Correio da Cidadania

As esquerdas no México e no Brasil

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Estou no México realizando pesquisa sobre as escolas zapatistas. Encontrei muitas dificuldades para adentrar nos centros dos municípios autônomos zapatistas. Eles vivem um momento de fechamento e, assim, tive de vivenciar uma realidade de pessoas mascaradas que praticamente se recusavam a conversar. Mas isto fica para outro artigo.

 

Por ora, apresento um quadro da esquerda mexicana e faço uma comparação com a brasileira. Esclareço que a política é dinâmica e, consequentemente, não é necessário dizer que as posições das esquerdas são eivadas de táticas e estratégias diferentes.

 

O México vive uma realidade política em que duas esquerdas, incomunicáveis, coexistem. Uma é a esquerda institucional, que atua com objetivos eleitorais e poderia ser enquadrada como uma social-democracia tardia, moderada e liberal, porém com maiores preocupações sociais. Tem à frente o PRD e seu candidato à presidência Lopez Obrador, que nas últimas eleições perdeu para Calderón por uma diferença de 1% dos votos. Seria a esquerda moderada, “responsável” e oficial. É apoiada, dentre outros, pelo Partido Comunista Mexicano.

 

A outra esquerda, não institucional e socialista, não participa de eleições e nem apóia candidatos. Tem o zapatismo como uma forte referência. É apoiada pelo EZLN, pelo Congresso Nacional Indígena (CNI), que representa a ala esquerda do indigenismo mexicano, por jovens desvinculados de partidos, como os anarco-zapatistas (apesar de o zapatismo não ser anarquista) e por pequenos partidos, como o Partido Comunista do México. Recusam-se a aceitar as diversas bolsas para os pobres que são distribuídas no México. Atualmente atuam em torno da “Outra Campanha”, proposta pelos zapatistas.

 

Sua principal debilidade seria a pouca influência no movimento sindical mexicano. A esquerda brasileira apresenta um quadro com proximidades e diferenças. Se no México temos duas posições, no Brasil teríamos três. Pela direita, temos uma “esquerda liberal”, com preocupações sociais e de mercado e muito hegemônica no atual contexto. É liderada pelo PT e apoiada pelo PSB e o PCdoB. Tem o apoio das mais importantes centrais sindicais, como a CUT, e da UNE. É fortemente institucionalizada e está no poder desde o início dos anos 2000. Ainda possui quadros da esquerda socialistas, mas são muito minoritários. Poderíamos, grosso modo, fazer um paralelo com o PRD e seu candidato Obrador.

 

Pela esquerda socialista, não temos uma esquerda radicalmente anti-institucional, como no México, nem, logicamente, um movimento como o zapatismo, mas temos dois campos. No primeiro, temos uma esquerda partidária, aguerrida e importante, mas com pouca base social e sindical. É o caso do PSOL, PSTU e do PCB. Fazem oposição ao lulismo pela esquerda e buscam construir uma “Frente de Esquerda”, apesar das dificuldades decorrentes das diferenças entre eles. Participam das eleições com candidaturas próprias.

 

Ainda no campo da esquerda socialista, temos uma segunda posição, hegemonizada pelo MST, pela Consulta Popular e pela Assembléia Popular (o MST participa de ambos). Esta última agrega importantes movimentos sociais e pastorais. Diferenciam-se da “Frente de Esquerda” pelo fato de, apesar de críticos, não fazerem oposição explícita ao lulismo e, eleitoralmente, defenderem o chamado “voto útil” nos candidatos petistas para derrotar os candidatos do PSDB. Analiso que são fundamentais, mas a maior fragilidade estaria no não rompimento explícito com o lulismo e o conseqüente apoio eleitoral, o que pode levar a confusões ideológicas para as bases.

 

Assim, temos dois quadros em que a esquerda se move de modos distintos e próximos. As realidades dos países apresentam diferenças, mas também muitas semelhanças. Assim, temos uma “esquerda”, em ambos os países, institucional e eleitoral, liberal e hegemônica e, pela esquerda socialista, temos diferenças nas ações táticas e estratégias. Ainda é difícil traçar um quadro, mas, com todas as dificuldades, a esquerda socialista se move em ambos os países.

 

Antonio Julio de Menezes Neto é sociólogo e professor na UFMG.

 

 

 

 

 

 

Comentários   

0 #4 Falta Nós!!!Raymundo Araujo Filh 18-06-2011 14:20
Prof. Julio

No seu artigo, ainda falta um setor que, mesmo muito fragmentado, tem atuado e mantido viva a chama de algumas mobilizações no país, algumas de caráter ainda periféricos, mas todas capazes de aqui e ali de mobilizar boa parte, principalmente da juventude brasileira, quais sejam a Luta Pelo Passe Livre estudantil, a que ficou conhecida como a Marcha da maconha, Movimentos anti Homofobias (não necessariamente a favor do exibicionismo sexual puro e simples), e Movimentos Pró Direito ao Aborto, entre outros.

Mas, outras frentes de crucial importância já estratégica se colocam no cenário e não foram descritos pelo senhor, quais sejam, os dos Trabalhadores das Obras Megalô das Hiderletricas, com o Jirau, por exemplo e, mais ainda, o ORGANIZADO Movimento dos Sem Teto que têm aperecido de forma corajosa e aguerrida, estes rejeitando à priori e na prática, a política institucional e parlamnentar, por isso tão abandonados.

E, acrescento, se me permite, que nem todos os Anti capitalistas são, necessaruiamente Socialistas. O Mov. Anarquista no Brasil não é morto, mesmo qua ainda não organicamente muito vvisível, mas dando sinais inequívocos de existência, talvez sendo, a meu ver, o que mais se aproxima ideologicamente do EZLN e do Comandante Marcos.
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0 #3 Dilma é o Paradoxovanderlei 17-06-2011 04:05
Dilma Roussef é o paradoxo.

Se elege não se sabe da onde, dizem que já foi torturada quando assaltava banco e sequestrava Americanos.

A ONU pede Investigações contra Generais da Ditadura no Brasil.


Dilma, Agora é contra a abertura dos arquivos da ditadura sobre torturas cometidas pelas forças armadas.

O Brasil se asemelha à Líbia, onde o Rei deposto pede de volta o governo com parceria com a ONU e OTAN.

A Anístia geral e irrestrita para todos os exilados provam que foi uma ação para retardar o processo na ONU .
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0 #2 Voto útilJosé Cristian Pim 06-06-2011 22:13
Consegui transmitir a pessoas próximas nas últimas eleições que o voto no PSOL era voto útil, sim. Fico muito feliz com a representação do PSOL no Congresso Nacional. Distribuí meus votos entre PSOL, PSTU e PCB, com vistas a fortalecer estes partidos tão necessários na contraposição de idéias. No Brasil se tenta incutir na mente da população que só existem duas posições (PT x PSDB). Na política brasileira, existem projetos à esquerda do PT. Plínio de Arruda Sampaio, por exemplo, foi muito feliz todas as vezes que fora provocado a tomar partido de um dos dois lados da pseudo-disputa ideológica entre tucanos e petistas. Plínio optou pelo lado do povo, claramente. No meio sindical, no entanto, vejo com muito pesar a tentativa da CUT de se hegemonizar como única representante dos trabalhadores, principalmente, por agir como correia de transmissão do PT. O trabalho de base da Conlutas é muito reprimido pelas forças do Estado. O "sindicalismo de resultados" da CUT não é deficiente.
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0 #1 RE: As esquerdas no México e no Brasiltheophile lourenco 06-06-2011 12:00
Caro Antonio,
Seu artigo elucidou algumas dúvidas que eu tinha a respeito das organizaçoes de esquerda no Brasil. Sou professor da rede publica, e confesso que que é muito complicado participar do sindicato, face a enorme diversidade de posicoes discordantes.Como representante sindical , fico atordoado com as indagaçoes dos meus colegas de base sobre as disputas politicas. E mesmo discordando da posicao da esquerda tradicional, como realizar uma defesa da esquerda socialista quando esta nao se preocupa em se tornar compreendida? Por outro lado qualquer critica mais a esquerda que se faça ao Pt , lá vem a acusaçao de ser direitista.Como criticar o pt sem ser acusado de direitista? Como criticar o pt de uma forma que o povo nao se bandeie para a direita como aconteceu na Espanha? estes sao alguns dos problemas que a meu ver se colocam na ordem do dia para os socialistsa.
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