Correio da Cidadania

Não temos tempo a perder

0
0
0
s2sdefault


Quando a crise econômica chegou forte no Brasil, a classe dominante rompeu a aliança com o PT, iniciando a articulação em favor do impeachment. Parte considerável da esquerda dizia: “é impossível o impeachment, porque o grande capital considera fundamental a estabilidade política do regime”. Com o tempo, e as grandes manifestações reacionárias estimuladas pela mídia, passaram a dizer: “é improvável, mas não impossível o impeachment”. Depois: “pode até ser aprovado, mas não muda nada”. Diziam também que dificilmente Lula seria condenado. Foi preso e excluído do processo eleitoral. Escreviam longos tratados teóricos para demonstrar que não existia o fortalecimento da direita no mundo, nem no Brasil.

Dois anos se passaram. Com os golpistas, direitos básicos e históricos destruídos. E assistimos incrédulos à candidatura de um neofascista crescer a ponto de ser provável sua presença no segundo turno das eleições se os setores comprometidos com os interesses da classe trabalhadora não tomarem as ruas para combater suas ideias retrógradas e defender as limitadíssimas liberdades democráticas que conquistamos a duras penas. Negar a realidade como forma de escapar de uma verdade desconfortável não nos leva a lugar nenhum.

Numa brilhante síntese, Vladimir Safatle alerta: “Desde o retorno das eleições diretas, o consórcio que promoveu o golpe de 1964 nunca havia conseguido comandar um processo eleitoral. Esteve sempre a reboque, aliado a outros projetos. Com a falência da Nova República, o esvaziamento da dicotomia PT-PSDB, esse consórcio (militares, empresariado, setores conservadores da Igreja e da mídia) enxerga a possibilidade de voltar ao poder sem intermediários”.
Infelizmente, a direção do PT continua atuando nos limites estabelecidos pelas instituições que promoveram o golpe.

Ao se unir com as golpistas por conveniência eleitoral, desmoralizam a luta contra o golpe. Alguns chegam a dizer que a ida do Bolsonaro ao segundo turno não é de todo ruim, na medida em que seria um adversário mais fácil de ser derrotado. Não aprenderam nada com o golpe. Quem fez o que fez nos últimos dois anos, não tem disposição de aceitar um resultado diferente daquele planejado.

São vários os indícios de que o grande capital está abandonando Alckmin para apoiar Bolsonaro. Já devíamos ter aprendido que a classe dominante não tem qualquer compromisso com as liberdades democráticas.

Não temos tempo a perder. Intensificar a campanha do Guilherme Boulos e de todas as candidaturas da aliança PSOL, PCB, MTST e demais movimentos sociais. Sem, todavia, deixar de propor ações unificadas em defesa das liberdades democráticas e dos direitos trabalhistas, sociais e previdenciários.

No dia 14 de setembro completam-se seis meses do brutal assassinato de Marielle e Anderson. Um crime político, sendo que o próprio Ministro da Segurança Pública Raul Jungmann admite o envolvimento de milicianos e de políticos do Rio de Janeiro. Tomar as ruas para defender a punição dos assassinos e mandantes deste crime político é uma tarefa de todos que defendem as liberdades democráticas e combatem o discurso de ódio e violência propagandeado por Bolsonaro e seus apoiadores.


Paulo Pasin é metroviário e colunista do Esquerda Online, onde o artigo foi originalmente publicado.

0
0
0
s2sdefault