Correio da Cidadania

Mídia ‘desconstrói’ MST na exata medida em que movimento ameaça Status Quo

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A maior ameaça à estrutura fundiária no Brasil e, consequentemente, ao Status Quo da elite brasileira, hoje, é o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra, o MST. Não pelo seu grau de radicalidade, mas pela densidade e volume que tomou.

 

A campanha que a mídia em geral faz para desconstruir o MST para um público mais amplo - e que poderia pender para a simpatia para com o movimento ao analisar de maneira mais objetiva a causa da distribuição de terra e produção de alimentos - é proporcional ao tamanho da ameaça e do potencial que esse movimento representa.

 

Para isso, todos os grandes jornais de circulação nacional que abordaram, por exemplo, o caso da fazenda da Cutrale se utilizaram de uma linguagem que condenava a priori o MST, que tratava o "vandalismo" dos militantes do movimento como fato dado. Para em seguida postar algo como "outro lado" e dar um ar de debate democrático.

 

É claro, esse método não é novidade, ele é utilizado em todas as coberturas relativas ao MST e aos movimentos sociais em geral, em particular os mais contestadores da ordem vigente. A forma como os textos, especialmente nos jornais Folha de S. Paulo e Estado de São Paulo, são construídos cria uma série de pressupostos que são assimilados ao senso comum como verdade na base da inércia. Pressupostos como: o agronegócio é bom para a população, para a economia e representa o progresso; o MST se associa com tudo que há de arcaico, ultrapassado no Brasil; propriedade é para ser respeitada, cada um faz o que quer com a sua, entre outros.

 

E esse método vem ainda acompanhado pelo mito da imparcialidade na mídia, que mais uma vez mostra a força que tem. Os veículos de comunicação de massa têm a capacidade de criar um senso comum, uma base "mínimo denominador" para a formação do ideário do grande público, com o verniz de debate isento e factual.

 

A Cutrale e os fatos

 

Vamos aos fatos: a Cutrale grilou as terras da fazenda que teve seus pés de laranja destruídos. A empresa que hoje detém 30% do comércio de suco de laranja no mundo está assentada, há anos, sobre solo grilado, de maneira criminosa.

 

A Cutrale impõe condições de trabalho absurdamente degradantes aos seus trabalhadores, em desacordo com qualquer lei trabalhista.

 

Entre os movimentos sociais campesinos e o agronegócio, que tem como um de seus maiores representantes a Cutrale, há dois projetos de produção de alimento. O agronegócio trata comida como uma commodity, um produto a ser comercializado. O modelo de agricultura familiar vê a produção como forma de alimentar a população com comida de qualidade, livre de agrotóxicos e venenos. Ao contrário do senso comum que vê a "modernidade" da produção, ou seja, o uso de aditivos químicos, adubos etc. como algo por essência positivo, o modelo dos movimentos questiona essa noção.

 

Segundo a nota do MST após a incessante exibição das imagens da fazenda depredada – aliás, uma das formas corriqueiramente adotadas pela mídia para incutir uma determinada visão da realidade -, "a Constituição Federal estabelece que devem ser desapropriadas propriedades que estão abaixo da produtividade, não respeitam o ambiente, não respeitam os direitos trabalhistas e são usadas para contrabando ou cultivo de drogas". E o movimento afirma, pela mesma nota, que "as leis a favor do povo somente funcionam com pressão popular".

 

Quanto à versão construída pela mídia, a partir das imagens pretensamente vinculadas à depredação da fazenda e intensamente veiculadas, a direção estadual do movimento de São Paulo admitiu que os militantes derrubaram pés de laranja e fizeram algumas pichações para deixar registrado o protesto contra a grilagem da área. Porém, fez várias ressalvas às acusações relativas à destruição e roubo de casas, depredação de tratores e roubo de combustíveis e venenos. "Como tudo isso poderia ter sido feito por famílias que estiveram o tempo todo cercadas pelas tropas da Policia Militar, sempre munida de câmeras filmadoras, com apoio de helicópteros, e que, no despejo, foram colocadas em cima de dois caminhões da própria multinacional Cutrale? (...) Por que tendo recebido imagens da destruição dos pés de laranja ainda no dia 28 de setembro, somente no dia 5 de outubro a Rede Globo resolveu exibi-las e o fazer de forma tão apelativa? Os representantes do agronegócio e a bancada ruralista precisavam de algum argumento que justificasse mais uma tentativa de instalação de uma nova CPI contra o MST".

 

No que se refere à depredação de tratores, a direção estadual acrescenta ainda que as imagens que vêm sendo veiculadas mostram tratores e peças que já estavam abandonados e desmontados antes de as famílias chegarem lá. Ademais, "como seria possível as famílias furtarem 15 mil litros de combustíveis e toneladas de veneno sendo escoltadas pela PM e transportadas em cima de uma carroceria de caminhão?", indaga a direção estadual.

 

A ocupação é a arma mais eficaz de pressão popular ao alcance do movimento. E justamente por ser tão poderosa é atacada com tanta ferocidade pela mídia grande, que não é imparcial e isenta, mas precursora dos interesses das elites, dentre os quais os grandes latifundiários.

 

Rodrigo Mendes é jornalista; Correio da Cidadania.

 

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Comentários   

0 #10 cutucar a onça com vara curtacarlos alberto de souza 02-12-2009 19:29
É meu caro Hidalgo contrariou alguns "companheiros"com seu comentário,contrariou de maneira sutil ideais legítimos,democráticos,com ações pouco convencionais,mas afinal o movimento é por uma boa causa.Isto justifica os meios!!!
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0 #9 Um outro ângulo de visãoJoão Carlos Bezerra de Melo 18-10-2009 17:03
Somente a pequeno-burguesia ignorante e colonizada desconhece a farsa midiática encenada com o objetivo de demonizar os movimentos sociais e o mais aguerrido deles, sem dúvida, o MST. Os defensores da proclamada legalidade e do respeito ao direito de propriedade, uma excrecência dinossáurica, fingem desconhecer que as terras que são apresentadas pela mídia como pertencentes à referida gigante do agro-negócio tóxico são, a rigor e verdadeiramente, da União, o que equivale a dizer, são do povo trabalhador.
Em suma o que somente me faz discordar da ação desses novos heróis da luta fundiária é o seu exagerado comedimento. Grileiros latifundiários e a sua capangagem têm que ser mortos.
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0 #8 Má informação e conservadorismoMá informação 16-10-2009 05:14
Prezado Hidalgo

Realmente não és nem latifundiário e nem elite, mas tens a informação, sentimentos e maneira de ver o mundo a partir dos parâmetros que a mídia que está a serviço das classes dominantes bombardaiam a sociedade.

Além, a meu ver, de uma dose surpreendente de conservadorismo para alguém que lê o Correio da Cidadania, a não ser que seja pela tarefa ou desejo de apenas ler o que seja criticável, por você.

Será muito difícil ro,mpermos com a dominaçãpo econômica na base do "boa tarde", Boa noite" ou do "como estás". Algo mais forte terá de ser feito, embora sejamos mais fracos do que as forças que combatemos..

A minha crítica ao MST é exatamente sob o ponto de vista que eaui externas. Minha crítica é pelo fato da DIREÇÃO do MST ter sido muito cordata com o governo este tempo todo, e ainda agora hesitar em criticar e romper com Lulla.

E temo que o MST deixou-se fragilizar muito para toamr esta posição.
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0 #7 MSThidalgo mores alves 14-10-2009 19:10
Não sou elite nem latifundiário e fiquei assustado com a ação mostrada.
Não aconteceu? Cabe ao movimento julgar a fábrica com as proprias mãos?Posso julgar e matar alguém que me maltratar e humilhar? O MST não recebe recursos de fora?
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0 #6 MST e CUTRALEHélio Querino Jost 14-10-2009 18:22
A mídia não noticiou os fatos, DISTORCEU-OS. Assim como a "pesquisa" encomendada pela CNA ao Ibope divulgada pela mídia traz uma versão e quando se analisa a mesma, vê-se que os fatos são outros. Míseros hectares, atribuídos a cada assentado, atendem a função social quando produzem, ao menos os alimentos do assentado e sua família. Isso com o mínimo de assistência técnica e SEM SUBSÍDIO ALGUM. O agronegócio grila terras, planta com dinheiro tomado do Bco. do rasil a juros máximos de 8% ao ano e produzem para exportação. O que querem? Que essas milhares de famílias venham para a periferia das cidades jão inchadas e cheias de crimes?
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0 #5 Se não é por isso , é por aquiloRaymundo Araujo Filho 14-10-2009 15:40
Se não for por ocupar, será por protestar, ou até mesmo criticar em manifestações, ou qualquer coisa. O que querem é um MST cordato e "parceiro". Aí é mamão com mel.

Este momento de grave derrota e isolamento midiático, pela classe política e pelegada de sempre, a meu ver, é o resultado de 6 anos de participação da Direção do Movimento na tal "blindagem do Lulla", inclusive com rechaços políticos e profissionais de todos aqueles que tinham e têm críticas, não "parceiras" ao governo, ao Lullo Petismo e seus aliados. Mas que ousaram na Oposição pela Esquerda, e ainda criticando os dirigentes do Movimento, por dsua conduta de franca defesa "das conquistas populares no governo Lulla".

A resistência em urbanizar o debate, trazendo para as cidades a ocupação de espaços com acampamentos permanentes do MST, para discutir com a população o que se passa no campo, teve como base as falas que ouvi de muitos deles, tipo "o debate pode resvalar no governo do companheiro Lulla, ao qual apoiamos".

Ainda hoje são tímidas as críticas e ações claramante anti governo, sempre amparado por alguma "negociação" com Lulla. Agora é sobre o índice de produtividade, que estão "cozinhando o galo", se é que me entendem.

Esta traição de Lulla e seus próceres ao MST, e a fragilização do Movimento frente à opinião pública, altamente manipulada é, em parte, o resultado das camisetas "Lulla, mecheu com ele, mecheu comigo" e "100% Lulla", que o MST desfilava nos FSMs em Porto Alegre, em franca postura agressiva contra muitos que estavam na Oposição à Esquerda, os chamando de tucanos e direitistas. A segregação de profissionais de campo que eram críticos ao governo também foi prática destes, em uma segregação e negativa de trabalho odiosa e autoritária.

Agora, aqueles ue Stédile e o MST defendiam de nossas críticas, são os seus algozes (A Ex-Esquerda corporation S.A.), enquanto nós, solidariamente defendempos o MST, mesmo os achando politicamente muito fracos e com a base totalmente manipulada por Generais Sem Exército, Sem Formulações Adequadas e de Fraco Conteúdo.

Mas, estamos aí para ajudar no que for preciso.....
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0 #4 Mídia ‘desconstrói’ MST na exata medida oton gomes de amorim 14-10-2009 12:14
Não há como negar. O MST realmente não está agindo com correição. Há muito vem usando de atitudes radicais, que não levam o movimento a lugar algum. Por outro lado, não comungo com a idéia de muita terra em mãos de poucos grupos, mas atitudes radicais como as mostradas pela mídia só ajudam esses poucos grupos a manterem suas terras, griladas ou não.Já é hora desse movimento tomar atitudes maduras e inteligentes, buscando os meios corretos para pleitear seus objetivos. Ou será que a grande mídia está certa? Não podemos nos esquecer das grandes verbas públicas que chegam ao MST através das ONGs. A quem realmente interessa essa radicalização de ações? Acredito a resposta a esta pegunta deixará mais límpida as águas turvas que lameiam as ações de ambas as partes deste embate: grandes proprietários e sem-terras.
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0 #3 José Tadeu Genaro 14-10-2009 09:06
Rodrigo;

Para completar o perfil da cutrale, além da forma como trata seus trabalhadores é indigna sua relação com os pequenos produtores de laranja que fornecem a ela. O produto deve ser entregue na porta da usina, os custos do transporte fica a cargo do produtor, oferece um preço extremamente aviltado e com um prazo de pagamento de no mínimo três meses.
Falo isto porque meu pai já foi fornecedor desta "empresa"
Não é atoa que ele detem 30% do mercado de suco de laranja, a este custo social.

sds

J. T. Genaro
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0 #2 SERÁ QUE A MÍDIA É PARCIAL?Hélio Mendes Cazuquel/FUNDAÇÃO 14-10-2009 08:48
Depredação do bem privado e do bem público é crime. Invasão de propriedade privada também é crime. O que resta ao MST fazer para combater a elite fundiária e promover a reforma agrária no Brasil? Que respondam os especialistas. Sei que não compete aos Jornalistas dizer o que fazer para concretizar a distribuição de terras, e sim noticiar os fatos. Onde está a Dialética? Onde está o respeito aos direitos fundamentais de todos? Respondam:
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0 #1 Lauci Lemes 14-10-2009 08:45
Acredito que a midia, pequena entra nesse \"senso comum\" e prolifera esses \"fatos\" da grande midia sem ao menos questionar o conteudo e a forma que ela se apresenta. Problemas modernos da informação imediata, rapidez sem critério. Não seria hora do MST, planejar não só as ações, mas o impacto midiatico de forma mais moderna? Não sou jornalista, não sei como fazer, mas poderia se pensar!
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