Correio da Cidadania

2018: persistência na ilusão da conciliação de classes?

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O ano que vai se iniciar traz grandes desafios para a classe trabalhadora brasileira.

No plano das lutas sociais, os movimentos sindicais e populares necessitam retomar desde os primeiros dias a resistência contra a Reforma da Previdência de Temer. Mas essa luta fundamental enfrenta dois grandes obstáculos.

O primeiro consiste na pressão conservadora, liberal, clientelista e corrupta do governo federal, ávido para atender aos interesses mais imediatos e tradicionais da burguesia e do capitalismo nacional.

O segundo reside na prioridade exclusiva do lulismo - e dos interesses burgueses de viés neodesenvolvimentista representados pelo PT - em seguir o calendário eleitoral de 2018 e defender prioritariamente o direito de Lula se candidatar a presidente.

Tal política de teor institucionalista e eleitoreiro faz com que a CUT e o campo popular centralizado no PT não se mobilizem na luta estratégica contra as reformas de Temer – até porque um eventual novo governo Lula seria favorável às reformas de mercado que o lulismo nunca combateu quando ocupava o Estado.

O desmantelamento da estabilidade da democracia burguesa no Brasil, visível nos últimos anos, decorrente dos efeitos da crise econômica mundial de 2008, continua revelando a verdade subjacente ao capitalismo periférico: nossa histórica desigualdade social, antes tão bem maquiada pelos governos de conciliação de classe do lulismo, perdura e volta a se explicitar.

Frente à demolição de suas ilusões, o PT faz sua única aposta possível, ainda mais rebaixada em termos populistas e messiânicos, pois não se sabe o que Lula poderia fazer, em termos de políticas sociais, sem o esteio econômico do agronegócio escravocrata e do neoextrativismo de nossas mineradoras destruidoras das populações tradicionais e dos ecossistemas.

Se no plano das lutas sociais, dos movimentos sindicais, populares, de mulheres, negras e negros e jovens, verifica-se disposição para ir às ruas contra Temer, no plano político-ideológico não há a correspondência esperada.

Parte da esquerda classista, notadamente a direção (artificialmente conquistada) do PSOL, parece querer recuar do projeto original do partido, nascido em 2003 justamente da luta contra a Reforma da Previdência de Lula. Insistir no fracassado programa democrático-popular do PT e retomar os laços com o lulismo podem significar não apenas o suicídio político-eleitoral do PSOL como partido autônomo, mas também virar as costas para a juventude trabalhadora que desde o início desta década, mais nitidamente a partir de 2013, tem ido às ruas tanto contra políticas neoliberais quanto contra políticas neodesenvolvimentistas (estas últimas, expressão justamente daquela plataforma democrático-popular: apoio às multinacionais brasileiras, às grandes obras e eventos etc.).

Tal guinada lulista do PSOL pode cristalizar-se na candidatura de Guilherme Boulos a presidente, que constantemente acena ao PT e recusa uma real crítica do legado da conciliação de classes.

O dilema que o PSOL enfrenta, contudo, não expressa um retrocesso político-ideológico, ao contrário do que aparenta. Na verdade, trata-se do lento processo de reconstrução dos movimentos sociais brasileiros, iniciado neste século, que mostra ainda seus limites na superação da trajetória histórica do PT e da CUT.

Por outro lado, as mais recentes experiências de combatividade social, em sintonia com as quais o PSOL surge, continuam e podem expressar-se numa candidatura presidencial baseada numa Frente de Esquerda Socialista com o PSTU, o PCB e outras forças políticas. A pré-candidatura de Plínio de Arruda Sampaio Jr. pelo PSOL tem chance de ser uma alternativa classista real à velha direita neoliberal e à nova direita lulista.

Para que tal hipótese prospere, será necessária a continuidade das lutas sociais contra Temer, bem como o discernimento de que as eleições não são o centro da luta de classes. Pelo contrário: elas refletem a cotidiana mobilização popular, organizada e politizada, verdadeiro motor das mudanças.


Marco Antonio Perruso é professor de Sociologia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, militante do PSOL e do ANDES-SN.

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