Brasil Olímpico: entre o Cielo e o Inferno

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Bruno Padron, Porpeta
05/09/2009

 

Acabou na última semana o Campeonato Mundial de Judô, que sucedeu os Mundiais de Natação e Atletismo. Esportes onde o Brasil costuma colecionar medalhas e atletas de ponta. Porém, somente a natação nos deu medalhas. Nos demais, passamos em branco. Péssima notícia para uma das candidaturas favoritas à sede dos Jogos Olímpicos de 2016 e reflexo de que algo não anda bem em nosso esporte.

 

Em nossa história olímpica, o Brasil sempre revelou alguns talentos esportivos que quase nunca se reverteram em popularização de sua prática e formação de novas gerações recheadas de atletas campeões.

 

Alguns esportes possuem maior freqüência na formação de bons atletas, devido à estrutura de poucos clubes no país e à possibilidade de alguns esportistas saírem do país atrás de melhores condições para treinar e viver.

 

Nos últimos 20 anos, o único esporte que se desenvolveu a ponto de tornar-se o segundo mais popular no Brasil foi o vôlei. Desde a geração de ouro em Barcelona-92, deu-se uma sucessão de gerações vitoriosas nas quadras que tomaram o lugar do basquete no coração dos brasileiros. Hoje, o voleibol brasileiro é, notoriamente, uma referência para todo o mundo.

 

Existem outros esportes onde o Brasil figura entre os melhores, mas sua penetração na sociedade é ínfima. A vela e o hipismo são esportes cujas condições sociais de seus praticantes superam, e muito, a média do povo brasileiro.

 

Dentre outros esportes mais populares, vimos a queda livre do nosso basquete que desde Atlanta-96 sequer classifica-se para as Olimpíadas. Para piorar, vimos nossos hermanos argentinos tornarem-se soberanos no continente.

 

A natação é um esporte que sempre nos garante algumas medalhas, e não nos decepcionou no mundial de esportes aquáticos em Roma. Cesar Cielo nos deu 2 ouros, nos 50 e 100m livres, com direito a recorde mundial nos 50, além da prata de Felipe França nos 50m peito e o bronze de Poliana Okimoto na maratona aquática.

 

Foi o melhor desempenho do país na história da competição, mas é bom lembrar que Cesar Cielo quase teve que parar de competir quando mais jovem por falta de estrutura para continuar. Há anos ele treina nos Estados Unidos e hoje é um fenômeno das piscinas.

 

Outro esporte que sempre nos deu grandes competidores é o atletismo. Somos o país de Adhemar Ferreira da Silva, João do Pulo, Joaquim Cruz, dentre outros que, se não ganharam o ouro olímpico, eram respeitados no mundo esportivo.

 

Atualmente, somos campeões olímpicos com Maurren Maggi, no salto à distância, além de termos outros talentos de grande porte, como Fabiana Murer no salto com vara e Jadel Gregório no salto triplo.

 

Fomos ao mundial de atletismo, em Berlim, com a certeza de trazer para cá algumas medalhas, mas o imponderável juntamente com o previsível nos traíram.

 

Maggi sentiu uma contusão no joelho ao correr para o salto. Murer teve problemas com sua vara e foi desclassificada ao derrubar o sarrafo pela terceira vez. Jadel também sentiu uma contusão.

 

Além disso, o que se viu foi uma delegação enorme, mas sem condições de brigar por medalhas. Resultado: nenhuma medalha!

 

Depois veio o judô, outro tradicional esporte colecionador de medalhas olímpicas, sendo grande parte delas de ouro.

 

O Brasil tinha em sua delegação alguns favoritos às medalhas e dois atuais campeões mundiais. Tiago Camilo e Luciano Corrêa, desta vez, não chegaram nem próximos do bronze.

 

Mais um mundial, mais um esporte onde temos tradição, mais nada além disso. Zeramos no quadro de medalhas!

 

Os resultados nestas competições nos fazem pensar sobre o caminho que trilhamos em nosso esporte para, enfim, sediarmos uma Olimpíada.

 

Mais importante do que a possibilidade de sediar os dois maiores eventos esportivos do planeta (Copa do Mundo e Jogos Olímpicos) é como cuidamos da formação de jovens valores no esporte. Em quais condições se encontram nossos aparelhos esportivos espalhados pelo país? Qual o investimento feito na base do nosso esporte?

 

Ao ver Cielo se tornar o homem mais veloz das piscinas, com patrocínios e locais para treinos adequados, podemos ser levados a pensar que estamos avançando no campo esportivo de forma significativa. Mas basta verificarmos a história de cada um destes atletas e descobrimos que toda sua trajetória, muitas vezes, passa longe do Brasil.

 

Os nossos investimentos ainda se concentram nos esportes de alto rendimento, e nos atletas que se destacam. Fora isso, o Brasil passa por sérias dificuldades.

 

Falta de estrutura para treinos, de recursos, de espaços suficientes para trazer nossa juventude para a prática esportiva e de maior diversidade no incentivo às modalidades são alguns dos nossos problemas.

 

Além disso, as Confederações dos mais variados esportes e, principalmente, o COB (Comitê Olímpico Brasileiro) enxergam, através de suas lideranças, na prática esportiva uma grande oportunidade de "crescimento pessoal". Tanto que os dirigentes passam anos e anos à frente das entidades, justificando nossas derrotas e prometendo mudanças, quando na verdade a mudança deveria começar por eles mesmos.

 

Exaltamos nossas vitórias, como se estas fossem realmente nossas, mas na verdade são fruto de esforços pessoais de nossos atletas que, assim que dão resultado, são rapidamente recompensadas com patrocínios e mimos dos dirigentes e da imprensa "oficial". Pouco se fala sobre as dificuldades que encontraram quando eram desconhecidos.

 

E as mesmas dificuldades são observadas em todas as modalidades, sem distinção.

 

Devemos pensar, daqui por diante, em quais condições estão nossos atletas, não os de ponta, mas a garotada que se esforça para treinar em seu esporte. Com a qualidade de vida que o esporte pode trazer e como a juventude pode se apropriar do esporte. Na importância que os Jogos Olímpicos e a Copa do Mundo podem ter para o desenvolvimento de um programa esportivo para o nosso povo, além dos avanços sociais que devem vir e, principalmente, permanecer.

 

Acabar com a farra das entidades esportivas, que no Pan do Rio nos deram um péssimo exemplo, tanto na sangria dos recursos públicos obtidos por meio de chantagem aos governos, como no que vem sendo feito com as arenas construídas para os jogos, com várias entregues à iniciativa privada praticamente de graça.

 

Não promover uma higiene social feita nas comunidades mais pobres, onde a atuação policial visava fundamentalmente afastar o povo das comunidades dos jogos. E essa higienização deve acontecer em maior escala na Copa do Mundo em 2014.

 

O governo deve estar atento aos gastos desses eventos e não cair na chantagem e financiar a farra dos dirigentes de plantão.

 

Se tudo isto estiver no pacote, que sejam muito bem-vindos os Jogos Olímpicos e a Copa do Mundo.

 

Caso contrário, que alguém nos ajude...

 

Bruno Beneduce Padron é bancário. E-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

 

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