Correio da Cidadania

Mostra de filmes homenageia maior complexo de estúdios de Moscou

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Na Cinemateca Brasileira, de 13 a 19 de novembro, serão exibidos,
com entrada franca, dez longas-metragens russos inéditos no Brasil.

 

A Cinemateca Brasileira vai lembrar, com exibição de dez longas-metragens produzidos na antiga União Soviética e na Rússia contemporânea , os 90 anos de criação da Mosfilm (Moscou Filmes), uma das mais antigas e atuantes produtoras de cinema do mundo.

 

A seleção acolhida pelo Núcleo de Cultura da UMES (União Metropolitana de Estudantes – São Paulo) parte de um clássico da fase muda e revolucionária, “Linha Geral”, de Serguei Eisenstein (co-dirigido por Grigori Aleksandrov), e chega ao recente “Tigre Branco”, de Karen Shakhnazarov, indicado, ano passado, a disputar vaga no Oscar de melhor filme estrangeiro.

 

No recheio da mostra-homenagem “Mosfilm 90 Anos” estão títulos que representam todas as fases de atuação da poderosa produtora moscovita, ainda hoje uma das mais ativas da Europa; produções de diversas épocas (fases silenciosa e sonora), diferentes estilos e gêneros variados (drama épico, musical, comédia, documentário), todos assinados por diretores consagrados.

De acordo com Caio Plessmann, da UMES, “a prioridade de escolha das obras recaiu sobre os filmes inéditos no circuito comercial brasileiro”.

 

“Linha Geral” representa a década de 1920, quando a URSS vivia os anos febris de desconstrução do passado czarista. Diretores como Eisenstein, Pudovkin, Dziga Vertov e Dovjenko comandavam uma das mais importantes revoluções estéticas da história do cinema. Inventar era o que importava. Num manifesto daqueles anos de maior liberdade, eles propunham “a criação de um novo contraponto orquestral de imagens-visões e imagens-som”. Um cinema de pura invenção formal e política. Obras-primas como “O Encouraçado Potenkin”, “A Mãe”, “O Homem e sua Câmara” (eleito este ano, pelo BFI e revista Sight and Sound, o maior documentário de todos os tempos) e “Terra” vieram à luz e colocaram a Escola Soviética (também conhecida como Formalismo Russo) nos compêndios da história do cinema.

 

Década a década

 

A década de 30 marca presença na Mostra Mosfilm com “Lenin em Outubro”, de Mikhail Romm. O líder da Revolução Bolchevique morrera em 1924. Stálin assumira o comando da URSS e os ventos sopravam em outra direção. O Formalismo Russo dava lugar ao Realismo Socialista. A censura ampliava sua vigilância.

 

Os anos 40 se fazem representar por dois filmes: “Às Seis da Tarde, Depois da Guerra”, de Ivan Pyryev (1944) e “Primavera”, de Grigori Aleksandrov, um dos mais importantes parceiros de Eisenstein (o maior colaborador do genial cineasta foi o fotógrafo Eduard Tissé).

A década de 50 será lembrada por um filme do mestre Pudovkin – “O Retorno de Vassily Bortnitov” (1952) – menos conhecido que “A Mãe” e “Tempestade sobre a Ásia”. O grande realizador soviético enfrentou os tempos difíceis em solo pátrio. Não tentou, como Eisenstein, buscar novos ares na América do Norte (onde filmou o inconcluso “Que Viva México!”).

 

Para representar os anos 60, Mikhail Romm volta com um dos mais importantes documentários sobre o anti-semitismo nazista: “O Fascismo de Todos os Dias” (1965). Paulo Bezerra, o grande tradutor brasileiro de Dostoiveski e Mikhail Bakhtin, assistiu, muitas vezes, em Moscou a este documentário, cujo título, para ser fiel ao original, seria “Fascismo Sem Máscaras”. Ele se lembra de ver o filme, que qualifica como “grandioso”, em salas lotadas de Moscou. “Na saída, os debates eram acalorados, pois muitos enxergavam pontos em comum entre o nazismo e o stalinismo”.

 

A década de 70 tem representante bem mais leve: “Doze Cadeiras”, do cineasta Leonid Gaidai, autor de “Vessiôlie Rebyáta” (“Rapaziada Alegre”) eleito, em 1995, ano do centenário do cinema, “a maior comédia russa de todos os tempos”.

 

Os anos 80 se fazem representar por uma versão de Gleb Panfilov para “A Mãe”, romance de Máximo Gorki (que Pudovkin transformou num clássico do cinema e Bertold Brecht numa peça famosa). Nos anos da glasnost e da perestroika, um dos filmes de Panfilov foi lançado no circuito de arte brasileiro (“Tema”).

 

A década de 90 – com a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas esfacelada e a Mosfilm cambaleante, mas ainda de pé – marca presença com “Sonhos”, de Karen Shaknazarov & Alexsander Borodyansky (1993).

 

Os anos 2000 comparecem com “Tigre Branco”, também de Karen Shaknazarov. O cineasta, que os cinéfilos brasileiros conhecem pela comédia do absurdo “Cidade Zero”, é o presidente da Mosfilm desde 1998.

 

Para acompanhar a mostra em homenagem aos 90 anos da produtora moscovita – que acontece do dia 13 até o dia 19, na Cinemateca Brasileira, com entrada franca – estará no Brasil o vice-diretor da empresa, Igor Bogdasanov.

 

A Mosfilm

 

No dia 30 de janeiro de 1924, deu-se a estreia do longa-metragem "Nas Asas" (Boris Mikhin). Por isto, a data foi considerada simbolicamente como o dia do nascimento da "Mosfilm" (resultado da unificação da Fábrica 1 e Fábrica 3, do Goskino, o Comitê Estatal de Cinematografia).

 

A imagem "O Operário e a Camponesa" – escultura de Vera Mukhina – apareceu pela primeira vez como emblema visual do complexo de estúdios, em 1947, na apresentação do filme "Primavera" de Grigori Aleksandrov.

 

Durante os últimos 90 anos (1924-2014) foram criados nos Estúdios Mosfilm mais de 2.500 longas-metragens. Este acervo possibilitou a formação de várias gerações de cineastas, técnicos, pesquisadores e cinéfilos. Em seus múltiplos estúdios, em diferentes anos, trabalharam diretores, cujos filmes fazem parte da história do cinema soviético e mundial.

Os mais famosos são Eisenstein, Dovjenko, Pudovkin, Ivan Pyriev, Aleksandrov, Mikhail Romm, Grigori Chukhrai, Leonid Gaiday, Mikhail Kalatozov (de “Quando Voam as Cegonhas”, premiado em Cannes, e “Soy Cuba”), Serguei Bondarchuk e Andrei Tarkovsky.

Entre os prêmios recebidos pelo estúdio estão o "Leão de Ouro" de São Marcos, a "Concha de Ouro" de São Sebastião, a "Palma de Ouro" de Cannes, e os "Oscar" da Academia de Hollywood.

 

A Mosfilm, que nasceu como uma empresa do Estado soviético, não foi privatizada. Segue sendo uma produtora estatal, orgulhosa de ser, ainda hoje, o maior complexo de estúdios da Rússia e um dos maiores da Europa, contando com cidades cenográficas e equipamentos de alta tecnologia que lhe permitem realizar o ciclo de produção do cinema em sua totalidade.

 

Coleção em DVD

 

O Centro Popular de Cultura da UMES (CPC-UMES) vem lançando, no Brasil, discos, livros e DVDs de artistas brasileiros e alguns internacionais.

 

“Já licenciamos para o DVD” – conta Caio Plessmann – “quatro títulos russos inéditos no Brasil. E pretendemos licenciar outras produções. Durante a Mostra 90 Anos da Mosfilm, que acontece em diversos países do mundo, vamos lançar o DVD de “A Mãe”, de Gleb Panfilov, terceira e derradeira versão cinematográfica do romance de Gorki. Nosso catálogo, aos poucos, vai se multiplicando”.

 

Caio Plessmann lembra que “à exceção da produção soviética dos anos de 1920 e de filmes isolados de Grigori Chukhrai, Mikhail Kalatozov, Andrei Tarkovsky, Aleksandr Sokurov e, mais recentemente, de Andrey Zvgagintsev (que acaba de vencer o Prêmio da Crítica, na Mostra de Cinema de SP, com “Leviatã”), a cinematografia russa permanece praticamente desconhecida no Brasil”. Apesar de seu “elevado valor artístico e cultural”.

 

Ficha Técnica

 

Mostra Mosfilm – 90 Anos

De 13 e 19 de novembro, na Cinemateca Brasileira (Largo Senador Raul Cardoso – 207, Vila Clementino – São Paulo).

Entrada gratuita.

Todos os filmes serão exibidos com legendas em português

 

A mostra, filme a filme

 

* A Linha Geral, de Eisenstein & Aleksandrov, 1929, 121 min. Com M. Ivanin, Konstantin, Vasilyev,Vasili, Buzenkov, Nejnikov. O diretor de “Greve”, “Potenkin” e “Outubro” realizou “A Linha Geral” na zona rural. Seu tema é a coletivização da agricultura. A chegada de uma desnatadeira e um trator tem a missão de modificar tradicionais procedimentos dos camponeses. Depois deste filme, Eisenstein tentaria realizar “Que Viva México!” (1931), no país asteca, e “O Prado de Beijing”, na URSS (1935). Ambos ficariam inacabados. Antes de morrer, em 1948, aos 50 anos, o genial cineasta realizaria dois épicos históricos (“Alexandre Nevsky” e “Ivan o Terrível”, este em duas partes).

 

Lenin em Outubro, de Mikhail Romm ,1938, 108 min. Com Yelena Shatrova, Nikolai Svobodin, Vladimir Pokrovsky, Semyon Goldshtab. Dez anos depois do "Outubro", de Eisenstein, épico que atribuiu às massas trabalhadoras o papel de protagonistas da História, Romm aceita o desafio de individualizar e dar vida à figura de Lenin.O cineasta iniciou sua carreira em 1934, com adaptação de um dos melhores contos de todos os tempos, “Bola de Sebo”, de Guy de Maupassant.

 

* Às Seis da Tarde, Depois da Guerra, de Ivan Pyriev, 1944, 94 min. Com Yevgeni Samojlov, Marina Ladynina, Ivan Lyubeznov. Musical sobre a saga de dois amantes que, separados pela guerra, prometem reencontrar-se no Dia da Vitória. O cineasta dedicou boa parte de sua carreira às comédias satíricas. Numa segunda fase, realizou adaptações de romances de Dostoievski para o cinema.

 

* Primavera, de Grigori Aleksandrov, 1947, 104 min. Com Liubov Orlova, Nikolai Cherkasov, Faina Ranevskaya e Rostislav Plyatt.Quarta comédia musical estrelada por Liubov Orlova, sob a direção de Aleksandrov. A história se passa nos primeiros anos da reconstrução da URSS, devastada pela Segunda Guerra Mundial. Da obra individual de Aleksandrov, o título mais festejado é “Veslvolve Rebyata” (“Rapaziada Alegre”). O pesquisador Jean Tulard tem este filme, lançado na França com o título “Jovens Alegres”, como o melhor do realizador soviético.

 

* O Retorno de Vassili Bortnikova, de Vsevolod Pudovkin, 1952, 82 min. Com Sergei Lukyanov, Natalya Medvedeva, Nikolai Timofeyev e Anatoli Chemodurov. Dado como desaparecido na guerra, Vassili Bortnikov regressa ao lar e encontra a mulher casada com outro. Último filme do lendário diretor dos clássicos "A Mãe" (1926) e "Tempestade Sobre a Ásia" (1928).

 

* O Fascismo de Todos os Dias (ou “Fascismo Ordinário”), de Mikhail Romm, 1965, 130 min. Narrado pelo próprio diretor, um russo de origem judaica, este clássico do documentário soviético soma registros da perseguição nazista aos judeus, “elaborando sofisticadas inovações formais”. O filme é considerado por muitos estudiosos do cinema como “um dos mais profundos, completos e impactantes documentários produzidos sobre o nazismo, suas causas, características e consequências”. Romm, além de narrar o filme, “faz comentários pessoais sobre a ascensão de Hitler, o arianismo e o anti-semitismo”.

 

* As Doze Cadeiras, de Leonid Gaidai, 1971, 161 min. Com Archil Mihailovich Gomiashvili e Sergei Nikolaievich Filippov. Na Rússia Soviética, ex-aristocrata procura os diamantes escondidos pela sogra. Este filme, baseado no famoso romance de Ilia Ilf & Evgueni Petrov, foi adaptado nos mais diversos cantos do mundo (no Brasil, teve Oscarito no elenco; em Cuba, sua versão foi comandada pelo mestre Tomás Gutierrez Alea, e nos EUA deu origem a “Banzé na Rússia”, de Mel Brooks). Gaidai, que lutou e foi ferido na Segunda Grande Guerra, começou sua carreira como ator. Nos anos 50, seus filmes tiveram reconhecimento modesto. A partir dos anos 60, reuniu time de grandes comediantes e produziu os maiores campeões de bilheteria da era soviética. Suas comédias venderam mais de 600 milhões de ingressos nas 15 Repúblicas Soviéticas e foram exportadas para vários países. Uma delas, “Brilliántovaya Ruká” (literalmente: “Mão Brilhante”), de 1968, foi eleita a “melhor comédia russa de todos os tempos”.

 

* A Mãe, de Gleb Panfilov, 1989, 200 min. Com Inna Churikova (mulher do cineasta), Viktor Rakov, Aleksei Buldakov, Dmitry Pevtsov. Egresso do poderoso VGIK (Instituto Estatal de Cinema), onde também se formaram Klimov, Tarkovsky, Chukhrai, entre outros expoentes de sua geração, Panfilov realiza, após Pudovkin (1926) e Mark Donskói (1956), a terceira filmagem do célebre romance de Máximo Gorki.

 

Sonhos, de Aleksandr Borodyanskiy e Karen Shakhnazarov, 1993, 78 min. Com Oleg Basilashvili, Lyudmila Mordovinova, Armen Djigarhanyan e Arnold Ides. No final do século 19, a Condessa Prizorovu é atormentada por picantes sonhos, nos quais se vê transportada à Rússia pós-soviética. O filme é definido como “uma ácida reflexão sobre o rumo tomado pela restauração capitalista”.

 

* Tigre Branco, de Karen Shakhnazarov, 2012, 104 min. Com Gerasim Arkhipov, Aleksandr Bakhov, Vilmar Bieri, Hans-Georg von Friedeburg. O cineasta mescla filosofia e mistério nesta batalha fantástica entre o condutor Naydenov, que dirige um “tanque fantasma” alemão nos dias finais da Segunda Guerra Mundial. Indicado pela Rússia ao Oscar de melhor filme estrangeiro.

 

PROGRAMAÇÃO:

 

Quinta, dia 13

 

20h00 – abertura com “Tigre Branco”

Sexta, dia 14

 

17h00  – “A Linha Geral” 
19h30 –  “Lenin em Outubro”
21h30  – “Às Seis da Tarde Depois da Guerra”

Sábado, dia 15

 

16h00 – “Primavera” 
18h00 – “O Retorno de Vassily Bortnikov” 
20h00 – “O Fascismo de Todos os Dias”

Domingo, dia 16

 

16h00 – “As 12 Cadeiras”
19h00 – “Sonhos”

Segunda, dia 17

 

19h00 – “A Mãe”

Terça, dia 18

 

19h00 – “Sonhos” 
21h00 – “O Fascismo de Todos os Dias”

Quarta, dia 19

 

19h00 – “Tigre Branco”

 

Por Maria do Rosário Caetano, do Brasil de Fato.

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