Correio da Cidadania

Conquistas da humanidade

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O embrião da forma democrática de governo surgiu em Atenas no século V a. C. Não se tratava da democracia com o conceito de “um ser humano, um voto”, pois as mulheres e os escravos não podiam participar. Aliás, nos dias atuais, ainda há críticas a este conceito de democracia. Contudo, os gregos tiveram o mérito de tentar cercear o poder absoluto do líder, conquistado pela astúcia e força bruta, que se transformava, na maioria dos casos, em um déspota bárbaro. Outras instâncias de poder criadas moderavam o poder absoluto.

Os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade da Revolução Francesa vieram, a partir de 1789, para modificar a organização social e política do Ocidente. Começou com a sociedade francesa, que passou por uma transformação gigantesca, com a perda de privilégio dos aristocratas e religiosos, que foram despojados, em grande parte, do seu poder e riqueza, por ataques de grupos políticos, das massas nas cidades e de camponeses. Esta revolução talvez tenha proporcionado um dos maiores avanços da condição humana da nossa espécie.

Os Pais Fundadores dos Estados Unidos da América defenderam o direito de um povo ter a liberdade de constituir sua nação e de buscar o seu crescimento. Com isso, opuseram-se à dominação de povos por outros povos, ou seja, opuseram-se à colonização. Estes Fundadores, dos quais os mais conhecidos são Thomas Jefferson, Benjamin Franklin, George Washington e Alexander Hamilton, assinaram a Declaração de Independência em 1776 ou participaram da luta contra a dominação inglesa. Este movimento libertário de oposição à dominação colonial inspirou outras colônias a lutarem contra os impérios.

Joaquim José da Silva Xavier tirava dentes, mas implantava sementes de brasilidade no coração de brasileiros. Todo movimento libertário é contra a dominação que diminui a liberdade dos colonizados. Assim, a brasilidade pode ser entendida como o movimento pela reconquista do que pertence aos brasileiros e está sendo usurpado deles. Como é comum aos libertários que confrontam impérios, Tiradentes foi assassinado em 1792, pela forca.

Simon Bolívar foi o libertário que mais descravizou povos da América Latina do jugo da Coroa Espanhola. Entre 1816 e 1826, liderou os povos da Bolívia, da Colômbia, do Equador, do Panamá, do Peru e da Venezuela à independência, e ajudou a lançar nestes países estruturas governamentais de bases democráticas.

Durante a revolução industrial na Inglaterra, no século 18, trabalhadores das indústrias têxteis, iniciaram ações de amparo aos mais necessitados, inclusive aos desempregados, e aceitaram eleger lideranças para representá-los em negociações com os patrões. Foram iniciadas, assim, as atividades dos sindicatos, que, com toda a imperfeição do modelo de representatividade, já ajudou enormemente os trabalhadores na luta contra a ganância de alguns dos representantes do capital.

Marx e Engels lançaram em 1848 o “Manifesto Comunista” e, em 1867, Marx lançou o primeiro livro de “O Capital”, que se trata da melhor crítica ao capitalismo escrita até hoje. A única luta por mais liberdade que é prejudicial à sociedade é aquela pela liberdade econômica, pois ela representa, na verdade, a expansão do direito do dono do capital de explorar a sociedade.

Mahatma Ghandi foi o idealizador e fundador do moderno Estado indiano e o maior defensor do princípio Satyagraha de não agressão ou uma forma não violenta de fazer revolução, baseada principalmente no uso da desobediência civil da massa. O primeiro uso deste princípio ocorreu em setembro de 1906. Enfim, através da sua liderança, Ghandi retirou a Índia da dominação colonial inglesa.

A Revolução Russa de 1917 mostrou que um novo modelo de organização política e social era possível. Teve imenso sucesso nos anos iniciais, mas os germes humanos da ganância por dinheiro e poder atuaram, comprometendo o projeto. Eventualmente, o ser humano ainda não está preparado para o socialismo.

Quando regimes fascistas afloraram na Europa nas décadas de 30 e 40 do século passado, forças antifascistas uniram-se para evitar a involução da sociedade. Foi, então, que ocorreu uma das maiores vitórias libertárias da humanidade, aquela protagonizada pelos Aliados ao derrotarem o nazismo. Infelizmente, o fascismo demorou bem mais tempo em Portugal e Espanha, fazendo sofrer seus povos.

O documento mais lindo da luta por igualdade, fraternidade e liberdade, no meu julgamento, é a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Escrita em 1948, mostra muito daquilo que o fascismo, o autoritarismo, o capitalismo exacerbado, o liberalismo econômico, a experiência comunista do século passado e alguma eventual alternativa de organização política e social esquecida, não garante aos humanos.

Várias outras foram e são as lutas libertárias, como a das sufragistas, a do movimento pelos direitos dos negros, a do combate à homofobia, a do movimento dos sem terra, a dos ambientalistas, entre inúmeras outras. Tantas são estas lutas que a história da humanidade pode ser descrita como a das suas lutas. Por outro lado, não é por falta de lutas que os humanos podem ficar enfadados de viver.

O homo sapiens está na face da Terra há cerca de 300.000 anos. Pode-se dizer que o “período de atividade generosa” de alguns membros de cada geração dura em média 25 anos. Obviamente, alguns passam bem mais que este tempo lutando contra arbitrariedades. Então, já ocorreram em torno de 1.200.000 períodos de contribuição de nossos semelhantes para a “melhoria da humanidade”. Gigantesco patrimônio humanístico, conquistado com muita luta e sofrimento, recebido de heróis e povos heroicos de diversas épocas e localidades corre o risco de ser revertido, em um brusco movimento obscurantista.

    

Paulo Metri

Conselheiro do Clube de Engenharia

Paulo Metri
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