CNBB: governo esquece miseráveis
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Por Paulo dos Santos
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Em entrevista ao Correio, o Padre Alfredo Gonçalves, assessor da CNBB na área Pastoral Social, repetiu aquilo que muita gente já sabe, mas que a grande imprensa insiste em não divulgar: "a política econômica do governo privilegia grandes investidores estrangeiros, esquecendo milhões de miseráveis brasileiros", afirmou Gonçalves. O religioso explicou o apoio da entidade à Marcha dos Cem Mil e refutou a idéia de que a Igreja lhe "retirou apoio". Veja, a seguir, trechos da entrevista, realizada por telefone na última quinta-feira.

Correio: O Grito dos Excluídos será realizado no dia 7 de setembro. Qual o paralelo entre a manifestação e a data?

Pe. Alfredo Gonçalves: Segundo a organização do Grito, a idéia da realização do movimento no dia da Independência visa mostrar que o país continua dependente do capital externo, como nos mostra o acordo com o FMI.

Correio Qual a posição da CNBB em relação ao governo FHC?

Pe. Alfredo: A CNBB não se posiciona em relação ao governo. A CNBB se posiciona a favor dos direitos do excluído. Agora, o que nós temos visto no governo FHC é uma política econômica que defende o capital estrangeiro e as elites nacionais. E, obviamente, não estamos satisfeitos com uma política que esquece milhões de miseráveis brasileiros.

Correio: Houve um recuo da CNBB na Marcha dos Cem Mil?

Pe. Alfredo: – Não. A CNBB nunca participou da organização da Marcha. No entanto, mantivemos o nosso apoio o tempo inteiro. A CNBB participa da organização do Grito dos Excluídos e da Marcha dos sem-terra, que está prevista para chegar a Brasília no dia 8 de outubro. E nós apoiamos qualquer movimento popular de cunho social, que tenha uma reivindicação justa

Correio: O sr. acredita que as reformas do governo FHC chegarão a ajudar os excluídos?

Pe. Alfredo: Nós esperamos que sim, mas com muita desconfiança, pois, como já foi dito, a política econômica do governo FHC não visa atender aos excluídos, mas ao capital externo e à elite nacional.

Sem-terra programam participação no Grito

Não é a primeira vez que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra participa do Grito dos Excluídos. Pelo contrário. O MST faz parte da sua construção e organização desde sua criação, há 5 anos. E nem poderia ser diferente. Afinal, os trabalhadores sem-terra são alguns dos tantos excluídos do Brasil. Na entrevista realizada com Gilberto Portes, da Coordenação Nacional do MST, fica claro que, ao contrário do que afirma o presidente FHC, os que lutam contra o seu governo têm rumo. As alternativas ao modelo atual de administração defendidas pelo MST não são poucas. "Qualquer pessoa com um mínimo de bom senso reconhece a nossa causa que, enfim, é uma causa justa", diz Gilberto. Leia a seguir os principais trechos da conversa.

Correio: Por que o MST participa do Grito dos Excluídos?

Gilberto: O MST faz parte da construção, formação e organização do Grito dos Excluídos. Afinal, nós somos parte desses excluídos. O movimento do dia 7 de setembro quer despertar a população sem perspectiva para a luta organizada. Ou seja, para que, por intermédio desta luta, o povo brasileiro assuma seu lugar no Brasil e faça deste um país de fato independente. O Grito deste ano é exatamente "Brasil: um filho teu não foge à luta". A idéia é propor um modelo alternativo, um projeto que vise a soberania nacional, a cidadania de todo o povo brasileiro.

Correio: A exclusão social pode ser combatida através do desenvolvimento da pequena empresa na cidade e da pequena propriedade rural. Como o MST enxerga esta questão ?

Correio: Está provado que a pequena empresa gera muito mais emprego que as grandes corporações. Felizmente, o pequeno produtor não está contagiado com o propósito da exploração do trabalho, que leva, inclusive, à exclusão social. A nossa luta direta é pela pequena propriedade rural. Se o trabalhador produz para o auto-sustento, acaba empregando a sua família. O que sobra , evidentemente, ele vende e investe, criando mais empregos. Todos os países desenvolvidos fizeram a reforma agrária. A elite brasileira, no entanto, é burra, é atrasada. O Brasil é o segundo país com pior distribuição de terra e o primeiro em pior distribuição de renda. E um contexto injusto como esse leva indubitavelmente à exclusão social.

Correio: Há quem diga que o MST é unanimidade no povo brasileiro.

Correio: Não é 100 %, é claro, mas o apoio é grande. Qualquer pessoa com um mínimo de bom senso, um mínimo de sensibilidade reconhece a nossa causa que, enfim, é uma causa justa. O MST existe porque há uma parcela da população que quer trabalhar, mas não o faz pelo privilégio de uma minoria. O MST é uma semente de esperança que foi gerada pela exploração do latifundiário. Anuncia as mazelas sociais e propõe um caminho alternativo para o desenvolvimento de uma nação mais justa e igualitária.

Correio: Quais são as medidas imediatas que o MST defende ?

Correio: Posso citar para você quatro medidas que o MST propõe. Em primeiro lugar, o MST defende a suspensão das remessas de lucros para o exterior. É preciso que seja feita uma auditoria para rever isso, para que se estabeleça o investimento no Brasil destas remessas. Em segundo lugar, o MST defende a suspensão do pagamento da dívida interna. Enormes quantidades de dinheiro são destinadas aos grandes banqueiros, enquanto o povo brasileiro passa fome. Em terceiro lugar, o MST defende a suspensão do pagamento ao FMI. Nesse acordo que o governo fez, quem paga a conta é o contribuinte, pois o ajuste fiscal prevê o aumento de impostos. Enfim, o ônus do acordo vai diretamente para o povo. A outra medida que defendemos é o confisco dos R$ 7,4 bi que os bancos lucraram com a desvalorização da moeda e a sua aplicação direta em produção, saúde e educação.

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