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Fernando Henrique Cardoso inicia nesta semana o segundo mês de seu segundo mandato. A julgar pelo que ocorreu em janeiro, FHC deve mesmo estar apreensivo com o que vem pela frente. Da moratória de Itamar à disparada do dólar, nada deu certo para o presidente. A impressão que se tem hoje é que FHC não encontrou uma fórmula para enfrentar as múltiplas crises que emergiram nas últimas semanas. A equipe do presidente teve, desde a eclosão da crise econômica, uma atuação pífia, para não dizer constrangedora. Mesmo analistas simpáticos ao governo têm reconhecido este fato. O presidente e sua equipe parecem desorientados. André Lara Resende, que deixou a presidência do BNDES desmoralizado pelo seu envolvimento no escândalo do grampo, foi chamado de volta. Pedro Malan, antes intocável, esteve em vias de ser substituído. Crise e parlamentarismo Se na área econômica a situação realmente não é nada animadora para FHC, no campo político, tudo é ainda mais complicado. No último domingo, o governo sofreu um golpe duro de onde menos esperava. Um dos maiores jornais entre a corte dos que o apoiavam a Folha de S. Paulo resolveu mudar o tom de seu noticiário. Em editorial publicado na primeira página, manifestou sua insatisfação com a política econômica a cobrou mudanças. No caderno cultural da mesma edição, a Folha publicou artigos recheados de críticas ao governo, da autoria de intelectuais como Celso Furtado e Conceição Tavares e José Luís Fiori. Para defender FHC, só o obscuro sociólogo Leôncio Martins Rodrigues. A mudança no comportamento da Folha é emblemática. Significa que Fernando Henrique começa a enfrentar problemas onde nunca os encontrou: na mídia. Mais ainda, é importante notar que a Folha é conhecida pelo faro que tem para detectar mudanças no cenário político. Os ataques ao governo FHC, entretanto, não param por aí. Dentro da própria base aliada começam a surgir propostas inimagináveis há dois ou três anos. Sem que se soubesse ao certo quem e como, começaram a aparecer notas na imprensa dando conta de que parlamentares tucanos estavam avaliavando a possibilidade de rediscutir o próprio sistema de governo. Tarso Genro e a renúncia O maior petardo disparado contra o Planalto na semana passada, no entanto, não partiu de sua base ou da mídia, mas da oposição, que, até então, quase não se fazia sentir. Na terça-feira saiu publicado (não por acaso na Folha de S. Paulo), um artigo de autoria do ex-prefeito de Porto Alegre Tarso Genro, político que vem sendo cotado para a disputar a presidência do PT. Depois de analisar a crise econômica e diagnosticar uma crise de credibilidade do governo FHC, Genro levantou uma proposta polêmica: a renúncia de Fernando Henrique, com a ressalva de que o presidente deveria encaminhar ao Congresso uma emenda constitucional convocando eleições para a presidência em outubro. De acordo com a proposta do líder gaúcho, o novo presidente eleito no final deste ano cumpriria um mandato-tampão de três anos (clique aqui para ler um artigo de Tarso Genro, exclusivo para o Correio, comentando a repercussão da sua proposta). As idéias de Genro causaram rebuliço. Muitos juristas renomados, como Eros Graus e Celso Antonio Bandeira de Melo, o apoiaram. Mas o que a proposta de Tarso mais recebeu, e de todos os lados, foi crítica. Na quarta-feira, FHC retrucou com um artigo do tucano Teotônio Vilella Filho, publicado no mesmo espaço onde Tarso havia lançado suas idéias, e do seu porta voz, Sérgio Amaral, ambos acusando o ex-prefeito de golpista. No campo da oposição, houve críticas e elogios. José Dirceu, presidente do PT, disse que a proposta de Tarso era "ingênua" e Lula tachou-a de descabida. Já o deputado federal José Genoíno gostou da análise que o ex-prefeito fez do momento político, mas discordou da proposta de renúncia de FHC. "Acho que a renúncia e idéia de novas eleições não são adequadas. A oposição deve continuar lutando para mudar a política econômica e credenciar-se, nesses quatro anos, como alternativa real de poder, dentro da institucionalidade." Se não colheu muitos elogios entre as lideranças de seu partido, Genro agradou os aliados da eleição de 1998. O deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB-SP), por exemplo, acredita que o ex-prefeito foi direto ao ponto: "é preciso entender que a proposta de Tarso possui um grande mérito, qual seja o de apresentar uma solução democrática para a crise. Frente o diagnóstico ingovernabilidade do país, seria muito justo que a população pudesse optar, logo, por alternativas para sair desta crise." Para o deputado do PCdoB, a situação do país é muito grave e o governo FHC não pode se arrastar por quatro anos sem que algo seja feito. "Quando uma situação semelhante ocorreu no final do governo Sarney, havia pelo menos a esperança de que as eleições que se aproximavam resolveriam os problemas. Agora, as próximas eleições estão marcadas pra 2002. É muito tempo." Impeachment Outra proposta que surgiu para resolver o impasse criado neste início de governo foi a do impeachment do presidente Fernando Henrique Cardoso. O deputado federal Milton Temer (PT-RJ) propõe uma ampla campanha das forças de oposição para forçar o Congresso a avaliar a idéia de destituir o presidente da República (clique aqui para ler o artigo de Temer onde a proposta do impeachment é lançada). "Se comparamos com Collor, somos obrigados a constatar que o primeiro Fernando não passava de um pivete trombadinha diante dessa intelectualidade tucana. E se a ele o povo destinou o impeachment, por que não pensar em algo semelhante para Fernando Henrique e seus cúmplices?", escreve Temer no manifesto pró-impeachment lançado na semana passada. Tudo somado, o fato é que o presidente Fernando Henrique não sonhava com um início de segundo mandato tão agitado. Mas o pior é que, pelo andar da carruagem, a crise está apenas começando... __ |
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