Zico é estrela de filme
infantil deste verão
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Por Sandra Seabra
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Como todo bom filme para crianças, Uma Aventura do Zico, de Antonio Carlos da Fontoura, também pode agradar aos adultos, pelo menos possui atrativos para tanto. A começar pelas embaixadas e demais cenas do craque com a bola, um consolo para quem passou toda a Copa da França querendo reverenciar algum craque brasileiro sem conseguir.

Preparado pelo ator, diretor e professor de teatro Roberto Bomtempo, Zico também não desaponta ao interpretar seus, digamos, três personagens. Nas cenas iniciais, Zico interpreta ele mesmo, o que não foi tão difícil já que, segundo o jogador, valeu a experiência com a realização de peças publicitárias e entrevistas diante das câmeras.

Toda a trama desta aventura está centrada no que vem depois que o pedido de um menino mimado, Fred (Gabriel Gabriel), é atendido pelo seu pai (Jonas Bloch), dono de uma grande empresa que realiza experiências genéticas.

Preterido pelo concurso nacional que escolheu 22 garotos para terem aulas com Zico, o garoto exige a duplicação do craque para que o tenha como treinador exclusivo. A duplicação é realizada pela professora Judith Bernstein (Betty Erthal), mas com um equívoco: a personalidade de Zico se divide entre um jogador/treinador austero, cuja visão do futebol é mais empresarial do que apaixonada e um Zico pagodeiro, o Zicópia, que, surgido da duplicação, mal tem noção da sua fama. Ele só vai se lembrar de que tem fome de bola quando foge da mansão de Fred e chega a Quintino, localidade carioca onde Zico cresceu na vida real. Lá ele reencontra os pagodeiros e um velho parceiro de peladas (Paulo Gorgulho) e se diverte a valer.

A descontração de Zico interpretando o Zicópia foi tal que o jogador/ator se deu ao luxo de improvisar diante das câmeras. Foi em uma cena em que ele entra em campo, rouba um boné e o coloca de lado, homenageando assim o comediante Golias, de quem o craque é fã. É como Zicópia que o jogador convence —e ganha— o espectador.

A partir daí, os garotos treinados por Zico passam a conviver com a dualidade que acompanha o futebol: arte se contrapõe à força, gingado ao apuro técnico, talento nato ao esforço de aperfeiçoamento.

Copa de 90 inspirou diretor

Antonio Carlos Fontoura, que além de diretor é o autor da história, voltou a filmar depois de 14 anos de jejum. Tem em seu currículo uma lista de curtas e médias metragens, quatro longas, entre eles Copacabana me Engana (68), e inúmeros trabalhos de direção para tevê, como o programa Você Decide, além das minisséries O Chapadão do Bugre e Capitães de Areia.

O argumento desta aventura lhe surgiu em 1990, durante a Copa do Mundo, inspirado pela animação da torcida infantil. A idéia original era a de que o craque de futebol tivesse seus talentos roubados. O projeto não foi adiante devido à crise na produção cinematográfica brasileira, mas posteriormente o mote principal foi devidamente explorado em Space Jam, onde a estrela do basquete norte-americano, Michel Jordan, tem seus talentos roubados por uma trupe —em desenho animado— de alienígenas. Descartada essa possibilidade, a duplicação, inspirada na clonagem da ovelha Dolly acaba por solucionar o roteiro e até trouxe mais possibilidades ao filme.

A trilha sonora foi composta pelo músico David Tygel. Fontoura ainda incluiu outras músicas como "Galinho de Briga", composta por Fagner especialmente para Zico. Por um triz o filme não rola solto como a bola nos pés de Zico. Nos vinte minutos finais, dá para sentir que o clímax está demorando. O que pode segurar a atenção do público infantil nesse escorregão é o forte colorido da fotografia e, em momento apropriado, a canção do grupo Skank, " É uma partida de futebol", velha conhecida da garotada.

Turma dribla bola e câmera

O elenco mirim foi escolhido entre 500 candidatos, exceto Felipe Barreto Adão, que interpreta Tuca, o garoto que veio do morro carioca Dona Marta. Felipe é neto dos produtores do filme, Lucy e Luiz Carlos Barreto, e filho de Claúdio Adão, ex-jogador do Flamengo. O menino Kazuo, " representante" do bairro da Liberdade, São Paulo, é interpretado por Rodolpho Fukamati; Dida, que vem do Nordeste, quem vive é o garoto Dado Oliveira.

Por fim, entre os personagens mirins que se destacam na história, está Lula, uma menina que se disfarça de garoto para poder ter aulas com Zico. No filme, ela vem de Alegrete, sul do país, mas Carla Gomes —a atriz mirim estreante— é carioca. Seu desempenho é elogiado pelo preparador de atores Roberto Bomtempo e pelo diretor. Uma das façanhas de Carla é o sotaque sulino, que em muitas cenas não convence mas que mostra seu esforço. Na ficção, é a única a sacar que algo está errado com o craque e persegue a cientista maluca até descobrir a duplicação. Também sobrou para Lula a honra de levantar o moral das garotas —ela joga futebol na vida real— e protagonizar a cena que aponta o vencedor do embate entre arte e força. As garotas vão adorar.

Só incomoda na caracterização dos personagens das crianças o excesso de elementos. Kazuo, por exemplo, não precisaria carregar em sua mala uma miniatura de Buda para mostrar sua descendência oriental, bastando seu tipo físico e o diálogo em que ele afirma sua origem.

Em termos de produção, as boas novas são duas. Primeiro a utilização de efeitos especiais convincentes, possíveis por meio de tecnologia norte-americana. Segundo, que dos US$ 4,2 milhões gastos, U$ 3 mi advêm da emissão de Certificados Audiovisuais (incentivo fiscal) e o restante do caixa da produtora. Digamos que com Uma Aventura do Zico, a LC Barreto conseguiu cumprir um quarto do sonho de uma indústria auto-sustentável. Resta torcer para que a produção colha dividendos.
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