Correio da Cidadania

Independência nacional

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Já não estamos tão paralisados. Manifestações e protestos começam a se multiplicar, nas mais diversas áreas sob o ataque da barbárie. Até o Congresso segura algumas insanidades, embora deixe passar outras. O próprio STF se prepara, no seu ritmo, para recuperar a primazia da Constituição e estancar as práticas inadmissíveis que permitiram a um alucinado se tornar presidente.

O número de arrependidos aumenta, inclusive entre os que esperavam ganhar mais dinheiro com o novo governo. E se eleva o nível de consciência do desastre na própria base da sociedade, que vive mais concretamente as consequências negativas do debacle econômico, como o desemprego. Denuncia-se cada vez mais direta e claramente o sofrimento causado pelo estímulo da violência e da intolerância. Multiplicam-se ao infinito as analises que identificam causas, cumplicidades e resultados da aventura em que 57 milhões de eleitores empurraram o país, ainda que outros 89 milhões não estivessem de acordo.

Jornais e revistas mudam de lado. Até o mundo lá fora é alcançado pelos estilhaços da insensatez, se escandaliza e começa a defender Bens Comuns da Humanidade que a história colocou sob nossa responsabilidade. Homens e mulheres, jovens e adultos cobertos com o preto do luto começaram a invadir nossas calçadas. Está na hora de encontrar o modo de dar o empurrão final para nossa libertação.

Em muitos países do mundo que sofreram as consequências dos desatinos que levam às carnificinas das guerras, cidadãs e cidadãos descobriram, há mais de cem anos, uma forma de resistir: a desobediência civil. Usando de seu direito humano de não fazer o que atentasse contra seus princípios de consciência, começaram se opondo a impostos que financiassem a violência e em seguida se recusaram a integrar exércitos, e com isso enfraqueceram ímpetos destruidores.

Em nosso país o direito à objeção de consciência e a forma de exercê-lo é pouco conhecido. Mas talvez tenha chegado à oportunidade de descobrir quão poderosa é essa forma de ação política pacífica. Em ações decididas coletivamente e sustentadas por redes de apoio.

Por que jornalistas estão obrigados a difundir decisões absurdas e provocações dos que acham que têm todo o poder para decidir sobre nossas vidas e sobre a própria natureza? Imponhamos a eles o silêncio desaprovador! Por que servidores públicos estão obrigados a fazer o que lhes for determinado se sabem que o objetivo é destruir o que foi conquistado por toda a sociedade? A recusa de estudantes em aceitar um diretor imposto o fez abandonar o posto o mais depressa que lhe foi possível.

Por que funcionários têm de prestar obediência a superiores escolhidos entre os que compactuam com a barbárie? Deixemos eles todos falando sozinhos! Paremos a máquina do governo! Por que os que forem chamados para reprimir ou torturar quem luta pacificamente pela democracia, paz, justiça e liberdade, têm que obedecer a ordens para os fazer calar, até lhes tirando a vida (como ameaçou a nota do governo sobre as manifestações de 7 de setembro em Brasília)? Onde está nossa dignidade de seres humanos capazes de solidariedade? Coloquemos flores nos seus fuzis! E nas mesas dos senadores que votarem contra a reforma da Previdência!

Se os setores sociais acima indicados nos derem o exemplo, todos nós encontraremos formas de exercer a desobediência civil por objeção de consciência, no público e no privado. E nos sentiremos chamados a nos apoiarmos mutuamente, num esforço de cidadania que, não nos enganemos, exigirá coragem. Nossa união fará nossa força!

Chico Whitaker é arquiteto e urbanista, um dos idealizadores da Lei da Ficha Limpa por meio do MCCE – Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral. Também é membro de movimentos antinucleares e do Fórum Social Mundial.

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