Correio da Cidadania

A invasão da futura sede da CBF

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No último dia 30 de junho, domingo que marcou a final da Copa das Confederações no Rio de Janeiro, a Frente Nacional dos Torcedores (FNT) fez um ato, às 10h, em que ocupou pacificamente a futura sede da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio. Torcedores e militantes vindos de Porto Alegre, São Paulo e do próprio Rio de Janeiro pularam os muros da nova sede da CBF, ainda em construção, e ocuparam a área externa do prédio, entoando canções de protesto acompanhadas de bateria, murga, trompetes, faixas, bandeiras e sinalizadores que demarcavam suas pautas.

 

A polícia militar apareceu no local em três viaturas e negociou uma retirada dos manifestantes de dentro do prédio sob ameaças de uso da força. Após negociação entre a PM e o advogado da FNT, os manifestantes se retiraram do prédio e protestaram na rua, em frente ao prédio, deixando claro o caráter da manifestação que terminou por volta do meio dia.

 

A principal reivindicação do dia foi a saída imediata de José Maria Marin da presidência da CBF e do Comitê Organizador Local (COL) da Copa do Mundo. Marin é acusado de fazer pressão, nos tempos da ditadura militar, para forçar a prisão do jornalista Vladimir Herzog, posteriormente assassinado nos porões do DOI-CODI, em 1975. "É um absurdo que o futebol esteja nas mãos de um cara que contribuiu publicamente com a tortura", afirmou Luiz, 27 anos.

 

Além da saída de Marin, a FNT também exige a revogação da Lei Geral da Copa, a transparência e uma prestação de contas pública da CBF. Em outras palavras, pedem uma abertura da política e das contas da entidade, além uma nova regulamentação desportiva para o país, a ser feita em conjunto por torcedores, atletas e outros setores envolvidos, a fim de garantir a participação popular nas decisões ligadas ao futebol, com vistas à democratização do esporte.

 

Também criticaram a elitização desenfreada que vem sendo imposta ao futebol brasileiro e que afasta antigos torcedores, de camadas sociais menos privilegiadas, dos estádios. Para os militantes, essa elitização é representada principalmente pelos preços abusivos dos ingressos dos jogos e pela destruição dos antigos estádios, que hoje dão lugar às “arenas multiuso” exigidas pela FIFA. Algo que, de acordo com a visão da FNT, mina as características culturais do torcedor brasileiro.

 

Você pode ler o comunicado oficial da FNT, a respeito do ato do último domingo, na íntegra, abaixo:

 

Rio de Janeiro, 30 de junho de 2013

 

A Frente Nacional dos Torcedores, movimento que luta por um futebol justo, democrático e popular, ocupou a nova sede da Confederação Brasileira de Futebol para que finalmente nossas exigências sejam atendidas.

 

Não nascemos ontem nem somos ligados a qualquer dirigente esportivo. Somos a Frente do Torcedor, a Frente que luta por mudanças no futebol, a Frente que lutou pela saída de Teixeira e que agora quer a saída imediata de José Maria Marin da CBF e do COL-2014.

 

Queremos a regulamentação desportiva em busca de democratização, transparência, moralidade, popularização e participação popular nas instâncias decisórias da organização do esporte.

 

O Torcedor é quem sustenta o sistema do futebol. O Torcedor é a célula-mãe de toda a grandeza do futebol. Estamos aqui e não podemos ser ignorados! Queremos participar diretamente da escolha do novo presidente da CBF, queremos a abertura das contas da CBF e, mais, a abertura política da CBF.

 

O futebol brasileiro vivencia um processo de elitização teatral. Os estádios populares estão sendo transformados em arenas elitistas, as arquibancadas estão sendo encadeiradas e nossa cultura popular torcedora está sendo reprimida com o avanço desse modelo submisso aos interesses da máfia da bola e da FIFA.

 

O higienismo social é cada vez maior com os valores absurdos dos ingressos. A pasteurização das torcidas é intensificada com os recorrentes casos de abuso policial, aplaudidos por uma grande mídia vendida que deseja criminalizar a cultura torcedora.

 

Estivemos nesse castelo da corrupção que custou milhões de reais para exigir a saída imediata de José Maria Marin (vulgo Zé Medalha) do comando da CBF e do Comitê Organizador Local da Copa 2014. José Maria Marin deve renunciar ao cargo, pois não possui qualquer capacidade político-administrativa, nem mesmo tem aptidão moral para seguir no comando da CBF.

 

Da mesma maneira, o governo brasileiro deve impor a saída de Marin do COL-2014, afinal, um filhote da ditadura não pode conduzir a Copa do Mundo. O lugar de Marin é na Comissão Nacional da Verdade ou em alguma clínica de reabilitação para cuidar de sua cleptomania.

 

Fora Marin!

 

Exigimos, igualmente, a votação e aprovação da PEC 202/2012!

 

A PEC Dr. Sócrates visa regulamentar a organização do esporte. O governo brasileiro precisa estar posicionado de modo favorável a esse crucial avanço no combate à máfia da bola. Todo poder do futebol deve ter acesso aos Torcedores.

 

A regulamentação deve ser construída com participação direta de torcedores e atletas.

 

Regulamentação desportiva já!

 

Queremos a revogação da Lei Geral da Copa nos pontos que rebaixam a soberania nacional perante a máfia da FIFA. Reivindicamos a urgente rejeição ao PLS 728/2011, que criminaliza o direito de protesto, estabelecendo a ditatorial tipificação do crime de terrorismo.

 

Protesto não é crime!

 

Por ingressos populares e com livre direito cultural de torcer: por uma Copa do povo! O Brasil pode fazer a Copa sem receber chutes no traseiro dessa instituição corrupta. Amamos o futebol, odiamos a FIFA!

 

Fora FIFA!

 

Exigimos a indispensável criação de uma comissão legislativa com participação direta dos Torcedores para a criação de um novo estatuto do Torcedor. Exigimos um novo Estatuto do Torcedor a ser construído diretamente pelos Torcedores! Pela volta da festa nos estádios, por ingressos populares, pelo fim da violência no futebol, por uma nova lei contra abuso policial!

 

Um novo estatuto do Torcedor é indispensável

 

Exigimos, por fim, o estabelecimento de um diálogo direto com a presidente Dilma para resolver tais questões, sem intermediários e sem o peleguismo de Aldo Rebelo e dos articuladores do Ministério do Esporte.

 

Como mulher que sofreu durante a ditadura militar, Dilma deve contribuir verdadeiramente pela saída de Marin, e pelo fim da ditadura da máfia da bola. O futebol precisa de democracia!

 

Sócrates e João Saldanha estão conosco agora e sempre. A conscientização torcedora avança. Avança a luta torcedora! As Torcidas estão nas ruas: a maior arquibancada do Brasil.

 

Fora Marin! Regulamentação Desportiva JÁ! Um outro futebol é possível!

 

Um futebol justo, democrático e popular!

Frente Nacional dos Torcedores FNT

VERÁS QUE UM TORCEDOR NÃO FOGE À LUTA

www.frentedostorcedores.com.br

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Leia também:

A Batalha da Tijuca

 

Raphael Sanz é jornalista.

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