Correio da Cidadania

Como ganhar mais medalhas?

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Estamos em época de discussão acalorada sobre o desempenho do Brasil nas Olimpíadas e o que fazer, nas próximas, para ganhar mais medalhas. Sugere-se que as empresas financiem mais o esporte, melhoria da política governamental, maior incentivo à prática de esportes em escolas e até renúncia fiscal para entidades promotoras de esportes. Todas estas opiniões fazem nexo, mas fica a pergunta: o que é o principal? Ou seja, quais são os fatores que mais acarretam a conquista de medalhas?

 

Para responder à pergunta-título, é necessário fazer uma investigação completa. Por isso, lanço a seguir uma proposta de conjunto de fatores geradores de medalhas. Não sou especialista em esportes, mas, com todo respeito, não preciso ser um para poder opinar. Os especialistas não emitem, necessariamente, as melhores opiniões para explicar o porquê de um país não ganhar tantas medalhas. Também não tenho a pretensão de que o conjunto de fatores gerados por mim forme um todo acabado e definitivo.

 

O nascimento de um ser humano em determinado país com as características ideais para ser um esportista, como a constituição biológica, a resistência ao treinamento e o seu crescimento saudável até transformar-se em um atleta, é um evento aleatório. No entanto, a frequência de ocorrência deste evento pode ser explicada por alguns fatores. Certamente, dependerá do tamanho do universo de onde brotarão os eventos aleatórios, donde se conclui que a população existente no país é um fator relevante. É claro que influencia, também para a conquista de medalhas, o PIB do país, uma vez que quanto maior o PIB maior será o orçamento governamental para educação, saúde e esporte. Maior serão também as receitas das empresas, o que significa maior capacidade de financiamento esportivo.

 

Desde antes do nascimento até completar sua fase de crescimento, o potencial medalhista olímpico precisa receber todos os cuidados médicos e alimentares, que o permitam ter uma saúde perfeita. Um desperdício para o país é a aleatoriedade de colocar o nascimento de um potencial atleta em seu chão e, logo depois, o recém-nascido constar das estatísticas de mortalidade infantil ou subnutrição. Neste momento, não estou me atendo ao choque que é a morte ou a subnutrição de qualquer ser da nossa espécie só a potenciais atletas. Assim, o índice de desenvolvimento humano (IDH) e o índice de Gini do país também são relevantes para explicar o número de possíveis atletas e medalhistas olímpicos.

 

Usarei o índice de Gini para ajudar a explicar o fenômeno caracterizado pelo aparecimento de um atleta olímpico, porque este índice mede a distribuição de renda e mostra a eventual desigualdade existente no país, que pode existir graças à participação de miseráveis na população. Quanto menor o índice de Gini, melhor a alimentação do povo, maior o acesso à educação e cultura, melhor a prática de esportes e, como conseqüência, maior a chance de aparecerem atletas. Do conjunto dos miseráveis, nunca surge um atleta olímpico. O IDH é composto de alguns subíndices com relação direta com o número de medalhas conquistadas, mas outros sem nenhuma relação direta.

 

Continuando, incentivos governamentais ao esporte, investimentos estatais e privados, a valorização do esporte na sociedade, pesquisas e desenvolvimentos tecnológicos voltados para o esporte, o desenvolvimento de treinadores com fundamentos científicos, dedicação dos atletas, o orgulho pátrio do atleta a aumentar sua motivação podem também ser considerados como influências para decisões olímpicas. Por outro lado, não existem dados de todos os países para as novas variáveis independentes e, por isso, não foram utilizadas, significando que o modelo desenvolvido é o possível e não o ideal.

 

A estatística possui a ferramenta chamada “análise de regressão”, que serve para avaliar a importância de cada causa na ocorrência de um acontecimento. Assim, ela serve para identificar os fatores explicativos de “como ganhar medalhas em Olimpíadas”. Para a aplicação da análise de regressão, neste caso, foi tomada a Olimpíada de 2008 em Pequim e foram utilizados dados de 139 países. Alguns países com menos de 700.000 habitantes, sobre os quais houve enorme dificuldade para obtenção de informações, foram abandonados. Eles possuíam quatro medalhas do total das 958 entregues aos vencedores em Pequim. Não é usado o resultado da atual Olimpíada, de Londres, porque não existem os valores dos demais dados necessários, visto que o ano de 2012 ainda não acabou.

 

Foram utilizados como variáveis explicativas ou independentes a população, o PIB, levantado com o uso da paridade do poder de compra, e o índice de Gini. Obviamente, a variável dependente foi o número de medalhas conseguidas. Não foi dado valor aos diferentes tipos de medalhas e, desta forma, as de ouro, de prata e de bronze foram somadas indistintamente. Mas se quiserem refazer este estudo dando valor diferenciado para elas, é possível. Várias dificuldades encontradas no levantamento dos dados não vão ser aqui descritas para não cansar o leitor, restando somente informar que os índices de Gini, que deveriam ser do ano de 2008, como são os demais dados, foram obtidos de diversas épocas, porque os países não o calculam anualmente.

 

O coeficiente de correlação obtido foi de 0,854, significando que as variáveis escolhidas bem explicaram o número de medalhas ganhas. Reluto em colocar aqui a equação de regressão, pois muitos leitores se sentirão agredidos com tamanha rigidez algébrica. Mas, para satisfazer os amantes de estatística, obtive:

 

Medalhas = 0,00901 x PIB (em US$ bilhão) – 0,00042 x População (em milhão de habitantes) – 0,25993 x Índice Gini (entre 0 e 100) + 12,75445

 

Salvo melhor interpretação desta aplicação de regressão estatística, o alto índice de Gini do Brasil (51,9), que reflete a má distribuição de renda do país, influi para que seja tão baixo o número de medalhas do país. Medidas para melhorar a política de esportes e muitas outras, que se ouvem nos dias atuais, certamente devem ser tomadas. Mas não desprezem a melhoria do índice de Gini, que traz não só o benefício de mais medalhas, como também uma sociedade menos injusta e, com isso, mais apaziguada.

 

Para concluir, lembro que a melhoria do índice de Gini de um país só repercute em aumento do número de medalhas depois que os recém-nascidos já submetidos ao melhor tratamento (pois seus pais e eles próprios saíram da condição de miseráveis) estejam crescidos. As crianças nascidas no passado sob carências extremas estão mortas para o esporte. Assim, os novos, de maior sorte, só vão aparecer eventualmente como grandes esportistas, no mínimo, após completarem 16 anos de idade.

 

Assim, nas Olimpíadas de 2024, os esforços dos presidentes Lula e Dilma, que em seus mandatos tiraram contingentes de brasileiros da miséria e, com isso, melhoraram o índice de Gini, vão ser notados. Certamente, o Brasil ganhará mais medalhas no referido ano por diversos fatores, inclusive este.

 

Paulo Metri é conselheiro da Federação Brasileira de Associações de Engenheiros e do Clube de Engenharia.

Comentários   

0 #1 Tava indo tão bem....Raymundo Araujo Filh 17-08-2012 11:14
O título deste comentário é um bordão que o grande ator e humorista Brandão Filho, nos brindava através do personagem Sandoval Quaresma, um aluno da Escolinha do Prof. Raimundo. Rendo aqui mais uma homenagem aos grandes humoristas brasileiros, em especial ao citado, hoje em desvantagem competitiva com os políticos, só que de maneira muito sem graça.

Já escrevi aqui em outras ocasiões que considero o Paulo Metri o mais bem preparado intelectualmente engenheiro que circula no âmbito da AEPET e Clube de Engenharia entre outras atividades de uma pessoa que, sem dúvida, não se omite e posiciona-se sem tergiversar suas opiniões (não que esta minha opinião seja uma afirmação inconteste do que é bom ou ruim, mas é a minha opinião).

Mas, concordar com as conclusões e projeções do engenheiro são outros quinhentos, pois acho que, se discorre muito bem sobre seus dados e índices, creio ter se aventurado em uma espécie de "oraculismo" sobre acontecimentos para daqui há mais de 10 anos, além de atribuir ao Lulla e à DiLLma algo que não pertence exatamente a eles.

Assim, discorro:

1) O artigo articula muito bem índices que PODEM (mas não necessariamente VÃO) determinar desempenhos esportivos, pois estes dependem de muitos fatores subjetivos. Lembro aqui a nossa Seleção de Futebol que não ganhou a Copa do Mundo em 82, embora seja comparada com a de 58 e 70, em uma época (1982) em que o futebol jogado no mundo já vinha declinando em qualidade.

2) Corroborando o anunciado acima, lembro que nestas Olimpiadas de 2012, atletas que eram considerados "pule de dez" para o Ouro ou outras medalhas, não conseguiram o intento e um desconhecido, como aquele das argolas, ganhou o Ouro na modalidade.

3) Outrossim, o desfecho do artigo, oracular, ainda incorre no equívoco de atribuir "aos governos Lulla e DiLLma" o atributo de terem "tirado milhões da miséria", o que não é verdade nem em termos relativos e nem em absoluto, e ainda projeta que este modelo nos trará bons resultados em....2024.

4) Explicando a assertiva acima, repito:

a) Relativamente ao que está sendo exonerado do país em termos de recursos financeiros e monetários, além de um "passivo futuro" em termos de degradação e exaustão ambiental, estamos ficando mais pobres, afinal não se destrói um Cerrado, uma Mata Atlântica e uma Amazônia (para ficar só nestes biomas máximos), sem pagarmos a conta mais tarde, aliás, as futuras gerações pagarem a conta, quando nós de 50 anos para cima já estivermos mortos ou senis a ponto de nada entendermos.

b) Relativamente ao que se entrega ao mundo corporativo em $Bilhões, através de dinheiro lavado, renúncias fiscais, e outros artifícios, não enriquece sociedade alguma, ao contrário, a empobrece.

c) Adotar os índices e impressões divulgadas por estes governos "atestando" que muitos saíram da miséria" é, no mínimo, querer ser enganado ou enganar os outros. Ter celulares pré pagos (80% dos que circulam) pagando três vezes mais o impulso, consumir refrigerantes, cerveja, biscoitos de açúcar e trigo vagabundo, beber MENOS LEITE, e manter índices irrisórios no c0onsumo de proteína animal não são, definitivamente, índices de "saída da miséria", mas sim de "meios que enganam a fome, sem alimentar o ser humano".

d) Continuando, atribuir a Programas como faz o governo, ao tal Bolsa Carinhoso (ou sei lá que diabo de nome tem mais esta demagogia), dando R$2,03 ao dia para cada criança de 0 a 6 anos, é de nos fazer chorar, principalmente se compararmos ao tipo de cuidado que um país paupérrimo como Cuba dispensa aos seus petizes, com todas as críticas que poderíamos ter a Ilha, se não tivéssemos o pudor e respeito que temos à luta mundial anti imperialista.

Em resumo, Paulo Metri incorre no erro de atribuir aos governos, aqueles avanços, ou ao menos aquelas situações de consumo perverso (a taxa de obesidade nutricional só aumenta entre nós, com forte indicativo de desnutrição galopante), confundindo que a Sociedade se move e se ajeita APESAR dos governos, e não por força deles.

Assim, Paulo Metri quase induz a um desavisado que para conseguirmos medalhas nas Olimpíadas de 2024, é necessário que mantenhamos este "nível de desenvolvimento" dos governos Lulla e DiLLma, sem atentar ao detalhe que estes dois governos receberam e recebem ordens de "fora prá dentro", desde os seus primórdios, estando o Estado Brasileiro totalmente sequestrado pelas corporaç~ioes.

É bom lembrar que "o nível de desenvolvimento "saudado por Paulo Metri é a custa da DESINDUSTRIALIZAÇÃO do Brasil e apoiado em Bolsas Esmolas que, se fossem um meio e não um FIM, poderiam ser aceitas. Além do que as chamadas políticas compensatórias nada mais são do que artifícios criados por Henry Kissinger, em documento assinado por ele, no chamado Consenso de Washington, em 1982.

Apoiar este nível de desenvolvimento de Lulla e DiLLma, propalado por Paulo Metri, em troca de meia dúzia de medalhas em uma competição de aspecto, estética e cunho fascista como são as Olimpíadas é muito pouco a oferecer ao Povo Brasileiro.
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