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Dona Etimologia vai à luta
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Gabriel Perissé
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Monteiro Lobato escreveu Emília no país da gramática, livro em que a boneca de pano, montada no rinoceronte Quindim, leva Pedrinho, Narizinho e o Visconde de Sabugosa para conhecer os habitantes de um mundo animado. Lá, os neologismos são jovens que andam soltos pelas ruas da periferia, à espera de autorização para morar no centro da cidade. Lá, o Verbo Ser, substância de todos os outros verbos, tosse um pigarro de séculos. Lá, a Senhora Sintaxe governa e dirige a concordância entre todas as palavras.

Lá vive também Dona Etimologia, uma velhinha muito da sabida, cuja casa está sempre entupida de filólogos, gramáticos e dicionaristas. E de escritores. Lygia Fagundes Telles, por exemplo, gosta muito de visitá-la para descobrir onde nasceram, que filhos têm, qual a essência de certas palavras aparentemente tão desprovidas.

Recentemente, Dona Etimologia resolveu fazer marketing e divulgar melhor os seus conhecimentos. Tem certeza que vai aparecer no "Jô" para contar ao público a história que se oculta por trás da face às vezes inofensiva de palavras que usamos sem a menor consciência.

Dona Etimologia sabe que enfezada é aquela pessoa que está cheia de fezes, e se sente mal, e briga com todo mundo, cheia de coisa ruim por dentro.

Dona Etimologia sabe que cosmético vem de cosmos. A mulher, quando sente que seu rosto está um caos, precisa dar uma ordem, organizar-se com batom, rímel, sombra, delineador, corretivo etc.

Dona Etimologia sabe que parabéns é uma advertência: —Você ganhou um carro? Parabéns. Para bens, para coisas boas, e não para males, certo?

Dona Etimologia sabe que ambição é querer ambas as coisas, é querer tudo, como ambulância é aquele veículo que anda para ambos os lados, para todos os lados, num constante ir e vir.

Dona Etimologia sabe todas as línguas, que guardam segredos intraduzíveis. Em inglês, por exemplo, friend, amigo, e freedom, liberdade, têm a mesma raiz. Pois uma grande amizade deixa-nos realmente à vontade.

Dona Etimologia sabe que aluno provém do verbo latino álere, que significa nutrir, alimentar, sustentar. O bom aluno se alimenta... do professor.

Dona Etimologia sabe que atestado de óbito é um documento sobre alguém que resolveu obire, outro verbo no latim, que significa ir na frente.

É, Dona Etimologia vai à luta: pretende publicar um novo dicionário, e abrir-nos os olhos para a verdade original das palavras.  perisse@uol.com.br

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