessem no comando da nação, mas evitam apresentar as alternativas. Assim, a esquerda radical se posiciona contra as “reformas neoliberais” de Lula, as quais o povão ainda não conseguiu identificar, porque simplesmente não foram encaminhadas formalmente pelo governo; contra a política monetária restritiva, contra o superávit primário (outro conceito de difícil intelecção da maior parte da população), contra a Emenda Três ao projeto que criou a Super Receita (que é na verdade um projeto do senador tucano Tasso Jereissati e foi vetado por Lula). Já não dá mais para clamar contra o FMI, uma vez que Lula encerrou o período de subordinação direta da economia brasileira ao Fundo, mas PSOL e PSTU insistem que o atual governo é tão ou mais subordinado às ordens do império do que o anterior. Para o brasileiro que acompanha a economia do dia a dia, é complicado entender onde se dá tal subordinação.

 

A popularidade de Lula é alta porque a economia brasileira está crescendo, de forma que os problemas nacionais, muitos deles seculares, parecem estar sendo combatidos com afinco pelo governo. Isto explica a anemia da oposição mais centrista. Os extremos precisam explicar melhor o que fariam efetivamente se chegassem ao poder. Falar que o Brasil pode crescer mais e com maior distribuição de renda, por exemplo, é fácil. Difícil é mostrar como se faz...

 

 

Luiz Antônio Magalhães é editor de Política do DCI e editor-assistente do Observatório da Imprensa (www.observatoriodaimprensa.com.br).

Blog do autor: www.blogentrelinhas.blogspot.com

 

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