Governo FHC é uma tragédia,
afirma ex-ministro Ciro Gomes

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O ex-ministro Ciro Gomes afirmou na semana passada que a política econômica do governo "só impõe sacrifícios e não leva a lugar nenhum". O governo FHC, na avaliação de Ciro, "é uma tragédia". Sobre o bate-boca com o presidente do Congresso, Antonio Carlos Magalhães, o ex-ministro foi irônico: "eu apenas disse que ele era sócio de Ângelo Calmon de Sá num banco nas ilhas Cayman e ele queimou no golpe".

Cáustico em relação ao presidente Fernando Henrique Cardoso, Ciro disse que o atual governo "é uma tragédia econômica e financeira". Disse também que o Brasil está com "a maior estatística de falências e concordatas, desemprego e inadimplência, além do maior índice de desnacionalização da economia. É uma tragédia pública, porque esse sacrifício todo não leva a lugar nenhum".

As críticas ao governo federal foram feitas em Juiz de Fora, onde Ciro esteve recebendo o título de cidadão honorário, concedido pelo governo do município, a partir de projeto da vereadora Maria Luísa Morais (PPB).

Candidato à presidência da República em 1998 pelo PPS, Ciro Gomes pregou uma aliança de centro-esquerda como alternativa para a "construção de um projeto que tenha como estratégia de desenvolvimento a poupança interna" e que procure "sair da dependência de agiotas internacionais". Para ele, o Estado tem que ser "parceiro de quem trabalha e produz, e não um vampiro que suga todo o esforço do trabalho em um sistema tributário que precisa ser mudado".

Ao mesmo tempo, o ex-ministro criticou a oposição: "a população não confia nos partidos de oposição. Teme o discurso radical e sectário, que é vazio. Não existem propostas, falam apenas de interesses corporativos. O que o povo quer é uma oposição capaz de fazer a crítica séria e contundente, mas que seja capaz de dar o passo adiante e assumir a responsabilidade de propor soluções". E arrematou: "O Brasil precisa de uma ampla aliança de centro-esquerda para sair do atoleiro em que está".

Bate-boca com ACM

O ex-governador do Ceará foi irônico em relação ao senador Antônio Carlos Magalhães, mesmo tentando evitar comentários mais ácidos. Provocado, no entanto, disse: "ele acha que as pessoas têm medo de enfrentá-lo. Eu não. Conheço o seu estilo agressivo e de tentar calar as pessoas com ameaças que não passam disso. Queimou no golpe quando mostrei a sociedade dele com Calmon de Sá. Não vejo vantagem em ficar batendo boca pela imprensa. Ele precisa aprender a ser criticado, não é Deus e nem todo mundo se chama Fernando Henrique e se cala quando o ACM grita".

Ciro Gomes admitiu que está correndo o Brasil na tentativa de seduzir lideranças para uma aliança de centro-esquerda capaz de enfrentar "o casuísmo que certamente vão montar para tentar continuar no governo. Temos que fazer isso e apresentar propostas concretas", mas negou estar trabalhando na montagem de uma nova candidatura presidencial. "Posso até ser candidato. As pesquisas mostram que estou em segundo lugar, atrás do Lula. Mas uma aliança pressupõe discussões outras e, no momento, não devemos falar em nomes".

Só o governador de Minas Gerais e ex-presidente Itamar Franco escapou da metralhadora giratória de Ciro: "é um homem sério, que assumiu o governo do país num momento delicado e conseguiu produzir resultados excelentes: 6% de crescimento ao ano e as menores taxas de desemprego da história. Ao seu modo, criou uma estratégia para que ganhássemos a batalha contra a inflação", afirmou.

Nas eleições de 1998, Ciro praticamente empatou com FHC em Juiz de Fora, cidade em que Lula foi o mais votado.

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Campanha de 2002 já começou


O ex-ministro Ciro Gomes (PPS) e o atual presidente do Congresso, senador Antonio Carlos Magalhães (PFL), já estão em campanha para a presidência da República. Ambos não sabem ainda se realmente serão candidatos —há muito chão pela frente—, mas os dois perceberam que a campanha de 2002 já está nas ruas.

A precipitação da próxima disputa eleitoral não ocorre à toa. Sua causa primordial é o enfraquecimento político do presidente Fernando Henrique Cardoso. Quando há um presidente forte, ninguém fala em futuras campanhas ou em mudanças no regime de governo, como vem acontecendo desde o início deste ano. Com um presidente fraco e vacilante, no entanto, as articulações começam cedo.

Assim, não há muita novidade no fato de ACM, Ciro, Mário Covas, Paulo Maluf, Anthony Garotinho e outros políticos do mesmo quilate estarem lançando balões de ensaio a fim de testarem suas forças e calibrarem seus discursos para o primeiro round das eleições gerais de 2002 —as eleições municipais do ano que vem. Este mesmo filme já passou há pouco mais de uma década, quando o Plano Cruzado fez água e o presidente José Sarney passou a governar sem mandar.

Naquela época, também havia uma base governista heterogênea, que começou muito cedo a lutar por espaço político para disputar as eleições de 1989. Nunca é demais lembrar que, naquelas eleições, todos os partidos importantes lançaram candidatos próprios, ao contrários dos dois últimos pleitos, em que as alianças entre os partidos foram a tônica.

A única novidade que se configura desde que o plano Real começou a fazer água está nas pesquisas de opinião. Elas mostram que a imagem do presidente FHC está começando a se dissociar da imagem que o povo faz do Real. Apesar do insucesso do plano, os brasileiros ainda acreditam na moeda e querem estabilidade, mas já não acham que Fernando Henrique é o sustentáculo desta ordem econômica. Pelo contrário: acham que é ele o responsável pelos altos índices de desemprego, pela recessão e pelo sofrimento dos mais pobres.

Se FHC não tirar um coelho da cartola e criar um outro golpe ilusionista da magnitude do plano Real, portanto, as cenas de bate-boca entre Ciro, Temer, ACM etc. vão se repetir. Resta saber se, tal como no tempo de José Sarney, há espaço para tanta disputa dentro da base governista. Ou se alguém vai querer puxar o tapete antes.

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